São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Em encontro histórico na TV argentina, ex-desafetos cantam, batem bola, discutem a Fifa e fazem pacto de união

"Você é um exemplo", diz Pelé a Maradona

MAELI PRADO
DE BUENO AIRES

Num encontro histórico, marcado pela espontaneidade e por elogios de parte a parte, Maradona, 44, e Pelé, 64, conversaram, cantaram e bateram bola por quase meia hora ontem à noite, em Buenos Aires, na estréia do programa de TV "La Noche del Diez (A Noite do Dez)", uma espécie de talk show do ex-jogador argentino, pelo Canal 13.
Nem parecia que estavam frente a frente dois ex-desafetos, que passaram boa parte dos últimos anos trocando farpas. Em duas ocasiões, Pelé disse a Maradona -também conhecido por seu histórico com drogas- que o considerava um exemplo. Primeiro, ao justificar porque aceitou o convite do colega. Depois, quando o argentino o questionou sobre a situação do filho Edinho, preso acusado de envolvimento com o tráfico de drogas. "Tu és um exemplo para ele", disse Pelé.
Antes, dissera: "Respondi que vou [ao programa] porque você é um vencedor, é um exemplo. É um orgulho para mim estar aqui".
Em seguida, Pelé convocou Maradona para uma espécie de cruzada contra problemas mundiais. "Nós juntos podemos fazer muita coisa e ajudar muita gente." "Vamos esclarecer nossos pontos de vista e fazer coisas para as pessoas", respondeu o argentino.
Pelé foi o convidado e entrevistado mais aguardado. Durante 27 minutos, Maradona entrevistou o Rei do Futebol, que também fez perguntas ao argentino -o questionou sobre quem foi que colocou sonífero na água que o lateral Branco bebeu no jogo em que o Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final da Copa-90. Maradona, que chegou a tratar Pelé por "Rei", desconversou.
Depois, o argentino pediu para uma assistente trazer um violão para Pelé tocar e cantar. O Rei titubeou ("Maradona me mata"), mas cantou samba de sua autoria, que se encaixou como uma luva à ocasião: "Quem sou eu, quem é você? Você quer ser eu, e eu quero ser você (...) O que é certo para mim pode ser errado para você".
Depois, Maradona se levantou, abraçou e deu um afago em Pelé e cantou com um tango à capela.
Maradona então desafiou Pelé a bater bola de cabeça. Foram 26 toques (13 para cada um), até que Maradona abraçou Pelé.
Por fim, o brasileiro autografou uma camisa da seleção para as filhas do argentino, enquanto este fez o mesmo com uma camisa de sua seleção para Edinho. Antes, Maradona havia dito: "Quero dar minha solidariedade e minha força de pai ao momento em que está passando com teu filho".
O início da entrevista teve tom impessoal. Primeiro, Maradona perguntou a Pelé como lidava com a fama. Em seguida, citou questões políticas. Pelé disse que os atletas precisam ser mais unidos, mas elogiou a Fifa, bombardeada pelo argentino. "A Fifa hoje está muito mais democrática." O programa teve desenho animado inspirado em "Papa-Léguas", preparado para a ocasião e que brincou com a rivalidade: o pássaro era Maradona e o coiote, Pelé.
Bem mais magro após uma cirurgia para redução de estômago, Maradona surgiu cantando uma música feita em sua homenagem intitulada "La Mano de Dios". Dentre outros famosos convidados, estavam a tenista Gabriela Sabatini e o ex-atacante Batistuta.


Com a Reportagem Local

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.