São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2011

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LOS GRINGOS - PAUL DOYLE

Finais infelizes


Para os grandes treinadores na Inglaterra, e Wenger deve ser o próximo, final feliz é raridade


Para os grandes técnicos do futebol inglês, raramente existe um final feliz.
Brian Clough levou o pequeno Nottingham Forest a um título europeu, mas seu reino terminou com o time rebaixado e o treinador transformado em um alcoólatra deprimido. Bill Shankly, que fez do Liverpool um gigante, aposentou-se cedo e, ao perceber seu erro, começou a aparecer nos treinos da equipe para oferecer conselhos que seu sucessor recebia com desagrado. Quando sua presença foi desencorajada, ele se tornou um amargurado espectador do Everton, time que antes havia sido alvo de sua zombaria como "o terceiro da cidade" -atrás dos times titular e reserva do Liverpool.
Nem mesmo Sir Alf Ramsey foi poupado: o único técnico a vencer uma Copa do Mundo no comando da seleção inglesa foi demitido sumariamente em 1974 por cartolas que nunca haviam gostado dele, e a história tampouco o tratou bem. Sua vitória em 1966 é vista pela maioria não como o maior momento do futebol inglês e sim como motivo para que o desempenho do país não tenha progredido nos últimos 45 anos, pois o estilo de jogo daquela seleção validava táticas que dificultam o futebol criativo.
Alguns dizem que Arsène Wenger será a nova vítima da Lei dos Finais Indignos. Tem sido alvo de derrisão cada vez mais intensa por sua teimosia em manter uma filosofia fracassada, com a confiança injustificada de um homem que, em risco de afogamento, prefere uma camisa de pedra a um colete salva-vidas. Há anos Fàbregas era mencionado como exemplo de que a política de Wenger, de investir só em jovens, daria sucesso, mas até Fàbregas perdeu a paciência. Foi para Barcelona.
Nasri deve seguir o exemplo de Fàbregas e trocar o Arsenal pelo Manchester City. Mas os torcedores do time londrino que esperam que essas baixas convençam Wenger a pôr fim a investir generosamente em jogadores jovens devem se frustrar. Pois a recusa dele de pagar caro por novas contratações não é só um princípio econômico, mas moral: crê que os preços do mercado são obscenos.
E se algo servirá para lembrar Wenger de seus princípios será o contato com Jean-Pierre Bernès, o agente de Nasri, que nos anos 90 foi preso por ajudar a manipular resultados de jogos em favor do Marseille, quando Wenger tentava vencer o Campeonato Francês com o Monaco. Wenger talvez não conquiste novos títulos, mas jamais terá motivo para se envergonhar do modo pelo qual age.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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