São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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MATINAS SUZUKI JR.
Perdedores morais

A verdadeira história de Ronaldinho, o jogador mais caro da história do futebol, nesta Copa do Mundo, está para ser contada.
A real história de um conto de fadas às avessas precisa ser dita, não pela crise de pânico (acho que foi isso que ele teve, mas os médicos da mente podem falar melhor sobre isso) antes da final, mas também pela sucessão de boatos sobre o seu real estado atlético durante toda a competição.
É uma história real que reúne todos os elementos para fazer uma grande história de ficção: um menino pobre que fica rico, fama, poder, uma mulher ambiciosa...e, sobretudo, uma história de vencedores e derrotados.
Por um lado, ele, um garoto do bem e ainda um pouco ingênuo, é vítima de toda essa situação -situação que nem ele sabe ainda avaliar direito.
Por outro lado, não há espaço no mundo competitivo e destruidor, para o qual ele nunca cansou de dizer sim, para o pânico.
Só há espaço para a vitória e para a derrota.
Sem querer tirar a responsabilidade pessoal de Ronaldinho em sua própria tragédia, estão também no prontuário de seu estresse as angústias de uma seleção sem grandes alternativas de jogo a não ser as jogadas individuais que ele e alguns outros teriam que fazer para salvar a reputação de "homem iluminado" e um técnico ultrapassado, de uma preparação mal-feita, de uma CBF desmoralizadora para nós, brasileiros, e de um patrocinador fominha, sequioso de vitórias imediatas.
Seria demais para um homem, que dizer para um pobre menino.
A seleção brasileira chocou o mundo com o seu não-futebol na final.
Mas também chocou pela falta de ética esportiva.
Não foi dar as merecidas saudações aos vencedores (como ocorreu com todas as outras seleções perdedoras nesta Copa), e alguns jogadores, como Edmundo, chegaram ao cúmulo da falta de respeito ficando de costas para a entrega do troféu aos franceses.
Por fim, a seleção não foi nem sequer agradecer à torcida brasileira que veio até Paris para apoiá-la.
E, para deixar o vexame completo, abriu, em local e momento inadequados, aquela ridícula faixa bajuladora de João Havelange.
Esta mesma seleção de Ricardo Teixeira e de Zagallo, lembre-se, cometeu um dos maiores atentados à ética esportiva ao não ir receber a medalha de bronze, como se isso fosse uma humilhação, na Olimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos, em 96.
Quando não se tem grandeza na derrota é difícil ser grande na vitória.


Matinas Suzuki Jr., diretor-editorial adjunto da Editora Abril, escreve às quintas



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