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SONINHA
Da dificuldade de ser favorito
Ninguém é mole porque quer; é difícil ter a mesma "pegada" em campo quando se é considerado "superior"
"SE FOSSE o Palmeiras em vez
do Bragantino, o Santos teria jogado mais."
O comentário foi de um são-paulino, desdenhoso do desempenho do
líder do campeonato diante do Bragantino, sábado. Curioso é que ele
confessou ter torcido pela classificação do Palmeiras, imaginando que
seria um adversário mais duro para
o Santos (e mole para o São Paulo,
caso se encontrassem na final). Mas,
assistindo ao empate em 0 a 0, ele
não teve dúvida de que o Santos
também seria mais duro para o Palmeiras do que foi para o Bragantino.
Por quê? Seria o famoso menosprezo, interferindo no confronto
grande x pequeno?
Não creio. O Santos sabe bem o
risco que corre nesta fase -em dois
ou três lances fortuitos, pode jogar
fora tudo o que conquistou e manteve nas 19 rodadas anteriores.
Luxemburgo lembrou essa chance de infortúnio nas entrevistas após
o jogo e deve ter dito o mesmo a seus
atletas inúmeras vezes. Mata-mata é
outro campeonato: os times se organizam de maneira diferente, e um
único erro tem muito mais peso.
Não é à toa que times que nunca
chegaram perto de vencer o Brasileiro, mesmo no formato híbrido de
anos atrás, já levantaram a Copa do
Brasil. São, de fato, competições que
exigem qualidades diferentes. Entre
elas, uma combinação de frieza (para não errar, não se deixar pressionar pelo relógio) e ímpeto (para perseguir incansavelmente cada chance) difícil de se obter. O equilíbrio
entre sangue-quente e sangue-frio.
O Santos não entraria em campo
pensando que já ganhou, mesmo se
sabendo favorito. Negar o favoritismo é bobagem; esse é um discurso
que técnicos e jogadores se sentem
obrigados a fazer, justamente para
não serem acusados de menosprezo,
soberba, excesso de confiança.
Mas se o Bragantino eliminar o
Santos, o resultado não será considerado zebra? Pois então. Favorito é
o que tem mais chances, oras. O que
paga menos no bolão.
Mas imagino o que o favorito deve
ter dito e ouvido antes da partida.
Que o Bragantino, se chegou até ali,
desbancando outros 16 clubes (inclusive dois grandes), foi porque teve méritos. Que é difícil encarar
quem joga fechado e aposta em contra-ataques. Que se você demorar
para furar o bloqueio, a torcida fica
impaciente. Que o outro não tem
nada a perder, pode correr riscos (e
mesmo assim não corre). Etc...
Portanto, o Santos tinha motivos,
por paradoxal que pareça, para temer o Bragantino. Justamente por
ser favorito, a tal condição que ninguém gosta de aceitar! Mesmo assim, fez uma apresentação abaixo da
sua capacidade (sem esquecer que
nem todas as partidas de sua incontestável campanha foram boas...
Houve vitórias difíceis em jogos
feios. Mas o Santos é um bom time,
com vários jogadores de qualidade,
muito acima da maioria das equipes.
E com um técnico excelente). Sobrou frieza e faltou ímpeto.
Agora, depois dos resultados decepcionantes para suas torcidas,
quais as chances de os favoritos não
irem à final? Reais, como sempre foram -nem eu me agüento mais dizendo que esse formato é muito arriscado, com 180 minutos podendo
desmentir os 1.710 anteriores-, mas
pequenas. Um confronto entre São
Caetano e Bragantino seria um pesadelo para a televisão, os patrocinadores, as TVs e jornais especializados, ao mesmo tempo em que seria o
sonho dos secadores. Mas estes teriam de acender muito mais velas do
que aqueles para vê-lo realizado.
Enquanto isso
Por motivos semelhantes aos expostos acima, Renato, do Flamengo, prefere o Botafogo à Cabofriense na final do Estadual do Rio: "A
responsabilidade ficaria mais dividida, e a pressão não viria toda para
um lado só".
soninha.folha@uol.com.br
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