São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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Decência exige cumprimento de regras na Série B

MILTON URCIOLI
JOÃO HEITOR DE MOURA
especial para a Folha

² Manda a boa conduta, a decência e a lisura que tudo o que for acordado seja aceito ao final da competição. Antes de iniciar um campeonato, o regulamento é aprovado em Conselho Arbitral. Nem sempre os seus itens, parágrafos ou artigos são discutidos, mas aprovação geralmente é por unanimidade.
E foi o que houve neste ano com a Série B do Brasileiro. Representantes de todos os clubes compareceram para discutir o regulamento. Ninguém fez qualquer objeção, mas todos começaram a sonhar com o retorno ao grupo de elite.
Comissões técnicas foram formadas, alguns jogadores foram adquiridos a peso de ouro. Mas não houve resultados práticos. Faltou estrutura, planejamento e até profissionalismo.
O Fluminense, uma das maiores forças do futebol brasileiro, tentou incentivar os seus torcedores. Na primeira partida, inclusive, seus dirigentes afirmaram que ali seria dado o primeiro passo do "Projeto Tóquio". Mas os insucessos se sucederam, seus dirigentes levaram algumas partidas, sem expressão, para o Maracanã, aumentando ainda mais o déficit do clube. E o resultado aí está. Rebaixado em campo, sim.
As articulações realizadas nos corredores da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estão mudando o destino de alguns clubes. Qualquer burla ao regulamento que privilegie clubes, seja ele qual for, merece repúdio. As regras, que estabelecem queda dos quatro últimos (um de cada chave) e mais os dois piores tecnicamente entre os 20 restantes, devem ser aplicadas.
Qualquer mexida, agora, que favoreça apadrinhados, deve ser condenada, afinal estamos falando de um campeonato oficial e não de um torneio para se saber quem tem um padrinho político mais forte. Arrastar influentes políticos para a CBF com o objetivo de articular uma "virada de mesa" é lamentável.
Ao mesmo tempo que precisamos profissionalizar o futebol, temos que moralizá-lo. A credibilidade está acima de tudo.
Nós, do Clube Atlético Juventus, perdemos em campo. Montamos uma equipe dentro da nossa realidade e que é também a do futebol brasileiro. O clube não tem um aporte financeiro de empresas que possibilite altos investimentos. Mesmo assim não vamos parar. O clube nasceu em razão do futebol e não seriamos nós que o faríamos morrer. Longe disso.
Não oferecemos salários astronômicos, valores que inflacionam e inviabilizam qualquer clube. Não fazemos loucuras. Nos orgulhamos de estar com a tesouraria saneada. Não devemos para jogadores, membros da comissão técnica, funcionários, fornecedores e INSS.
A mesma realidade que enfrentamos é notada em clubes de várias cidades paulistas e no interior de praticamente todos os Estados brasileiros.
E para que haja uma recuperação do futebol é preciso que a CBF, as federações e os dirigentes de todos os clubes se unam, apresentem idéias. Mas que não haja privilégios, "viradas de mesa", tapetões, manobras políticas, acertos com árbitros.
A Lei Pelé tem algumas imperfeições, precisa de ajustes. Mas com ela esperamos que venham verdadeiros profissionais para tornar o futebol forte, fora de campo, como ele já se apresenta dentro das quatro linhas.
²


Milton Urcioli, 60, é presidente licenciado do Clube Atlético Juventus e João Heitor de Moura, 63, é presidente interino


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