São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Conselhos médicos para cardíacos alviverdes

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

Os palmeirenses terão pela frente uma noite de muito frio e ansiedade. É a partida mais importante dos quase 85 anos de vida de um clube que, tirante um Ramón Carranza aqui e uma Mercosul ali, sempre foi pé-frio nas campanhas internacionais.
Além disso, o jogo de hoje carrega uma interrogação. Depois das belas viradas contra Flamengo, Lusa e Santos, o alviverde perdeu a chance de ir à final da Copa do Brasil e ficou a quilômetros do título paulista. Terá sido apenas acaso ou foi a queda final? Tropeço ou desmoronamento?
É mais um drama para um time que vai acostumando seu torcedor à montanha russa de ir do céu ao inferno e do inferno ao céu. Sem passagem pelo purgatório.
Como tenho a alegre infelicidade de torcer para o Santos, verei o jogo com calma, debaixo de um edredon quadriculado, vestindo algum pijama ridículo e tomando um bom chocolate quente. Talvez até cochile de vez em quando.
Já o palmeirense não. Para este, não há opção. Ficará com os olhos grudados na TV, roerá todas as unhas que encontrar pela frente, seu coração baterá como se fosse um tambor do Olodum, sua respiração parecerá a de um pitbull depois de mastigar uma criança, e ele socará suas almofadas como se elas fossem os vereadores paulistanos que acabaram com a CPI da máfia dos fiscais.
Pois bem, pensando em tal estado de nervos e para evitar enfartes nos corações verdes, preparei uma sequência de exercícios e medicamentos que, espero, ajudem a torcida a sobreviver a esta noite. Ei-los:
20h00: Durante meia hora o palmeirense deve respirar fundo sete vezes e, em cada uma dessas, soltar o ar vagarosamente em três lentas golfadas.
20h30: Hora do jantar. Aconselho massas, que têm boa reserva de carboidratos e farão com que o estômago aguente firme os 90 minutos.
21h00: Tome um copo de suco de maracujá.
21h15: Tome um chá de camomila.
21h29: Como você bebeu muito líquido, vá ao banheiro para não ter que sair da frente da TV no meio do jogo.
21h30: Desligue o telefone -sua mãe que ligue em outra hora para falar da parada cardíaca de seu pai- e sente-se na poltrona na posição do lótus.
22h15: Estamos no meio do jogo. Faça uma caminhada pela casa, para favorecer a circulação sanguínea e desobstruir as artérias. Depois, outro copo de suco de maracujá.
22h30: Deve estar começando o segundo tempo. São os minutos críticos. Caso o Palmeiras ainda não tenha feito os gols de que precisa, o torcedor deve tomar uma cápsula de Cardiotan. Se chegar aos 40min e o jogo estiver indefinido, cinco Infartex. Se houver pênaltis, um frasco de Cardiovitol.
23h00: A partida acabou. Caso seu time não tenha vencido, tome um Prozac. Caso contrário, tome uma bela cerveja e vá dormir, sabendo que o pesadelo da Libertadores acabou, que os vices de 61 e 68 foram vingados e que, mesmo que o time perca a final de domingo, você poderá virar para um corintiano e dizer: ""Esse que vocês ganharam é o título regional, não é? Que bom pra vocês".


José Roberto Torero escreve às quartas-feiras
E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Palmeiras busca seu maior título
Próximo Texto: Tênis - Thales de Menezes: Não é o que parece
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.