São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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RODRIGO BUENO

Universal é a Libertadores


Proposta de Platini de dar chance aos mais "fracos" na Copa dos Campeões vigora na América e pena na Europa


MUITA coisa para discutir em tão pouco espaço, mas vamos lá. Será o melhor Carnaval dos últimos tempos. Na terça, começa o mata-mata da Copa dos Campeões, que tomará também a Quarta-Feira de Cinzas (aproveite até segunda para zoar e fazer folia).
Quantos clubes do Leste Europeu estão nas oitavas? Nenhum. Quantos de países alternativos e com ligas pobres disputam a nata do mais badalado interclubes? Nenhum. Isso é uma novidade desta temporada? Não, nas duas últimas já foi assim. A auto-entrevista acima (à Palaia) cai como luva na mão de Platini, novo presidente da Uefa. Os últimos outsiders que chegaram ao mata-mata foram o tcheco Sparta Praga e o russo Lokomotiv em 2004 (caíram logo nas oitavas). O último campeão de um ""cenário diferente" foi o Estrela Vermelha, em 1991. Desde o surgimento da chamada Champions League, em 92/93, o máximo que um clube alternativo conseguiu foi a semifinal (Panathinaikos, em 95/ 96, e Dinamo de Kiev, em 98/99).
Na época do Platini jogador, a Copa dos Campeões era bem mais universal, até porque era de fato torneio de campeões (as portas se abriram para vices, terceiros e quartos depois). Poucos outsiders eram campeões, mas esses chegavam mais longe com mais freqüência. Dos 16 times que sobraram na atual disputa, 4 são da Inglaterra, hoje o país com o futebol mais endinheirado. Pelo plano de Platini, não haveria espaço para Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester United, juntos, já na fase de grupos. Se meu palpite funcionar, esses quatro estarão nas quartas, algo que não agradará ao dirigente francês. Aliás, já tivemos finais espanhola e italiana na Copa dos Campeões. Está na hora de decisão inglesa. Neste ano, algo até simbólico, a final será na Grécia, um dos centros emergentes que ainda ficam distantes da festa maior do torneio.
E é aqui que começo a misturar as coisas. A Libertadores, que vem de duas finais brasileiras seguidas e que acena para mais uma disputa ferrenha entre Argentina e Brasil, pratica a tal da universalização do inchaço da disputa (há muito time ruim e sem condição) ao regulamento mudado com a competição já iniciada (a regra contra hegemonia nacional). O Once Caldas é o exemplo clássico de fenômeno recente do torneio. Há equilíbrio maior na América porque falta dinheiro, sobra clube mal administrado e porque pesam fatores como altitude, temperatura, viagens complicadas e falta de fair play.
Condições adversas se multiplicam na Libertadores e são subtraídas na Copa dos Campeões. E as duas competições são charmosas até por essas características. Não defendo a tradicional pancadaria e o clima de guerra comum da Libertadores (torneio para macho, como uns dizem), mas também não apóio a decisão do heróico Flamengo de ""não comparecer a partidas em altitude superior aos limites recomendados pela medicina esportiva". Primeiro, a diretoria rubro-negra sabia bem do ""risco" que seu time estava correndo quando entrou no torneio, um ""risco" que todos correm não é de hoje, inclusive a seleção brasileira, e contra o qual não há proibição por parte da Fifa mesmo depois de estudos que foram feitos.
A Fifa, tão universal quanto cruel, já fez Copa nos EUA e Mundial de Clubes no Rio com jogos em temperaturas desumanas até para brasileiros (no último Nacional, o árbitro paralisou Botafogo x Corinthians para os atletas se hidratarem porque alguns estavam passando mal). O limitado Real Potosí não sofrerá no Rio como algumas seleções nórdicas sofreram no Nordeste, mas terá que se superar. Como lembrou a diretoria do time boliviano, Potosí está no planeta Terra. E, eu ""bem" lembro, está abaixo de El Alto (4.100 m), que tem estádio com grama sintética à espera de jogos importantes.

rbueno@folhasp.com.br


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