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DOSSIÊ RONALDINHO
Havia dias com sinais de depressão, atacante brasileiro teve, na verdade, um colapso nervoso
Ronaldinho não sofreu uma convulsão
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
enviado especial a Paris
Ronaldinho sofreu uma crise
nervosa no último domingo, e não
um distúrbio neurológico.
Seja pela pressão da mídia, dos
patrocinadores e da CBF, seja por
problemas pessoais, o atacante teve um colapso no banheiro do
quarto 290 do Château de Grande
Romaine, em Lésigny, entre as
14h30 e as 15h do último domingo.
O problema não foi novidade
para algumas pessoas da seleção.
Havia alguns dias, andava absolutamente calado na concentração.
Segundo o lateral Roberto Carlos, seu companheiro de quarto, o
atacante tinha dificuldades para
pegar no sono e, quase sempre,
acordava reclamando de cansaço.
No sábado, Ronaldinho estava
visivelmente irritado. Andando de
bicicleta pela área do hotel, foi flagrado batendo a roda dianteira
contra pedras do jardim, em clara
demonstração de descontrole.
No domingo, após o almoço,
quando os jogadores dormiam,
gritos foram ouvidos no jardim.
Era Roberto Carlos, que berrava
da janela do quarto, pedindo por
socorro. Ronaldinho tinha tido o
colapso no banheiro. Depois de alguns jogadores, entre eles Edmundo, Dunga, Leonardo e César
Sampaio, o médico da seleção, Lídio Toledo, chegou ao local.
Tremendo e suando muito, Ronaldinho foi colocado na cama,
onde aconteceu o atendimento
médico. Temendo que fosse um
ataque epilético, o volante César
Sampaio segurou a língua do jogador para evitar que enrolasse.
Depois, aconteceu uma discussão entre os jogadores da seleção
(leia texto à página 4).
Passaram-se alguns minutos, e
Lídio Toledo saiu do quarto. Estava chorando, o que provocou comoção nos funcionários do hotel.
Há versões conflitantes sobre o
que ocorreu em seguida. Ronaldinho teria adormecido, mas há
quem diga o contrário. Uma hora
mais tarde, porém, foi visto no bar
do hotel, tomando suco de laranja.
Demonstrava abatimento, calado, olhando para baixo, conforme
relatos colhidos pela Folha.
Por volta das 16h30, Ronaldinho
sumiu. Sem mesmo o gerente do
hotel ter percebido, havia sido levado em um carro do comitê organizador da Copa à Clínica Des Lillas, na periferia Paris, em companhia do médico Joaquim da Matta
e de um fisioterapeuta da seleção.
Toledo tomou a decisão de levá-lo à clínica para poder ter certeza de que o jogador não precisava
mesmo de algum tipo de tratamento ou medicamento.
Conforme o resultado dos exames, Ronaldinho seria escalado ou
não para o jogo. A preocupação
com doping já vinha desde a semifinal contra a Holanda, quando
surgiu um boato de que o atacante
havia sido pego no exame da Fifa.
Joaquim da Matta tinha ficado
nervoso com o episódio, indício
de que o jogador poderia ter feito
infiltrações no joelho, informação
não confirmada pela Folha.
O próprio jogador admitiu, no
entanto, que havia tomado remédios para a dor no tornozelo até a
última sexta-feira. E que havia interrompido o tratamento por instrução da comissão técnica, que
receava pelo exame antidoping.
Ronaldinho passou por exames,
como tomografia computadorizada e eletroencefalograma, mas nada foi constatado. O jogador jamais foi informado de suspeita de
problemas neurológicos.
As convulsões têm sempre origem neurológica, ou seja, são desencadeadas a partir de algum
problema já existente no sistema
nervoso central, explica o neurologista Getúlio Rabelo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mas o jogador pode ter sofrido
apenas uma síncope (desmaio)
convulsígena, que pode ser causada por uma forte crise nervosa e
apresenta sintomas semelhantes
ao de uma convulsão (perda de
consciência, sudorese, agitação).
Respaldado pelos exames, Joaquim da Matta levou o jogador para o Stade de France, ao qual chegou cerca de 50 minutos antes do
jogo. A comissão técnica se reuniu. O técnico Zagallo perguntou:
"E aí, dá para jogar?". Ronaldinho respondeu: "Sim, estou inteiro." Zagallo escalou Ronaldinho,
e o Brasil perdeu de 3 a 0.
Com a Reportagem Local
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