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SONINHA
Não têm nada com isso?
Os clubes não são os culpados pelo estado crítico das
categorias de base; porém também não são inocentes
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PELÉ TEM fama de falar demais
e dizer muita bobagem. Uma
frase discutível em momento
conturbado, um ou dois palpites furados e pronto, ficou marcado.
Depois reclamam quando jogadores ou celebridades se omitem ou
respondem com evasivas a questões
delicadas... As pessoas perguntam e
Pelé responde, oras. Ou opina, espontaneamente, sobre temas que
lhe são caros. Às vezes dá caneladas?
E quem não dá? Romário também
não é exatamente um poeta...
Semana passada, Pelé criticou os
dirigentes de clubes, responsabilizando-os pelo êxodo cada vez maior
de jogadores no Brasil. A culpa é toda deles (ou de todos eles, indistintamente)?. Não, existem fatores sobre os quais não têm controle o valor
do euro, o abismo social, a falta de
outras oportunidades para quem
não consegue ser jogador profissional no Brasil, ambição, ganância e
vaidade são algumas das razões que,
sozinhas ou combinadas, fazem
uma proposta do estrangeiro derrotar qualquer concorrente brasileiro.
Podemos apontar dedos acusadores para governantes, legisladores e
a sociedade de modo geral (ou seria
a desigualdade resultado só de ações
e omissões do poder público?). No
futebol, especificamente, não há como não citar confederações e federações, pelo papel fomentador e regulamentador que deveriam ter. Temos também de falar nos dirigentes
de clubes. Como poderiam se eximir
e dizer que não têm nada a ver com o
estado das coisas no futebol?
Sexta-feira a Folha relatou a prisão de um picareta que se dizia empresário. Cobrando até R$ 1.500 por candidato, ele oferecia a viagem, estadia e acesso aos clubes e
de fato levava dezenas de garotos
para participar de peneiras. Ao que
tudo indica, os clubes procurados
não tomavam nenhuma providência para controlar o recebimento
desses pobres e iludidos aspirantes. Botavam os meninos em campo e acabou. Ora, se eles não se
ocuparem disso, quem o fará?
Além de ter sua própria equipe
de olheiros, bem preparados e confiáveis, seria muito recomendável
verificar quem são esses arrebanhadores de adolescentes e jovens
e investigar minimamente a origem destes. De onde vêm? Onde
está a família? Quem está responsável por eles? Quando e onde obtiveram seus documentos?
Na seleção de qualquer empregado, os patrões fazem mil e uma exigências, algumas até cruéis.
Como fechar os olhos para os esquemas de aliciamento de meninos, fingindo não saber que existem? É imperativo procurar saber
a origem de produtos e serviços,
conhecer a teia e assumir a co-responsabilidade por tudo o que diz
respeito a seus negócios.
Sérios ou safados, os empresários têm hoje muito poder no futebol. Poder sobre os jogadores, que
se deixam controlar por eles, e sobre os clubes, que se vêem obrigados a negociar com eles. Mas esse
poder não teria se consolidado se
não tivessem deixado um vácuo ou
uma porta escancarada para que se
estabelecessem. Agora que está assim, é preciso quebrar a cabeça para mudar a correlação de forças e
temo que o aperfeiçoamento da lei
que levou o nome do Pelé (mesmo
deturpada desde a origem) não seja
suficiente para consertar o estrago.
soninha.folha@uol.com.br
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