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Romário merece tratamento diferenciado
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Todos são iguais perante a lei,
eis aí a máxima que deveria fazer
da Justiça algo em que todos acreditássemos. Mas sabemos que alguns são mais iguais que outros,
principalmente se têm dinheiro, o
que é lamentável.
Não é justo tratar igualmente os
desiguais, eis outro princípio, aparentemente em contradição com o
anterior, menos repetido que
aquele. No caso do jogador Romário, que não matou ninguém, o segundo deveria prevalecer sobre o
primeiro. Romário é um artilheiro excepcional, o melhor jogador
do mundo dentro da área, o craque brasileiro desta década.
Sempre foi boêmio e sempre fez
gols. Muito boêmio e muitos gols.
Tratá-lo como se fosse um Beto
qualquer é, além de grave erro,
uma tolice. E nem se fará menção
aqui ao fato de o Flamengo dever
US$ 5 milhões para ele.
Basta mencionar que a possibilidade que o rubro-negro ainda
tinha de salvar o ano com a conquista de uma vaga na Libertadores nessa mutretada seletiva da
CBF, ou mesmo de ganhar a tal
Copa Mercosul (diga-se, a bem da
verdade, com regulamento fielmente cumprido até agora), praticamente desaparece com sua
expulsão da Gávea.
O episódio lembra o que Nílton
Santos, a ""Enciclopédia do Futebol", dizia a seus companheiros
do Botafogo-RJ quando alguns
deles reclamavam que Mané Garrincha tinha tratamento especial
em General Severiano -treinava
pouco, fugia da concentração e
nada lhe acontecia. ""O compadre
é excepcional", explicava o maior
lateral-esquerdo da história do
futebol. ""Dele nós só temos de exigir que nos garanta o bicho no domingo. O que faz nos outros dias
não é de nossa conta, porque ele
não precisa treinar, coisa para
gente comum, como somos."
E Garrincha garantia o bicho,
embora nem Nílton Santos nem
Didi nem outros grandes jogadores do Botafogo-RJ fossem exatamente comuns, ao contrário.
"Ah, mas o Pelé era o Pelé e não
tinha tratamento diferenciado",
retrucará um idiota da objetividade, com razão.
Por isso Pelé é Pelé até hoje e
Mané foi Mané. Mas que garantia o bicho, garantia.
É fácil, aliás, trabalhar com Pelés, Zicos, Rivelinos, Tostões, Falcões, gênios em campo e de ótimo
gênio fora de campo. Duro é trabalhar com o gênio que está mais
para o desvio que para a linha reta. Para tanto é preciso ser um administrador habilidoso, coisa que
o presidente do Flamengo não é.
A seleção brasileira não perdeu
da Espanha (sabe Deus por quê),
como aqui se anunciou que perderia, e conquistou um ótimo resultado -embora tenha perdido
a oportunidade de não se expor,
porque jogou pedrinhas.
O Vitória até que goleou o Vasco, mas deu-se mal com vistas às
semifinais por também ter sido
goleado num jogo fabuloso.
O Guarani provou, por falta de
um bom finalizador, que sua tarefa é mais difícil que a do Gama.
O Galo demonstrou que clássico
é clássico sem limites, embora ainda não possa cantar vitória.
E São Paulo e Ponte Preta fazem
mesmo o mais imprevisível dos
duelos das quartas-de-finais. A virada tricolor é digna de seus atletas, mas sua cartolagem é indigna
dela (aliás, quem acreditou naquela simulação de moralidade
mereceu ser enganado).
Finalmente, onde você leu, no
domingo, que a coluna não imaginava ""que o relaxamento alviverde depois da conquista da Libertadores viria tão logo", leia,
por favor, seria tão longo.
Juca Kfouri escreve às terças-feiras, às sextas-feiras e aos domingos
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