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"Cria" de Borges cresce e rouba cena nas piscinas
César Cielo quebra recordes, ganha elogios de ídolos e vira esperança olímpica
Nadador de 19 anos foi
o último a treinar com medalhista olímpico antes da aposentadoria; parceria rendeu recorde continental
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O garoto do interior de São
Paulo apareceu quando Gustavo Borges já planejava encerrar
sua trajetória nas piscinas.
Graças a uma manobra de
sua mãe, César Cielo Filho conquistou espaço para ser o último parceiro de treinos do mais
premiado nadador do Brasil.
Velocista, 16 anos, título de
campeão nacional em sua faixa
etária. Um currículo que, na
época, não era diferente do de
tantos outros atletas no Brasil.
Só que, pouco tempo e algumas braçadas depois, Borges
percebeu algo incomum naquele que nadava ao seu lado.
"Ele não estava satisfeito só por
estar na mesma piscina que eu.
Nos treinamentos, tentava me
vencer a todo custo. Nesse conflito de gerações, percebi que
era um cara diferenciado. Eu
sabia que, no futuro, ele faria
tempo melhores que os meus."
A espera nem foi tão longa.
Nos últimos dois dias, Cielo registrou performances arrebatadoras no Campeonato Brasileiro, disputado em Vitória (ES).
Deixou a geração de Borges e
companhia para trás, arrancou
elogios e incentivos de seus
ídolos e assumiu o posto de
principal nome da natação.
Anteontem, Cielo cravou
48s61 nos 100 m livre, prova
mais badalada da modalidade.
A marca é a mais rápida já obtida por um atleta da América
do Sul e o deixaria na quarta posição nos últimos Mundial
(2005) e Olimpíada (2004).
Borges, dono de quatro medalhas olímpicas, uma obtida
justamente nos 100 m livre,
nunca nadou a distância abaixo
dos 49 segundos. Fernando
Scherer, outro que chegou ao
pódio nos Jogos -bronze em
Atlanta-1996-, era o detentor
do recorde e ficou assombrado.
"Mandei na hora um e-mail
para o César. Pedi para ele
manter o foco, seguir treinando. Temos outros ótimos atletas, mas o César é o melhor do
Brasil, o único que tem chances
reais de subir no pódio olímpico", diz Scherer, que ainda
mantém o recorde continental
dos 50 m livre, com 22s18
-Cielo marcou ontem 22s33.
Um levantamento elaborado
por Alexandre Pussieldi, técnico brasileiro radicado nos EUA,
ajuda a entender a dimensão do
feito do paulista de Santa Bárbara d'Oeste. Seu tempo nos
100 m é o melhor da história
para esportistas de 19 anos.
"É muito bom superar marcas de atletas que eu sempre
admirei. Agora vou treinar para
tentar uma medalha de ouro
olímpica", afirma o nadador.
Tal projeto ambicioso talvez
fosse impensável caso sua mãe,
Flávia, não criasse um plano
para manter o filho por perto.
Aos 16, o nadador queria seguir para os EUA. Mas, após assistir a uma palestra de Alberto
Pinto, o treinador de Gustavo
Borges, Flávia resolveu agir.
"Ela me procurou e disse que
o filho não iria deixar o país se
tivesse a chance de treinar com
o ídolo em São Paulo. Aceitei
porque percebi que a parceria
seria boa para os dois nadadores. Estamos colhendo frutos."
Depois da aposentadoria de
Borges, em 2004, Cielo buscou
enfim sua experiência no exterior -passou alguns meses em
Auburn, nos EUA. Agora, está
de volta às mãos de Alberto.
O treinador vai desenvolver
um programa visando o Mundial de 2007, que ocorre em
março, e o Pan do Rio, em julho.
"Pela idade e dedicação, sei
que ele pode evoluir mais."
O vaticínio deixa adversários
assustados, mesmo os mais tarimbados. É o caso de Scherer,
32, que busca o quarto ouro
consecutivo nos 50 m livre em
Jogos Pan-Americanos.
"A sorte do Borges é que ele
já parou. Eu vou sofrer com esse moleque no ano que vem.
Tenho mais de 30, meu corpo já
não agüenta mais tanta porrada. Enquanto isso, o César tem
19 anos e muito talento. Nessa
idade, tudo dá certo, é uma maravilha. Será difícil segurá-lo."
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