São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SONINHA

Da dificuldade de ser favorito

Ninguém é mole porque quer; é difícil ter a mesma "pegada" em campo quando se é considerado "superior"

"SE FOSSE o Palmeiras em vez do Bragantino, o Santos teria jogado mais." O comentário foi de um são-paulino, desdenhoso do desempenho do líder do campeonato diante do Bragantino, sábado. Curioso é que ele confessou ter torcido pela classificação do Palmeiras, imaginando que seria um adversário mais duro para o Santos (e mole para o São Paulo, caso se encontrassem na final). Mas, assistindo ao empate em 0 a 0, ele não teve dúvida de que o Santos também seria mais duro para o Palmeiras do que foi para o Bragantino. Por quê? Seria o famoso menosprezo, interferindo no confronto grande x pequeno?
Não creio. O Santos sabe bem o risco que corre nesta fase -em dois ou três lances fortuitos, pode jogar fora tudo o que conquistou e manteve nas 19 rodadas anteriores. Luxemburgo lembrou essa chance de infortúnio nas entrevistas após o jogo e deve ter dito o mesmo a seus atletas inúmeras vezes. Mata-mata é outro campeonato: os times se organizam de maneira diferente, e um único erro tem muito mais peso. Não é à toa que times que nunca chegaram perto de vencer o Brasileiro, mesmo no formato híbrido de anos atrás, já levantaram a Copa do Brasil. São, de fato, competições que exigem qualidades diferentes. Entre elas, uma combinação de frieza (para não errar, não se deixar pressionar pelo relógio) e ímpeto (para perseguir incansavelmente cada chance) difícil de se obter. O equilíbrio entre sangue-quente e sangue-frio.
O Santos não entraria em campo pensando que já ganhou, mesmo se sabendo favorito. Negar o favoritismo é bobagem; esse é um discurso que técnicos e jogadores se sentem obrigados a fazer, justamente para não serem acusados de menosprezo, soberba, excesso de confiança. Mas se o Bragantino eliminar o Santos, o resultado não será considerado zebra? Pois então. Favorito é o que tem mais chances, oras. O que paga menos no bolão.
Mas imagino o que o favorito deve ter dito e ouvido antes da partida. Que o Bragantino, se chegou até ali, desbancando outros 16 clubes (inclusive dois grandes), foi porque teve méritos. Que é difícil encarar quem joga fechado e aposta em contra-ataques. Que se você demorar para furar o bloqueio, a torcida fica impaciente. Que o outro não tem nada a perder, pode correr riscos (e mesmo assim não corre). Etc...
Portanto, o Santos tinha motivos, por paradoxal que pareça, para temer o Bragantino. Justamente por ser favorito, a tal condição que ninguém gosta de aceitar! Mesmo assim, fez uma apresentação abaixo da sua capacidade (sem esquecer que nem todas as partidas de sua incontestável campanha foram boas... Houve vitórias difíceis em jogos feios. Mas o Santos é um bom time, com vários jogadores de qualidade, muito acima da maioria das equipes.
E com um técnico excelente). Sobrou frieza e faltou ímpeto. Agora, depois dos resultados decepcionantes para suas torcidas, quais as chances de os favoritos não irem à final? Reais, como sempre foram -nem eu me agüento mais dizendo que esse formato é muito arriscado, com 180 minutos podendo desmentir os 1.710 anteriores-, mas pequenas. Um confronto entre São Caetano e Bragantino seria um pesadelo para a televisão, os patrocinadores, as TVs e jornais especializados, ao mesmo tempo em que seria o sonho dos secadores. Mas estes teriam de acender muito mais velas do que aqueles para vê-lo realizado.

Enquanto isso
Por motivos semelhantes aos expostos acima, Renato, do Flamengo, prefere o Botafogo à Cabofriense na final do Estadual do Rio: "A responsabilidade ficaria mais dividida, e a pressão não viria toda para um lado só".

soninha.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Tênis: Agassi acerta Graf com raquetada
Próximo Texto: Carpegiani vive sina do 8 ou 80
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.