São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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"Cria" de Borges cresce e rouba cena nas piscinas

César Cielo quebra recordes, ganha elogios de ídolos e vira esperança olímpica

Nadador de 19 anos foi o último a treinar com medalhista olímpico antes da aposentadoria; parceria rendeu recorde continental

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O garoto do interior de São Paulo apareceu quando Gustavo Borges já planejava encerrar sua trajetória nas piscinas.
Graças a uma manobra de sua mãe, César Cielo Filho conquistou espaço para ser o último parceiro de treinos do mais premiado nadador do Brasil.
Velocista, 16 anos, título de campeão nacional em sua faixa etária. Um currículo que, na época, não era diferente do de tantos outros atletas no Brasil.
Só que, pouco tempo e algumas braçadas depois, Borges percebeu algo incomum naquele que nadava ao seu lado. "Ele não estava satisfeito só por estar na mesma piscina que eu. Nos treinamentos, tentava me vencer a todo custo. Nesse conflito de gerações, percebi que era um cara diferenciado. Eu sabia que, no futuro, ele faria tempo melhores que os meus."
A espera nem foi tão longa. Nos últimos dois dias, Cielo registrou performances arrebatadoras no Campeonato Brasileiro, disputado em Vitória (ES).
Deixou a geração de Borges e companhia para trás, arrancou elogios e incentivos de seus ídolos e assumiu o posto de principal nome da natação.
Anteontem, Cielo cravou 48s61 nos 100 m livre, prova mais badalada da modalidade.
A marca é a mais rápida já obtida por um atleta da América do Sul e o deixaria na quarta posição nos últimos Mundial (2005) e Olimpíada (2004).
Borges, dono de quatro medalhas olímpicas, uma obtida justamente nos 100 m livre, nunca nadou a distância abaixo dos 49 segundos. Fernando Scherer, outro que chegou ao pódio nos Jogos -bronze em Atlanta-1996-, era o detentor do recorde e ficou assombrado.
"Mandei na hora um e-mail para o César. Pedi para ele manter o foco, seguir treinando. Temos outros ótimos atletas, mas o César é o melhor do Brasil, o único que tem chances reais de subir no pódio olímpico", diz Scherer, que ainda mantém o recorde continental dos 50 m livre, com 22s18 -Cielo marcou ontem 22s33.
Um levantamento elaborado por Alexandre Pussieldi, técnico brasileiro radicado nos EUA, ajuda a entender a dimensão do feito do paulista de Santa Bárbara d'Oeste. Seu tempo nos 100 m é o melhor da história para esportistas de 19 anos.
"É muito bom superar marcas de atletas que eu sempre admirei. Agora vou treinar para tentar uma medalha de ouro olímpica", afirma o nadador.
Tal projeto ambicioso talvez fosse impensável caso sua mãe, Flávia, não criasse um plano para manter o filho por perto.
Aos 16, o nadador queria seguir para os EUA. Mas, após assistir a uma palestra de Alberto Pinto, o treinador de Gustavo Borges, Flávia resolveu agir.
"Ela me procurou e disse que o filho não iria deixar o país se tivesse a chance de treinar com o ídolo em São Paulo. Aceitei porque percebi que a parceria seria boa para os dois nadadores. Estamos colhendo frutos."
Depois da aposentadoria de Borges, em 2004, Cielo buscou enfim sua experiência no exterior -passou alguns meses em Auburn, nos EUA. Agora, está de volta às mãos de Alberto.
O treinador vai desenvolver um programa visando o Mundial de 2007, que ocorre em março, e o Pan do Rio, em julho.
"Pela idade e dedicação, sei que ele pode evoluir mais."
O vaticínio deixa adversários assustados, mesmo os mais tarimbados. É o caso de Scherer, 32, que busca o quarto ouro consecutivo nos 50 m livre em Jogos Pan-Americanos.
"A sorte do Borges é que ele já parou. Eu vou sofrer com esse moleque no ano que vem. Tenho mais de 30, meu corpo já não agüenta mais tanta porrada. Enquanto isso, o César tem 19 anos e muito talento. Nessa idade, tudo dá certo, é uma maravilha. Será difícil segurá-lo."


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