São Paulo, quarta, 16 de setembro de 1998

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IATISMO
Irmão de Lars Grael está competindo na Eslovênia e acompanha sua recuperação no hospital pela Internet
Para Torben, lancha estava desgovernada

ROBERTO FONSECA
da Reportagem Local

Detentor de três medalhas olímpicas no iatismo, Torben Grael, 38, classifica de "negligente" e "irresponsável" a conduta do empresário Carlos Guilherme de Abreu e Lima no acidente que decepou a perna direita de seu irmão mais novo, Lars Grael.
Torben, que vive na Itália, está na Eslovênia, participando do Mundial de Iatismo na classe Star. Ainda não teve tempo de vir ao Brasil e desde o acidente, só conversou com Lars uma vez, por telefone, anteontem.
Aconselhado pela família, havia evitado telefonar para o hospital. "Os dois são emotivos e poderia haver um choque emocional muito grande", afirmou Axel, o mais velho dos irmãos Grael.
No último dia 6, durante torneio de iatismo na praia de Camburi, em Vitória (ES), a lancha Laguna 1, de propriedade de Abreu e Lima, atingiu o veleiro onde estavam Lars e Andres Schmidt.
Os iatistas se atiraram ao mar. Lars foi atingido pela hélice da lancha. Perdeu a perna direita e sofreu ferimentos nos braços.
Desde então, Torben vinha acompanhando a evolução clínica de Lars pela Internet, junto com seus colegas no Mundial.
Ontem, durante solenidade sobre o próximo Mundial, a ser disputado na Itália, Torben falou com exclusividade à Folha.
"A lancha ficou desgovernada em meio aos veleiros que participavam da regata", afirmou Torben, medalha de ouro nos Jogos de de Atlanta (96), bronze em Seul (88) e prata em Los Angeles (84).
A conversa telefônica entre Lars e Torben, segundo familiares, foi sobre o Mundial e veleiros, passando poucas vezes pelo acidente.
"Ele só se acalmou um pouco quando telefonou para o irmão", conta Guilherme de Almeida, integrante da equipe brasileira que está na Eslovênia.

Folha - Ontem (anteontem) você falou pela primeira vez com seu irmão após o acidente. Como foi?
Torben Grael -
Fiquei mais tranquilo depois que conversei com o Lars. Ele me pareceu muito bem ao telefone. Quando ocorreu o acidente, conversei com minha família e decidimos que era melhor a gente não se falar de início, porque o choque seria grande.
Folha - Você acredita que o que ocorreu com seu irmão é reflexo de uma falta de respeito de barcos e jet skis com os veleiros no mar?
Grael -
Em geral, existe um certo respeito com os iatistas. Mas é frequente um jet ski ou barco passar perto dos veleiros, fazendo barulho e provocando ondas. Isso tira, e muito, a concentração dos iatistas em competições.
Mas isso faz parte de um problema geral de falta de respeito que ocorre no Brasil, não só no mar. Já tive pequenos acidentes desse tipo. Mas uma coisa é se incomodar com barulho ou ondas, outra é um barco passar por cima de você.
Folha - A que você credita esse acidente?
Grael -
Acredito que tenha sido um fato isolado, porque em mais de 30 anos como iatista nunca tinha visto algo assim. O que ocorreu foi uma total irresponsabilidade do piloto da lancha, que deixou seu barco desgovernado no meio de um monte de veleiros.
Folha - Você acredita na possibilidade de o piloto da lancha não ter tido culpa no acidente ?
Grael -
É muito difícil acreditar nessa possibilidade. Ele não pode nem alegar que não viu o veleiro, porque o mastro do barco do Lars era alto, impossível de passar despercebido. Se a lancha estivesse sob controle, daria para desviar. Não foi o que aconteceu. Além disso, como o veleiro é um barco menor, teria preferência na água.



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