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São Paulo abafa sua crise para focar sonho mundial
Depois de boicote à imprensa, discussão sobre premiação e rusgas entre Amoroso e o presidente do clube, delegação muda de estratégia pelo tri
TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
A um jogo de ver a obsessão do
tricampeonato mundial se tornar
realidade, o São Paulo se esforça
para transformar uma crise em
momentos de "mal-entendidos".
No dia em que conheceu o seu
adversário na final do Mundial de
Clubes -vai decidir o título diante do Liverpool, no domingo-, o
clube brasileiro tentou esquecer
(e fazer os outros esquecerem)
dos problemas que assolaram a
delegação às vésperas da estréia e
após o jogo contra o Al Ittihad.
A greve de silêncio decretada
depois da semifinal foi suspensa,
o discurso sobre a definição do
valor do prêmio pelo título no Japão foi ensaiado e até mesmo as
declarações do presidente Marcelo Portugal Gouvêa com relação
ao destino do atacante Amoroso
mudaram radicalmente.
Tudo isso para fazer com que o
foco são-paulino se transfira das
questões extracampo, que tanta
atenção despertaram, para o desempenho do time dentro dos
gramados japoneses.
A primeira mudança no rumo
que o São Paulo deu à sua presença no Mundial veio dos jogadores,
que voltaram a falar com a imprensa e assumiram a autoria do
ato de protesto -anteontem, alguns atletas deram a entender que
a decisão de não falarem partira
da diretoria, que negou o fato.
"Foi uma decisão dos jogadores.
A maioria estava magoada com
tudo o que estava saindo nos jornais. Temos amigos e pessoas que
dependem da gente. E fica parecendo que somos mercenários",
disse o goleiro Rogério, tido como
um dos autores do boicote.
Durante a conversa, o jogador
pegou um papel e enumerou as
chamadas que foram publicadas
pelos meios de comunicação brasileiros, classificando-as como
"inverdades". "De todo o tempo
em que eu estou aqui, esse é o
meu melhor ano", falou.
Além do capitão, o zagueiro Lugano e o atacante Amoroso também concederam entrevistas.
O presidente do clube, Marcelo
Portugal Gouvêa, foi outro que
mudou seu discurso. Dois dias
antes de o time estrear no Mundial, ele se irritou com Amoroso.
O atacante declarou publicamente que já assinara um pré-contrato
com o FC Tokyo, com multa rescisória de US$ 500 mil. O presidente chegou a desejar sorte para
o jogador em outro clube. Ontem,
porém, falou que renovar com o
goleador é prioridade.
"A situação estava tão ruim que
ele foi lá e fez dois gols. Viu só?
Viu só? E diziam que ele estava
brigando com o presidente. Vamos fazer tudo para o Amoroso
ficar. Só não fica se aparecer algo
irrecusável", disse Gouvêa, culpando a mídia pelo mal-estar causado pela questão da renovação.
Até mesmo Amoroso, que se
mostrava irritado pelo descaso do
clube em antecipar a sua renovação, ontem falava da felicidade de
ter feito dois gols no Mundial.
"Não teve nada. Comemorei daquele jeito [socando o ar e xingando] para extravasar a ansiedade dos treinamentos", afirmou,
descartando o sabor de vingança
contra o seu então oponente, o
comandante do clube.
O atacante também minimizou
a multa de seu pré-contrato como
empecilho para permanecer no
Morumbi em 2006.
"Já falei que multa não é problema. Se for feito um contrato por
mais tempo, posso ficar no clube", disse ele, mudando o rumo
da sua conversa e se esforçando
para mostrar a nova postura
-dias antes da estréia no Mundial, havia até recebido a visita de
um empresário que queria levá-lo
para o futebol francês.
O time do São Paulo chegou ontem a Yokohama e, à noite, repetiu o ritual de ver o jogo dos rivais
no estádio. Talvez os 3 a 0 do Liverpool sobre o Saprissa tenham
feito a equipe mudar de atitude.
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