São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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XICO SÁ

Ben-Hur e outros heróis sagrados


Só uma coisa importa, e não é Brasil x Uruguai, disputa por Libertadores ou contra o descenso e polêmica do penta


A MIGO TORCEDOR , amigo secador, que seleção brasileira e Uruguai que nada, que mané disputa para a Libertadores, que agá de rebaixamento, só uma coisa importa nesta hora, além da devoção às moças, claro, e de ouvir ""Tortura de Amor", do Waldick, na voz da rapariga do Clã, uma portuguesa que destrói um lar com um sussurro. Cesse tudo, amigo, o glorioso Clube Atlético Linense chegou a um certame nacional depois de 80 anos!
O Elefante da Noroeste, após gastar todos os cotovelos da espera, todos os mantos de Penélope, está na final da Copa Federação Paulista, na luxuosíssima companhia do Juventus da Moóca. Quem levar o caneco joga a Copa do Brasil; o vice disputa a Terceirona, glória nas alturas. É, velho Cadu, o Caldeirão Vermelho está em festa. É o time que mais põe gente nas arquibancadas no Brasil no momento. Ou o amigo conhece outro clube que leve quase 15% da população da cidade ao estádio? Não tem para Bahia, não tem para Flamengo, não tem para Corinthians, não tem para São Paulo e Palmeiras, não tem para Sport Recife, não tem para Galo, Inter, Grêmio, nem mesmo para o Tupynambás de Juiz de Fora no auge. O Elefante arrasta 10 mil em quase todos os jogos, na aprazível Lins dos seus 70 mil habitantes. ""Avante Linense, avante", como diz o seu bravo hino.
Amigo, nunca esqueça: nossas várzeas têm mais flores, o resto é pântano de cartola profissa. Sim, seu Antonio da padoca da esquina, preferimos o faroeste da Segundona, mas não esquecerei de parabenizá-lo pela ascensão da Lusa. Coxas, rubro-negros soteropolitanos e gente de Ipatinga, idem, salve!
Mas o que importa hoje é saudar o Clube Atlético Linense, o resto é polêmica chata, como essa do penta do Brasileiro. Aliás, é ridículo que se conte como campeão só quem ganhou de 71 até agora. Como assim? Não havia futebol antes no país que ganhou a primeira Copa em 58? O Santos, por exemplo, segundo a Fifa, tem oito títulos nacionais. É hora de uma recontagem mais honesta.
O que conta, amigo, é que o Linense agora é federal, o que vale, amigo de Presidente Prudente, é que o Oeste Paulista Esporte Clube, o glorioso OPEC, a laranja mecânica, papou a Segundona do Estadual, em um labirinto ludopédico em que a Segundona, na prática, equivale à quarta divisão -a Primeirona em São Paulo tem outras três escalas.
O mais lindo, amigo, é quando a aldeia pega fogo, independentemente de fracassos ou glórias. Mire o exemplo que vem de Belém, cidade fanática. O Remo escorregou feio para a Série C, onde já estava a chapinhar o Paysandu. Sim, 2007 foi um ano ruim, então por que não celebrar a temporada com dois clássico de arromba? Assim será feito. O Papão da Curuzu e o Leão de Antonio Baena vão se pegar, em duas, na maior peleja amazônica, espécie de Fitzcarraldo futebolístico.
Diante de todos esses épicos, a seleção não passa de abstração nacionalista, embora agora esteja bem mais elegante no uniforme de época inspirado na Copa de 58. O que é a zaga canarinha diante das jornadas de um imbatível Ben-Hur no Frasqueirão? O beque do ABC de Natal é o grande herói na escalada do alvinegro potiguar rumo à Segundona. Que assim seja e até a próxima!

xico.folha@uol.com.br


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