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BASQUETE NO
MUNDO
Acústico
MELCHIADES FILHO
Nada eletrifica mais um ginásio do que uma enterrada.
Mas, quando o esporte se profissionalizou, na virada de década 40/50, cravar a bola era
um sinal de deselegância.
Bill Russell, pivô que conduziu o Boston a 11 títulos, foi o
pioneiro no uso do golpe na
NBA. Mas ele apenas largava a
bola no aro -não a estufava
com força, não grunhia, nem
festejava feito doido.
"Era só um jeito seguro de fazer pontos, e não uma expressão de machismo", disse-me em
fevereiro, durante reunião de
ex-jogadores em Cleveland.
"Não havia vontade de desrespeitar o adversário", concordou, no mesmo salão, outro legendário gigante do basquete,
Wilt Chamberlain.
(Foi, aliás, devido ao desinteresse nas enterradas que Wilt
criou o "finger roll", arremesso
curto e elegante, em que a bola
é impulsionada pelos dedos.)
A polidez tinha um incentivo:
caso destruísse a tabela, o atleta
devia arcar com o reparo.
Em 1966, o circuito universitário dos EUA chegou até a
proibir o lance, incomodado
com a supremacia dos grandalhões (notadamente o adolescente Kareem Abdul-Jabbar).
Entre os profissionais, a cravada só sairia do "armário" em
1976, quando, farta de ginásios
vazios, a NBA absorveu os times e o espírito (viva o espetáculo!) da liga concorrente ABA.
O protagonista dessa transição foi o ala Julius Erving -os
treinamentos do Philadelphia
enchiam ginásios por causa de
suas acrobacias aéreas.
Ao dar nova dimensão ao jogo, Dr. J influenciou uma geração de moleques, entre eles Michael Jordan, que, nos 80 e 90,
transformaria a cravada em
símbolo internacional da NBA.
Pois não é que cuspiram no
prato? Acabo de saber que será
extinto o torneio anual de enterradas. Tudo bem que o desafio já não atraía os astros da
NBA. Mas quem viu o duelo
Jordan x Dominique Wilkins de
85 a 88 há de se entristecer.
Enterrada 1
Não há surpresas no ranking
dos que mais enterraram em
96/97 na NBA. Pela ordem:
Shaquille O'Neal (quase 30%
de suas cestas são cravadas),
Chris Webber, Shawn Kemp
("enterrar é melhor do que
transar", disse certa vez) e
Alonzo Mourning. Afora Webber, os outros têm contratos
superiores a US$ 100 milhões.
Enterrada 2
Para estufar a cesta, Gheorghe Muresan, 2,31 m, o mais alto da NBA, do Washington,
não precisa nem erguer o pé.
Enterrada 3
Chuck Connors, do Boston,
foi o primeiro a quebrar uma
tabela da NBA com enterrada
-em 5 de novembro de 1946.
Na época, os quadrados eram
de vidro, e não de resina. Após
carreira apagada como atleta,
ele virou ator -foi o pai no filme "Flipper", que deu origem
à série de TV do golfinho.
melk@uol.com.br
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