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MOTOR
É proibido fumar
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O GP Brasil está com os dias
contados. Tamas Rohonyi,
promotor da corrida, já recebeu
aval da FIA para negociar com
outros países do continente.
Ao colega Fábio Seixas, Rohonyi afirmou ter aberto conversações com os argentinos. A corrida
deste ano e de 2002 estão garantidas em Interlagos. A partir de
2003, com o banimento da publicidade tabagista, quem for ao autódromo terá que pegar avião.
É evidente o tom de bravata do
promotor. A idéia é forçar uma situação e arrancar do governo algum tipo de isenção, como acontece em países como Bélgica, Alemanha e Austrália. Até o PT deve
entrar na dança, a partir do momento em que a prefeitura paulistana perceber que vai perder a
principal data esportiva de seu
extenso mas ainda pouco significativo calendário de eventos.
E é também evidente que muitos leitores esperam da coluna algo não muito diferente, já que o
risco de perder a corrida, apesar
de circunstancial, é concreto.
Existem premissas, porém, que
impedem sequer a discussão.
Defender a indústria tabagista
seria uma estupidez, por mais que
se constate o apoio dado ao automobilismo nos últimos 30 anos. O
esporte acabou viciado com o dinheiro fácil das marcas de cigarro, apesar de seus dirigentes terem plena consciência de que, um
dia, a festa iria acabar.
Se uma Williams, por exemplo,
consegue abrir mão do patrocínio
tabagista, a F-1 pode fazer o mesmo -e em muito pouco tempo.
Outros argumentos utilizados
são igualmente pífios. Max Mosley, por exemplo, disse que só
aceitaria um banimento imediato se ficasse "cientificamente comprovado" que as pessoas começam a fumar por verem as marcas
de cigarro nos carros.
Duvidar disso é equivalente a
acreditar que as pessoas não fumarão ou deixarão de fumar porque nos filmes apenas os vilões
aparecem com cigarro na boca.
Propaganda é propaganda. Pesquisa feita em Indianápolis, à
época do GP, aponta que quase
80% dos espectadores identificaram a marca Marlboro nos carros
da Ferrari, apesar de a escuderia
estar impedida de estampar a logomarca de seu patrocinador.
E propaganda só serve para
uma coisa, vender o produto
anunciado. Não há atenuante.
Finalmente, existe o argumento
de que o bananal, mazela por
mazela, deveria engolir mais essa
em nome de sua etapa do Mundial. Afinal, os problemas do país
são muitos, e perder um GP significa milhões de dólares a menos
girando na cidade a cada ano.
Essa deixo para o governo, que
estima, com o fim da publicidade
aberta, uma queda de 20% no
consumo e, por consequência, outros tantos milhões de economia
no sistema de saúde.
Diante de tudo isso, restam apenas as lembranças de um outro
tempo, onde crianças faziam coleções de carteiras de cigarros e
conseguir uma latinha de John
Player Special, nas cores da Lotus
de Emerson Fittipaldi, era se tornar a atração do bairro.
Lembranças que permanecem,
mesmo depois de você perceber
que está ficando cada vez mais
amarelo e que seu pulmão vai durar menos que o resto do corpo.
Vício é vício. E o tal do glamour
já não resolve mais isso.
Vício 1
A exemplo do Brasil, a Hungria aprovou recentemente o
banimento da publicidade de
cigarro. Em locais públicos,
caso de Hungaroring, a proibição começa em 2002. Os organizadores, porém, já fazem
lobby por uma isenção especial para o GP, como ocorre
em outros países da Europa.
Vício 2
Nasceu segunda-feira o primeiro filho do casal Hakkinen. Para muitos, a gravidez
de Erja foi o que salvou o piloto na última temporada,
que começou pessimamente
por ele se exceder no álcool.
Vício 3
Aos italianos, Rubens Barrichello disse que corre pelo título em 2001. Aos ingleses,
nesta semana, voltou a repetir que é o futuro da Ferrari,
pensando em título só em
2003. Seu problema de discurso está ficando crônico.
E-mail : mariante@uol.com.br
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