São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2000

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MOTOR

É proibido fumar



JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

O GP Brasil está com os dias contados. Tamas Rohonyi, promotor da corrida, já recebeu aval da FIA para negociar com outros países do continente.
Ao colega Fábio Seixas, Rohonyi afirmou ter aberto conversações com os argentinos. A corrida deste ano e de 2002 estão garantidas em Interlagos. A partir de 2003, com o banimento da publicidade tabagista, quem for ao autódromo terá que pegar avião.
É evidente o tom de bravata do promotor. A idéia é forçar uma situação e arrancar do governo algum tipo de isenção, como acontece em países como Bélgica, Alemanha e Austrália. Até o PT deve entrar na dança, a partir do momento em que a prefeitura paulistana perceber que vai perder a principal data esportiva de seu extenso mas ainda pouco significativo calendário de eventos.
E é também evidente que muitos leitores esperam da coluna algo não muito diferente, já que o risco de perder a corrida, apesar de circunstancial, é concreto.
Existem premissas, porém, que impedem sequer a discussão.
Defender a indústria tabagista seria uma estupidez, por mais que se constate o apoio dado ao automobilismo nos últimos 30 anos. O esporte acabou viciado com o dinheiro fácil das marcas de cigarro, apesar de seus dirigentes terem plena consciência de que, um dia, a festa iria acabar.
Se uma Williams, por exemplo, consegue abrir mão do patrocínio tabagista, a F-1 pode fazer o mesmo -e em muito pouco tempo.
Outros argumentos utilizados são igualmente pífios. Max Mosley, por exemplo, disse que só aceitaria um banimento imediato se ficasse "cientificamente comprovado" que as pessoas começam a fumar por verem as marcas de cigarro nos carros.
Duvidar disso é equivalente a acreditar que as pessoas não fumarão ou deixarão de fumar porque nos filmes apenas os vilões aparecem com cigarro na boca.
Propaganda é propaganda. Pesquisa feita em Indianápolis, à época do GP, aponta que quase 80% dos espectadores identificaram a marca Marlboro nos carros da Ferrari, apesar de a escuderia estar impedida de estampar a logomarca de seu patrocinador.
E propaganda só serve para uma coisa, vender o produto anunciado. Não há atenuante.
Finalmente, existe o argumento de que o bananal, mazela por mazela, deveria engolir mais essa em nome de sua etapa do Mundial. Afinal, os problemas do país são muitos, e perder um GP significa milhões de dólares a menos girando na cidade a cada ano.
Essa deixo para o governo, que estima, com o fim da publicidade aberta, uma queda de 20% no consumo e, por consequência, outros tantos milhões de economia no sistema de saúde.
Diante de tudo isso, restam apenas as lembranças de um outro tempo, onde crianças faziam coleções de carteiras de cigarros e conseguir uma latinha de John Player Special, nas cores da Lotus de Emerson Fittipaldi, era se tornar a atração do bairro.
Lembranças que permanecem, mesmo depois de você perceber que está ficando cada vez mais amarelo e que seu pulmão vai durar menos que o resto do corpo.
Vício é vício. E o tal do glamour já não resolve mais isso.

Vício 1
A exemplo do Brasil, a Hungria aprovou recentemente o banimento da publicidade de cigarro. Em locais públicos, caso de Hungaroring, a proibição começa em 2002. Os organizadores, porém, já fazem lobby por uma isenção especial para o GP, como ocorre em outros países da Europa.

Vício 2
Nasceu segunda-feira o primeiro filho do casal Hakkinen. Para muitos, a gravidez de Erja foi o que salvou o piloto na última temporada, que começou pessimamente por ele se exceder no álcool.

Vício 3
Aos italianos, Rubens Barrichello disse que corre pelo título em 2001. Aos ingleses, nesta semana, voltou a repetir que é o futuro da Ferrari, pensando em título só em 2003. Seu problema de discurso está ficando crônico.

E-mail : mariante@uol.com.br


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