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depoimento
Repórter é hipnotizado e anda no vidro
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao encontrar o neurolinguista Olimar Tesser, 42,
perguntei a ele se era verdade que os jogadores caminharam sobre cacos de vidro.
"Ah, eles caminharam,
sim. E você também vai", foi
a surpreendente resposta.
"Não, não vou", respondi.
"Mas você não acredita
que seja possível caminhar?", questionou Tesser.
"Sei que é possível. Conheço gente que andou sobre
brasas. Mas não quero fazer
isso. Não vim aqui para isso.
Vim para fazer perguntas e
escrever sobre isso", falei.
Tesser se recusou a me explicar o que pretendia transmitir aos atletas com essa experiência. Retrucou que o
melhor mesmo era "você tirar sua própria conclusão".
Seguiram-se 15 minutos de
discussão, até que concluí
que ele não colaboraria se eu
não atendesse a seu pedido.
O fato de que logo deveria estar de volta à Redação da Folha e que até aquele momento não havia conseguido apurar nada ajudou na decisão.
Apesar de um intenso suor
nas mãos, igualado somente
por meu nervosismo, segui
todas as suas instruções, as
mesmas que havia passado
para os jogadores do Paulista: focar um objetivo ao longe, andar lentamente e não
pensar nos cacos de vidro.
Primeiro, pediu para acomodar com cuidado meu pé
esquerdo sobre o vidro. E pediu para colocar o outro.
""Só que aí todo o peso do
meu corpo vai ficar sobre um
dos pés", argumentei a ele.
""Fique calmo, concentração no objetivo, caminhe
lentamente. E pare de olhar
para baixo", disse Fesser.
O momento mais dramático foi quando, bem no meio
do percurso de dois metros,
me senti ""acordando". Em
vez de focar no objetivo, eu
me imaginei sendo levado
dali direto para um hospital.
Dessa vez, nem foi preciso
o neurolinguista pedir concentração. Eu mesmo, rapidamente, voltei a pensar só
no meu objetivo à frente.
Foi uma das sensações
mais intensas que já senti.
Foi um alívio muito grande
chegar ao fim do tapete.
Cheguei à conclusão de
que ele queria passar duas lições aos jogadores: não se
deixar intimidar, por mais
que algo pareça impossível, e
a importância do foco.
Em outro exercício, pediu
para fazer uma ""ponte": ficar
apoiado em dois banquinhos
só pela cabeça e pelos pés.
Mandou que sua filha subissse na minha barriga. ""Tá
me machucando. Tira ela daí,
tira ela daí", protestei.
Ele atendeu e disse: ""Você
não aguentou o peso de minha filha, mas veja o que seu
fotógrafo registrou". Vi, atônito, a foto em que ele ficou
de pé sobre minha barriga.
""E olha que eu peso 108
quilos, hein? Só não publica
isso", brincou Tesser. Já sem
hipnose, desobedeço aqui a
recomendação.
(EO)
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