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FUTEBOL
Em encontro histórico na TV argentina, ex-desafetos cantam, batem bola, discutem a Fifa e fazem pacto de união
"Você é um exemplo", diz Pelé a Maradona
MAELI PRADO
DE BUENO AIRES
Num encontro histórico, marcado pela espontaneidade e por
elogios de parte a parte, Maradona, 44, e Pelé, 64, conversaram,
cantaram e bateram bola por quase meia hora ontem à noite, em
Buenos Aires, na estréia do programa de TV "La Noche del Diez
(A Noite do Dez)", uma espécie
de talk show do ex-jogador argentino, pelo Canal 13.
Nem parecia que estavam frente
a frente dois ex-desafetos, que
passaram boa parte dos últimos
anos trocando farpas. Em duas
ocasiões, Pelé disse a Maradona
-também conhecido por seu
histórico com drogas- que o
considerava um exemplo. Primeiro, ao justificar porque aceitou o
convite do colega. Depois, quando o argentino o questionou sobre a situação do filho Edinho,
preso acusado de envolvimento
com o tráfico de drogas. "Tu és
um exemplo para ele", disse Pelé.
Antes, dissera: "Respondi que
vou [ao programa] porque você é
um vencedor, é um exemplo. É
um orgulho para mim estar aqui".
Em seguida, Pelé convocou Maradona para uma espécie de cruzada contra problemas mundiais.
"Nós juntos podemos fazer muita
coisa e ajudar muita gente." "Vamos esclarecer nossos pontos de
vista e fazer coisas para as pessoas", respondeu o argentino.
Pelé foi o convidado e entrevistado mais aguardado. Durante 27
minutos, Maradona entrevistou o
Rei do Futebol, que também fez
perguntas ao argentino -o questionou sobre quem foi que colocou sonífero na água que o lateral
Branco bebeu no jogo em que o
Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final da Copa-90. Maradona, que chegou a tratar
Pelé por "Rei", desconversou.
Depois, o argentino pediu para
uma assistente trazer um violão
para Pelé tocar e cantar. O Rei titubeou ("Maradona me mata"),
mas cantou samba de sua autoria,
que se encaixou como uma luva à
ocasião: "Quem sou eu, quem é
você? Você quer ser eu, e eu quero
ser você (...) O que é certo para
mim pode ser errado para você".
Depois, Maradona se levantou,
abraçou e deu um afago em Pelé e
cantou com um tango à capela.
Maradona então desafiou Pelé a
bater bola de cabeça. Foram 26 toques (13 para cada um), até que
Maradona abraçou Pelé.
Por fim, o brasileiro autografou
uma camisa da seleção para as filhas do argentino, enquanto este
fez o mesmo com uma camisa de
sua seleção para Edinho. Antes,
Maradona havia dito: "Quero dar
minha solidariedade e minha força de pai ao momento em que está
passando com teu filho".
O início da entrevista teve tom
impessoal. Primeiro, Maradona
perguntou a Pelé como lidava
com a fama. Em seguida, citou
questões políticas. Pelé disse que
os atletas precisam ser mais unidos, mas elogiou a Fifa, bombardeada pelo argentino. "A Fifa hoje
está muito mais democrática." O
programa teve desenho animado
inspirado em "Papa-Léguas",
preparado para a ocasião e que
brincou com a rivalidade: o pássaro era Maradona e o coiote, Pelé.
Bem mais magro após uma cirurgia para redução de estômago,
Maradona surgiu cantando uma
música feita em sua homenagem
intitulada "La Mano de Dios".
Dentre outros famosos convidados, estavam a tenista Gabriela
Sabatini e o ex-atacante Batistuta.
Com a Reportagem Local
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