|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Fofocas, fuxicos e um pouco de futebol
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Houve alguns bons lances
individuais, mas o Brasil
não foi um time. Alternamos lançamentos longos e estabanados,
com os jogadores muito distantes
uns dos outros, com momentos
em que o meio-campo e o ataque
estavam embolados e não conseguiam criar. Continuamos como
sempre...
E agora, o que fazer? Trocar as
peças ou insistir até esse grupo se
tornar coeso e entrosado, como
um treinador é obrigado a fazer
no clube? Testar melhor esse conjunto ou tentar outras variáveis?
Não sei. Leão não teve tempo de
fazer quase nada além de escalar
os titulares e é cedo para falar do
seu trabalho. Quanto aos jogadores: Juninho esteve muito bem,
Lucio também. Não há muito o
que dizer sobre Edmundo e França (e Romário). Mas há algo de
muito errado quando um time
pega um adversário super defensivo e o destaque é um zagueiro...
Segundo os estereótipos da nossa cultura, fofoca é coisa de mulher e futebol é assunto para homens. Mas que terreninho fértil
para um fuxico, o futebol.
O anúncio da convocação do
Romário para a vaga do Edmundo fez a imprensa esfregar as
mãos na expectativa de declarações picantes, provocações mal
disfarçadas ou ofensas. Se elas
não viessem espontaneamente, os
personagens poderiam ser cutucados até soltar uma farpa. E se
ainda assim não aparecesse uma
faísca, pode-se apelar para um comentário cético ou irônico: "os jogadores foram diplomáticos".
Se for verdade que Leão não
convocou Romário e Edmundo
ao mesmo tempo para não desagradar ao "Baixinho", então a
"personalidade forte" do novo
técnico é uma falácia. Os dois atacantes já foram obrigados a jogar
juntos no Vasco depois do episódio ridículo da faixa de capitão e
jogaram muito bem, obrigada.
Não seria na seleção que iriam
bater o pé dizendo "esse time é pequeno demais para nós dois".
Talvez um não gritasse um "eu te
amo" para o outro, mas não seria
esse o problema. E se desse tudo
certo, talvez até gritassem.
Também não acredito que Romário tenha vetado a convocação
de Roberto Carlos, como foi sugerido. Se Leão não o convocou foi
porque não quis. Talvez ele tenha
até pensado que as outras opções
para a lateral dariam menos dor
de cabeça, mas se ele fizesse questão, teria lhe chamado.
Não sou boba de achar que uma
convocação para a seleção não
envolve outros fatores e interesses
além do mero talento. Mas a tese
do Romário todo-poderoso é um
exagero: "Romário veta Levir";
"Romário escolhe Osvaldo"... Tudo o que aconteceu nos últimos
tempos na seleção passou a ser
encarado como "a vontade do
Romário". O pior é que, com o seu
corte na segunda-feira, já criaram a antítese. Deram-lhe um poder que já estão cassando. "Romário não manda mais - Leão
convoca Edmundo". Quantas
teorias e conclusões exageradas...
Descartada a vontade do Romário, podemos discutir, por outro lado, a convocação de Edmundo.
É tão verdade que Romário e
Edmundo são diferentes, quanto
é correto dizer que têm características semelhantes. Se compararmos Romário com Jardel, Élber e
Edmundo, qual par é mais semelhante? Romário e Edmundo, é
claro. Os dois são habilidosos,
"cavam" espaço entre os marcadores, pensam rapidamente e têm
vários recursos. Fazem jogadas
desconcertantes e são inteligentes
nos deslocamentos com e sem bola. Sabem conduzir a própria,
tanto quanto redirecioná-la com
um único toque, preciso e inesperado. São experientes, ameaçadores e preocupam os adversários.
Mas Edmundo e França também podem ser considerados semelhantes, principalmente se
comparados com a outra dupla
da seleção Marques e Adriano
têm perfis totalmente diferentes.
Contra o Edmundo, podemos
dizer que não fez nada que prestasse contra o Peru, mas a nuvem
de mediocridade que cobriu o
campo naquele dia afetou todos.
A favor: ele teve um segundo semestre apagado, mas brilhou
"quando mais precisavam dele"
(sábado, contra o Sport) e é artilheiro do Santos.
Se ele tivesse mesmo jogado a final da Copa, como chegaram a
anunciar, acho que a história teria tido um final mais feliz para
nós. Mas, como definiu Luis Fernando Veríssimo, "o caráter do
Edmundo é como um embrulho
abandonado, pode ser uma bomba relógio ou um pacote de chuchu". Ele podia brilhar como Viola nos seus quinze minutos de glória em 94 ou arrumar uma briga
no primeiro tempo e ser expulso.
Dill, o consistente e talentoso artilheiro da João Havelange, não
poderia ter sido convocado? Deveria. Talvez no lugar do França,
que foi escolhido mais pelo potencial e pelo conjunto da obra do
que pelo momento.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: FIA estuda volta do controle de tração na F-1 Próximo Texto: Futebol nacional: Dia-a-dia dos clubes Índice
|