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Corporações podem recuperar alma do futebol
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Os tradicionais cartolas europeus estão em pânico com a
investida de "Predador" Murdoch sobre o Manchester United, que atuou como uma senha para assanhar outros gigantes do setor de comunicação dispostos a entrar em campo, literalmente.
E é realmente um cenário assustador o que se desenha neste fim de milênio para o futebol do século 21. Afinal, o cartola tradicional era um tipo
bem acabado, fácil de ser reconhecido aqui ou na Cochinchina, quando Cochinchina existia e ficava onde o gato perdeu
as botas.
O bicho estava ali exposto,
na vitrine do mundo, com todas as suas carências e essa ou
aquela virtude. Movido, durante quase todo o século, por
pura vaidade, começou a saborear, nas duas últimas décadas, o gosto inebriante das verdinhas. Sobretudo, quando um
japonês apressadinho decretou
o fim da história. Ou, se quiserem, o fim das utopias. Ora, se
utopia não há mais, que nos
locupletemos todos, parodiando a galhofa dos anos 60.
Bem pensado, se visto sob as
regras da célebre "lei de Gérson", mas um mau passo para
os próprios cartolas. Afinal, se
o nome do jogo é grana, então
chega pra lá, que tem profissional na parada. E, jogo feito,
leva quem tem mais grana do
que a banca.
Entram em cena, então, as
grandes corporações, que podem se chamar Murdoch,
Sony, Kirsch, ter até um rosto,
uma história, mas que são, antes de tudo, máquinas de fazer
dinheiro, com computadores
de última geração operados
por descartáveis gênios, desde
que eles se superem na mesma
velocidade com que o micro de
hoje é a sucata de amanhã.
Diante desse quadro surrealista, como o futuro sempre sugere ser, que esperar?
Há duas expectativas. A primeira, de que a transferência
de poder, não entre homens,
mas de uma dimensão para
outra, resultará no fim do futebol como o conhecemos. Ou
seja: um jogo, misto de competição e arte, disputado dentro
de regras praticamente imutáveis durante um século, sob
normas éticas que nem sempre
foram obedecidas. Em seu lugar, entra em campo um gigantesco jogo de interesses, basicamente pecuniários, que
não deixará, ao cabo, pedra
sobre pedra. Será, enfim, o fim.
A segunda, porém, aponta
para o inverso: como resultado
dessa transformação, que
atingirá o âmago do futebol,
teremos, isso sim, o resgate da
própria essência do jogo. Ou
seja: o negócio sendo tocado
por quem não está aí para perder dinheiro, ao contrário, se
encaminhará para um estágio
onde o espetáculo terá de ser
cada vez mais valorizado, exatamente para que as verdinhas
não escoem pelo ladrão.
Nesse caso, os novos administradores do futebol não poderão abrir mão de alguns elementos básicos para que o produto não se deteriore na prateleira. A saber: privilegiar os
grandes clubes, os que detêm o
poder da tradição; proteger o
craque, que é quem dá o espetáculo; e, por fim, restabelecer
a ética a um nível de transparência que reforce a cada rodada a credibilidade do torcedor, que é, no fim, quem paga
a conta, seja na bilheteria dos
estádios, seja na poltrona de
casa, diante da TV.
Prefiro acreditar nesta segunda hipótese, claro.
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras
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