São Paulo, sábado, 17 de abril de 1999

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Por que não mudar o calendário do futebol?

FRANZ BECKENBAUER
especial para a Folha

A candidatura alemã para a Copa-2006 absorve todas as minhas energias. Recentemente, fui à Arábia Saudita, ao Kuwait e ao Qatar, depois, ao quartel da Fifa, em Zurique.
Na cidade suíça, o presidente Joseph Blatter reuniu destacados ex-futebolistas dos cinco continentes para deliberar uma comissão sobre questões importantes. Sentamos para discutir em um grupo de 20 pessoas de alta qualidade.
O ponto mais importante em que todos concordamos é que precisamos de um calendário de jogo unificado em todo o mundo. Deve ser evitado que as grandes equipes européias tenham de renunciar de vez em quando à metade de seus jogadores, porque está ocorrendo nessas datas a Copa América ou a Copa da África.
Naturalmente, abordou-se também a idéia de disputar no futuro a Copa do Mundo a cada dois anos. Mas, para isso, é imprescindível um calendário unificado. Do contrário, a coisa não anda.
E um Mundial a cada dois anos não significa que haja uma inflação de eventos importantes. Ao contrário: isso ajuda a eliminar acontecimentos convertidos artificialmente em importantes e faz com que tudo se concentre no essencial.
Mas é bom que esse espinhoso tema seja discutido por um grupo de ex-jogadores destacados, e não por alguns senhores idosos que em toda sua vida não chutaram uma bola.
As possibilidades de confeccionar um calendário unitário são esperançosas. Há décadas, temos discutido o assunto de modo interno. Nunca compreendi por que no verão as pessoas não podem ir das cervejarias ao ar livre, dos parques e dos lagos diretamente ao estádio, para aproveitar o futebol em uma noite de verão. Nunca entendi por que as pessoas, tiritando e rangendo os dentes, têm de aguentar nos estádios um frio de gelar os pés.
Minhas propostas tiveram então pouco eco -para países como Espanha e Itália, o tema é indiferente, porque não têm invernos rigorosos.
Os alemães, ao retomar a Liga depois da grande pausa do inverno, têm frequentemente problemas com equipes inglesas ou sul-americanas, já em plena temporada.
Assim, creio que não poderia haver nada melhor para nós do que elaborar um calendário de jogo unificado, com uma temporada que comece em janeiro ou fevereiro e termine em novembro ou dezembro.
E, quando, entretanto, disputam-se campeonatos mundiais, encontrar-se-á suficiente espaço para isso. Enquanto grandes clubes europeus, queremos que a fusão do "G-14" defenda nossos interesses.
Como já disse, por parte dos ex-futebolistas, haverá pouca resistência contra novos planos e idéias. Agora, tudo depende de como reagirão as federações continentais quando Blatter lhes expuser suas idéias. Mas, como ele é um homem com força de convicção, creio que nos próximos anos o futebol mudará de modo fundamental.
Só não haverá uma coisa: mudanças importantes nas regras do jogo. Deverá ser mantido o enfrentamento de 11 contra 11, e as traves devem seguir com as mesmas medidas. Assim, o futebol manterá sua posição como o maior esporte do mundo.
˛


Franz Beckenbauer é presidente do Bayern de Munique e foi campeão mundial pela Alemanha em 74, como jogador, e em 90, como técnico



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