São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Fofocas, fuxicos e um pouco de futebol

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Houve alguns bons lances individuais, mas o Brasil não foi um time. Alternamos lançamentos longos e estabanados, com os jogadores muito distantes uns dos outros, com momentos em que o meio-campo e o ataque estavam embolados e não conseguiam criar. Continuamos como sempre...
E agora, o que fazer? Trocar as peças ou insistir até esse grupo se tornar coeso e entrosado, como um treinador é obrigado a fazer no clube? Testar melhor esse conjunto ou tentar outras variáveis?
Não sei. Leão não teve tempo de fazer quase nada além de escalar os titulares e é cedo para falar do seu trabalho. Quanto aos jogadores: Juninho esteve muito bem, Lucio também. Não há muito o que dizer sobre Edmundo e França (e Romário). Mas há algo de muito errado quando um time pega um adversário super defensivo e o destaque é um zagueiro...

Segundo os estereótipos da nossa cultura, fofoca é coisa de mulher e futebol é assunto para homens. Mas que terreninho fértil para um fuxico, o futebol.
O anúncio da convocação do Romário para a vaga do Edmundo fez a imprensa esfregar as mãos na expectativa de declarações picantes, provocações mal disfarçadas ou ofensas. Se elas não viessem espontaneamente, os personagens poderiam ser cutucados até soltar uma farpa. E se ainda assim não aparecesse uma faísca, pode-se apelar para um comentário cético ou irônico: "os jogadores foram diplomáticos".
Se for verdade que Leão não convocou Romário e Edmundo ao mesmo tempo para não desagradar ao "Baixinho", então a "personalidade forte" do novo técnico é uma falácia. Os dois atacantes já foram obrigados a jogar juntos no Vasco depois do episódio ridículo da faixa de capitão e jogaram muito bem, obrigada. Não seria na seleção que iriam bater o pé dizendo "esse time é pequeno demais para nós dois". Talvez um não gritasse um "eu te amo" para o outro, mas não seria esse o problema. E se desse tudo certo, talvez até gritassem.
Também não acredito que Romário tenha vetado a convocação de Roberto Carlos, como foi sugerido. Se Leão não o convocou foi porque não quis. Talvez ele tenha até pensado que as outras opções para a lateral dariam menos dor de cabeça, mas se ele fizesse questão, teria lhe chamado.
Não sou boba de achar que uma convocação para a seleção não envolve outros fatores e interesses além do mero talento. Mas a tese do Romário todo-poderoso é um exagero: "Romário veta Levir"; "Romário escolhe Osvaldo"... Tudo o que aconteceu nos últimos tempos na seleção passou a ser encarado como "a vontade do Romário". O pior é que, com o seu corte na segunda-feira, já criaram a antítese. Deram-lhe um poder que já estão cassando. "Romário não manda mais - Leão convoca Edmundo". Quantas teorias e conclusões exageradas...
Descartada a vontade do Romário, podemos discutir, por outro lado, a convocação de Edmundo.
É tão verdade que Romário e Edmundo são diferentes, quanto é correto dizer que têm características semelhantes. Se compararmos Romário com Jardel, Élber e Edmundo, qual par é mais semelhante? Romário e Edmundo, é claro. Os dois são habilidosos, "cavam" espaço entre os marcadores, pensam rapidamente e têm vários recursos. Fazem jogadas desconcertantes e são inteligentes nos deslocamentos com e sem bola. Sabem conduzir a própria, tanto quanto redirecioná-la com um único toque, preciso e inesperado. São experientes, ameaçadores e preocupam os adversários.
Mas Edmundo e França também podem ser considerados semelhantes, principalmente se comparados com a outra dupla da seleção Marques e Adriano têm perfis totalmente diferentes.
Contra o Edmundo, podemos dizer que não fez nada que prestasse contra o Peru, mas a nuvem de mediocridade que cobriu o campo naquele dia afetou todos. A favor: ele teve um segundo semestre apagado, mas brilhou "quando mais precisavam dele" (sábado, contra o Sport) e é artilheiro do Santos.
Se ele tivesse mesmo jogado a final da Copa, como chegaram a anunciar, acho que a história teria tido um final mais feliz para nós. Mas, como definiu Luis Fernando Veríssimo, "o caráter do Edmundo é como um embrulho abandonado, pode ser uma bomba relógio ou um pacote de chuchu". Ele podia brilhar como Viola nos seus quinze minutos de glória em 94 ou arrumar uma briga no primeiro tempo e ser expulso.

Dill, o consistente e talentoso artilheiro da João Havelange, não poderia ter sido convocado? Deveria. Talvez no lugar do França, que foi escolhido mais pelo potencial e pelo conjunto da obra do que pelo momento.

E-mail soninha.folha@uol.com.br


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