São Paulo, Terça-feira, 16 de Novembro de 1999
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FUTEBOL

Clube italiano retoma idéia do ano passado e convence atacante a iniciar tratamento psicológico

Inter manda Ronaldo deitar no divã

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial a Melbourne

Após ter tentado, sem sucesso, no ano passado, agora a Inter conseguiu. O clube italiano convenceu Ronaldo a fazer terapia.
Desde a final da Copa-98, quando o atacante teve uma crise nervosa horas antes da decisão, o time de Milão estava convencido de que o principal problema de Ronaldo era de fundo emocional.
Por isso, pedira que ele consultasse um psicólogo depois do Mundial da França. Orientado por seus empresários, que se revoltaram com a sugestão, o atleta não a seguiu. Agora, o clube retomou a iniciativa, que faz parte do projeto de recuperação do jogador, e convenceu Ronaldo a iniciar o tratamento psicológico.
Antes mesmo de viajar para a Austrália, onde foi impedido pela Inter de disputar o amistoso de amanhã e dispensado por Wanderley Luxemburgo do de domingo, ele já havia feito algumas entrevistas com o profissional.
Mas só agora, de volta à Itália, teria concordado, de fato, em começar as sessões.
Suzy Fleury, psicóloga da seleção, afirmou ontem estar ciente do processo. Ela, inclusive, disse ter enviado material sobre o atacante para o clube italiano, colhido principalmente durante a Copa América, no Paraguai.
"Acho importante não só para ele, mas para todo jogador. A psicologia no esporte está entrando cada vez mais. Eu mesma até me surpreendi ao ver que oito dos convocados (para a seleção pré-olímpica) fazem algum tipo de trabalho psicológico em seus clubes. Isso é ótimo para eles."
Para a Inter, um apoio psicológico a Ronaldo, que vive sob forte pressão e não estaria, segundo o clube, sendo bem orientado por amigos, familiares e empresários, será de grande valia a ele.
Além da terapia, feita por um profissional ligado ao esporte, a Inter quer proteger o atleta do que considera más influências para que ele retome o futebol -e os gols- das temporadas de 1996 e 1997 (veja quadro ao lado).
Para isso, decidiu "grudar" no jogador. Três assessores irão se revezar para acompanhar o brasileiro, principalmente em viagens para o Brasil ou pela própria seleção, tentando evitar que ele se envolva em confusões, como na Copa América, quando teria feito compras no Paraguai e entrado no país sem pagar impostos.
Na Austrália, Sandro Sabatini, assessor de imprensa da Inter, foi quem o acompanhou.
A presença de Sabatini, porém, irritou a Confederação Brasileira de Futebol, que trocou acusações com a direção da Inter e não pretende permitir que o clube prejudique o trabalho de Luxemburgo.
Para a comissão técnica da seleção, pelo menos quando o atleta está entre brasileiros, demonstra muita alegria.
Mas a Inter discorda. Para os milaneses, as convocações não têm feito bem a Ronaldo.
Massimo Moratti, presidente do clube, não gostou da posição do técnico brasileiro, que anunciou que escalaria o atacante nos dois jogos na Austrália ou o mandaria de volta à Itália.
Como a Inter, amparada pela Fifa, impediu o atleta de atuar nos dois amistosos -poderia participar apenas de um-, ele foi dispensado por Luxemburgo.
Para Moratti, o treinador quis deixar Ronaldo numa posição desconfortável com os italianos, tentando forçá-los a aceitar que ele continuasse na Austrália.
Segundo a assessoria de imprensa da Inter, o presidente agradeceu, por telefone, a atitude do atleta, que respeitou a posição não apenas do clube, mas da própria Fifa, ao se negar a jogar os dois amistosos pelo Brasil.


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