São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2007

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Porrada

Dono do 1º ouro do Brasil nos Jogos do Rio, Diogo Silva, do taekwondo, ataca cartolas e o governo

EDGARD ALVES
PAULO COBOS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

A primeira medalha de ouro do Brasil no Pan do Rio foi uma pancada nos cartolas do esporte e no governo federal, que se gabam dos recursos cada vez maiores despejados na área.
O paulista Diogo Silva, 25, venceu o peruano Peter Lopez na final da categoria até 68 kg do taekwondo para subir ao lugar mais alto do pódio e ser premiado por um membro do Comitê Olímpico das Bahamas.
Se estivessem presentes -fato comum quando o Brasil ganha medalhas, ainda mais a primeira de ouro-, os cartolas do COB e membros do governo ouviriam um duro ataque às políticas de esporte no país.
Em 2004, quando foi quarto colocado nos Jogos Olímpicos de Atenas, Diogo fez um protesto pela situação do taekwondo com uma luva do grupo Panteras Negras, que lutava pelos direitos nos negros nos EUA.
"Conseguimos melhores condições [em relação a 2004], mas não devido ao departamento administrativo do taekwondo. E sim ao esforço pessoal de cada atleta e do nosso grupo", disse o campeão. "A Confederação Brasileira de Taekwondo não dá acesso ao que nós, atletas, precisamos."
Os recursos da Lei Piva são uma miragem para Diogo. Ele recebe R$ 600 mensais da confederação, mas diz que esse pagamento normalmente só é feito a cada três meses. "Agora, eles acertaram os atrasados justamente para dizer que estava tudo certo na época do Pan. Foram muitos espertos."
A reportagem tentou falar com o chefe da missão do taekwondo no Pan, Mauro Fujiyama, mas ele não atendeu os chamados em seu celular.
O Bolsa-Atleta, programa que o Ministério do Esporte faz alarde no Pan, também não chega ao primeiro ouro do Brasil. Ele estava viajando para competir e perdeu o prazo para renovar sua bolsa na época.
O paulista disse que em 2004 se revoltava ao ver malas de roupas e materiais chegando para atletas de outras modalidades, enquanto os do taekwondo ficavam à míngua.
Sem apoio, Diogo conta com ajudas picadas individuais e teve que adiar o sonho de comprar um carro para a mãe, a responsável por ele praticar taekwondo desde pequeno. "Tinha economizado R$ 5.000 para isso. Ela é manicure, precisa do carro para atender mais clientes. Mas precisei desse dinheiro para investir na minha carreira. Agora, tomara que eu possa comprar o carro para ela."
Diogo vem lutando desde abril com uma fratura em sua mão direita. "Com ele é assim. Enfaixa e vai em frente. Sofreu a lesão competindo na Europa. Depois foi para o Mundial, na China", afirmou o técnico Fernando Madureira da Silva, que também trabalha com Natália Falavigna, que foi campeã mundial dois anos atrás.
Nos últimos dois anos, o campeão pan-americano trocou Campinas, onde mora sua mãe, por Londrina, no Paraná, para dar seqüência aos treinamentos. Diz que lá tem apoio.
Para ganhar o ouro numa categoria que tinha na disputa o cubano Gessler Viera, atual campeão mundial, Diogo precisou ganhar três lutas -além do peruano Lopes, passou pelo gualtemalteco Gabriel Sagastume e pelo dominicano Yacomo Garcia, este o carrasco de Viera.
Em todos os combates o brasileiro teve clara superioridade, contrastando com o que acontece em boa parte dos duelos no Pan, que são marcados por decisões polêmicas dos árbitros.
O taekwondo nacional tenta hoje, com Carlos Isidoro e Érica Ferreira, mais medalhas.


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