São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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Luxemburgo e o desvio perigoso

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Luxemburgo está no caminho certo quando sinaliza para a montagem de uma comissão técnica mais técnica do que as comissões, entre aspas, que andaram pela seleção nos últimos tempos. Mas pega um desvio perigoso quando fala em auxiliares do tipo Nelsinho, Autuori ou Carpegiani. Não é por aí. Esses são treinadores famosos, clássicos, como ele próprio, Luxemburgo.
Esse esquema, em bom brasileirês, é furado. Tanto que, já num passado remoto, não se conseguiu nem sequer juntar dois irmãos, unha e carne, Aymoré e Zezé Moreira, sob o argumento de que um era mais criativo; o outro, mais disciplinador. Portanto, um complementaria o outro.
Acontece que ambos eram já famosos, e a conciliação foi impossível. Acabou que Zezé dirigiu a seleção no Pan-Americano de 52, Aymoré no Sul-Americano de 53 e, na Copa de 54, voltou Zezé.
Luxemburgo precisa -e, se o fizer, terá levado nossa seleção a um estágio de avanço maior do que qualquer outra, no mundo e na história-, isso sim, é de auxiliares (dois ou três) para trabalhos específicos: montar a defesa, em separado, aqui, o meio-campo, ali; desenvolver novos métodos de treinamentos nas cobranças de faltas, escanteios etc.; armar jogadas de surpresa -na saída de jogo, nas batidas dos laterais, nos lances, enfim, que se reproduzem de hábito numa partida de futebol.
Quem? Não sei. Mas, por exemplo, estou certo de que um Gerson, o nosso Canhota de Ouro, seria de grande valia na armação do meio-campo de qualquer time de futebol. Fico imaginando o Papagaio levando longos papos com Vampeta, Denílson, Rivaldo, sei lá, sobre como executar um lançamento de 30 metros, o melhor posicionamento quando a jogada vem pela esquerda ou pela direita, coisas assim.
Para articular a defesa, alguém como o atual técnico do Guarani, Oswaldo Alvarez, que soube bem implantar o 3-5-2 no Mogi ou, então, um ex-zagueiro de experiência internacional em início de carreira como treinador (há uns mil por aí). E assim vai.
Resumindo, essa idéia é boa demais para ser desperdiçada pela utilização da ferramenta errada. Luxemburgo tem aí uns três meses para deixá-la amadurecer na cabeça, fazer consultas aqui e ali, até chegar à fórmula mais adequada.
Portanto, calma e firmeza.
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O tricolor, que pega hoje o Sport lá -o mesmo Sport que, aqui, ainda outro dia, cumpriu a profecia de Felipão, segundo a qual seu Palmeiras iria perder o jogo-, está virando um saco de pancadas, dos adversários e da adversidade. Não só acumula biabas, como ainda por cima perdeu Raí, sua mais cintilante estrela, na melhor das hipóteses, pelo resto do ano.
E o que é pior: Souza, seu outro investimento de envergadura, no campo, vai confirmando as previsões mais azedas: entra, fica ali pela meia-esquerda morgando, dá um drible aqui, outro ali, um lançamento, faz um gol e tal e cousa e lousa e maripousa, enquanto o time se afunda na mais cinzenta falta de criatividade. Que fazer, então?
Dizem que rezar, às vezes, ajuda.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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