São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

São Paulo abafa sua crise para focar sonho mundial

Depois de boicote à imprensa, discussão sobre premiação e rusgas entre Amoroso e o presidente do clube, delegação muda de estratégia pelo tri

TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

A um jogo de ver a obsessão do tricampeonato mundial se tornar realidade, o São Paulo se esforça para transformar uma crise em momentos de "mal-entendidos".
No dia em que conheceu o seu adversário na final do Mundial de Clubes -vai decidir o título diante do Liverpool, no domingo-, o clube brasileiro tentou esquecer (e fazer os outros esquecerem) dos problemas que assolaram a delegação às vésperas da estréia e após o jogo contra o Al Ittihad.
A greve de silêncio decretada depois da semifinal foi suspensa, o discurso sobre a definição do valor do prêmio pelo título no Japão foi ensaiado e até mesmo as declarações do presidente Marcelo Portugal Gouvêa com relação ao destino do atacante Amoroso mudaram radicalmente.
Tudo isso para fazer com que o foco são-paulino se transfira das questões extracampo, que tanta atenção despertaram, para o desempenho do time dentro dos gramados japoneses.
A primeira mudança no rumo que o São Paulo deu à sua presença no Mundial veio dos jogadores, que voltaram a falar com a imprensa e assumiram a autoria do ato de protesto -anteontem, alguns atletas deram a entender que a decisão de não falarem partira da diretoria, que negou o fato.
"Foi uma decisão dos jogadores. A maioria estava magoada com tudo o que estava saindo nos jornais. Temos amigos e pessoas que dependem da gente. E fica parecendo que somos mercenários", disse o goleiro Rogério, tido como um dos autores do boicote.
Durante a conversa, o jogador pegou um papel e enumerou as chamadas que foram publicadas pelos meios de comunicação brasileiros, classificando-as como "inverdades". "De todo o tempo em que eu estou aqui, esse é o meu melhor ano", falou.
Além do capitão, o zagueiro Lugano e o atacante Amoroso também concederam entrevistas.
O presidente do clube, Marcelo Portugal Gouvêa, foi outro que mudou seu discurso. Dois dias antes de o time estrear no Mundial, ele se irritou com Amoroso. O atacante declarou publicamente que já assinara um pré-contrato com o FC Tokyo, com multa rescisória de US$ 500 mil. O presidente chegou a desejar sorte para o jogador em outro clube. Ontem, porém, falou que renovar com o goleador é prioridade.
"A situação estava tão ruim que ele foi lá e fez dois gols. Viu só? Viu só? E diziam que ele estava brigando com o presidente. Vamos fazer tudo para o Amoroso ficar. Só não fica se aparecer algo irrecusável", disse Gouvêa, culpando a mídia pelo mal-estar causado pela questão da renovação.
Até mesmo Amoroso, que se mostrava irritado pelo descaso do clube em antecipar a sua renovação, ontem falava da felicidade de ter feito dois gols no Mundial.
"Não teve nada. Comemorei daquele jeito [socando o ar e xingando] para extravasar a ansiedade dos treinamentos", afirmou, descartando o sabor de vingança contra o seu então oponente, o comandante do clube.
O atacante também minimizou a multa de seu pré-contrato como empecilho para permanecer no Morumbi em 2006.
"Já falei que multa não é problema. Se for feito um contrato por mais tempo, posso ficar no clube", disse ele, mudando o rumo da sua conversa e se esforçando para mostrar a nova postura -dias antes da estréia no Mundial, havia até recebido a visita de um empresário que queria levá-lo para o futebol francês.
O time do São Paulo chegou ontem a Yokohama e, à noite, repetiu o ritual de ver o jogo dos rivais no estádio. Talvez os 3 a 0 do Liverpool sobre o Saprissa tenham feito a equipe mudar de atitude.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Técnico crê que desempenho de rival foi normal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.