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Por que não mudar o calendário do futebol?
FRANZ BECKENBAUER
especial para a Folha
A candidatura alemã para a
Copa-2006 absorve todas as
minhas energias. Recentemente, fui à Arábia Saudita, ao Kuwait e ao Qatar, depois, ao
quartel da Fifa, em Zurique.
Na cidade suíça, o presidente
Joseph Blatter reuniu destacados ex-futebolistas dos cinco
continentes para deliberar
uma comissão sobre questões
importantes. Sentamos para
discutir em um grupo de 20 pessoas de alta qualidade.
O ponto mais importante em
que todos concordamos é que
precisamos de um calendário
de jogo unificado em todo o
mundo. Deve ser evitado que as
grandes equipes européias tenham de renunciar de vez em
quando à metade de seus jogadores, porque está ocorrendo
nessas datas a Copa América
ou a Copa da África.
Naturalmente, abordou-se
também a idéia de disputar no
futuro a Copa do Mundo a cada dois anos. Mas, para isso, é
imprescindível um calendário
unificado. Do contrário, a coisa não anda.
E um Mundial a cada dois
anos não significa que haja
uma inflação de eventos importantes. Ao contrário: isso
ajuda a eliminar acontecimentos convertidos artificialmente
em importantes e faz com que
tudo se concentre no essencial.
Mas é bom que esse espinhoso
tema seja discutido por um
grupo de ex-jogadores destacados, e não por alguns senhores
idosos que em toda sua vida
não chutaram uma bola.
As possibilidades de confeccionar um calendário unitário
são esperançosas. Há décadas,
temos discutido o assunto de
modo interno. Nunca compreendi por que no verão as
pessoas não podem ir das cervejarias ao ar livre, dos parques e dos lagos diretamente ao
estádio, para aproveitar o futebol em uma noite de verão.
Nunca entendi por que as pessoas, tiritando e rangendo os
dentes, têm de aguentar nos estádios um frio de gelar os pés.
Minhas propostas tiveram
então pouco eco -para países
como Espanha e Itália, o tema é
indiferente, porque não têm invernos rigorosos.
Os alemães, ao retomar a Liga depois da grande pausa do
inverno, têm frequentemente
problemas com equipes inglesas ou sul-americanas, já em
plena temporada.
Assim, creio que não poderia
haver nada melhor para nós do
que elaborar um calendário de
jogo unificado, com uma temporada que comece em janeiro
ou fevereiro e termine em novembro ou dezembro.
E, quando, entretanto, disputam-se campeonatos mundiais,
encontrar-se-á suficiente espaço para isso. Enquanto grandes
clubes europeus, queremos que
a fusão do "G-14" defenda nossos interesses.
Como já disse, por parte dos
ex-futebolistas, haverá pouca
resistência contra novos planos
e idéias. Agora, tudo depende
de como reagirão as federações
continentais quando Blatter
lhes expuser suas idéias. Mas,
como ele é um homem com força de convicção, creio que nos
próximos anos o futebol mudará de modo fundamental.
Só não haverá uma coisa:
mudanças importantes nas regras do jogo. Deverá ser mantido o enfrentamento de 11 contra 11, e as traves devem seguir
com as mesmas medidas. Assim, o futebol manterá sua posição como o maior esporte do
mundo.
˛
Franz Beckenbauer é presidente do Bayern de
Munique e foi campeão mundial pela Alemanha
em 74, como jogador, e em 90, como técnico
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