São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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FUTEBOL

Corinthians, Atlético-MG e São Paulo reclamam pagamento pela cessão de jogadores para a seleção campeã na Ásia

Times cobram da CBF salário de campeões

FÁBIO SOARES
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Clubes brasileiros que cederam jogadores à seleção pentacampeã estão reclamando da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) o pagamento dos salários de seus atletas referentes ao período de preparação e disputa da Copa.
O Atlético-MG ameaça ir à Justiça para receber cerca de R$ 700 mil. O valor não se refere apenas ao volante Gilberto Silva, único atleta da equipe mineira campeão no Mundial realizado na Ásia, mas também a antigas convocações. "Estamos fazendo um inventário. A CBF não vem cumprindo essa obrigação há muito tempo. Agora, se for necessário, vamos resolver na Justiça", protestou Alexandre Kalil, presidente do Conselho Deliberativo e homem-forte do Atlético-MG.
O Corinthians também cobra de maneira ostensiva. Já enviou um ofício ao departamento financeiro da entidade reivindicando cerca de R$ 900 mil pelas cessões do goleiro Dida e dos meio-campistas Ricardinho e Vampeta, todos eles reservas na equipe do treinador Luiz Felipe Scolari.
O São Paulo, dos convocados Kaká, Belletti (na época jogador do clube) e Rogério, pleiteia timidamente. Um dirigente do clube que preferiu não se identificar teme entrar em atrito com a CBF, mas admitiu não ser a primeira vez que a agremiação ficou sem receber pelos selecionados.
A obrigatoriedade do pagamento pela entidade está prevista no artigo 41 da Lei Pelé. Ele determina que os clubes sejam indenizados com o ressarcimento de todos os encargos previstos no contrato de trabalho dos atletas.
Está previsto também que, se o convocado voltar ao seu time contundido, a entidade continua obrigada a pagar os seus salários, até que ele esteja apto a jogar.
Esse é o caso do goleiro Marcos, que ainda não jogou pelo Palmeiras na Copa dos Campeões por ter voltado contundido do Mundial.
O pagamento dos salários pela CBF, porém, não vale para os atletas que atuam fora do país. Nesse caso, uma determinação da Fifa dispensa o pagamento.
Os clubes podem ainda deixar de bancar os direitos de imagem aos atletas enquanto eles estiverem na seleção brasileira, de acordo com o decreto 2.574.
Se isso ocorrer, o jogador deve cobrar da entidade o pagamento do direito de imagem, isso desde que a confederação responsável pela convocação tenha patrocinador, como é caso da CBF.
"Nós emprestamos à CBF jogadores de alto custo. Até agora não recebemos resposta. Não são só os salários, há também direitos de imagem", reclamou o vice-presidente de finanças do Corinthians, Carlos Roberto de Mello, que apontou reincidência da confederação nessa questão.
Mello afirmou que o Corinthians não costuma cobrar os salários quando os selecionados ficam períodos curtos a serviço da CBF. "Quando ficam por uma semana, tudo bem, mas já recebemos por outras ocasiões em que ficaram mais tempo."
A convocação final de Scolari saiu no dia 6 de maio. A Copa do Mundo acabou no dia 30 de junho. Ricardinho e Vampeta só voltaram a atuar pelo time do Corinthians anteontem, dia 14.
Os são-paulinos voltaram na segunda partida da Copa dos Campeões, contra o Cruzeiro.
Juntos, Rogério e Kaká ganham R$ 280 mil mensais. O lateral vendido ao Villarreal, negociado enquanto estava convocado, recebia aproximadamente R$ 65 mil.
Ninguém da CBF foi encontrado ontem para comentar o assunto. A assessoria de imprensa, informada sobre o teor da reportagem, disse que os responsáveis pela área financeira não poderiam ser localizados no momento.
Já o presidente do Atlético-PR, Mário Petraglia, alegou nunca ter ouvido falar da obrigatoriedade de a CBF arcar com tais custos. "Para mim, a valorização do jogador na seleção já compensa."



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