São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Até obra prioritária não deve estar pronta no Mundial

Projeção é de que só 25% de linha de trem planejada para desafogar trânsito em Gauteng fique pronta antes de torneio

Sul-africanos têm agora certeza de que vão abrigar o Mundial, mas admitem apelar para improviso nos projetos de infraestrutura

DO ENVIADO À ÁFRICA DO SUL

Guindastes e viadutos em obras recebem o visitante estrangeiro no aeroporto de Johannesburgo e o acompanham por todo o trajeto até o centro financeiro da metrópole sul- -africana, e de lá para Pretória, a capital da sede da Copa-2010.
São as obras do mais ambicioso projeto de infraestrutura para o Mundial, um trem de alta velocidade com 80 km de extensão para tentar amenizar o crônico problema de transporte do coração econômico e político do país, a Província de Gauteng. Mas que provavelmente não estará pronto no dia 11 de junho do ano que vem, quando o estádio Soccer City, no distrito do Soweto, receberá a primeira partida do Mundial.
"Vamos tentar ter pelo menos um trecho pronto na abertura da Copa", diz diretor técnico do projeto, Errol Braithwaite. Seria um trecho curto, no entanto, de cerca de 20 km, que pouco ajudará a resolver o problema do trânsito.
Depois de um período de sufoco, em que uma possível mudança de sede chegou a ser mencionada pelo próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, a África do Sul respira aliviada.
Não há mais dúvidas de que a Copa será realizada no país (o próprio Blatter diz que não existe possibilidade de o Mundial mudar de sede), a primeira no continente e a primeira no chamado Terceiro Mundo em 24 anos -a última aconteceu no México, em 1986.
Mas há no ar um certo clima de improviso, ou de "dar um jeitinho", e não apenas nas tentativas de melhorar o trânsito.
Os apagões, que eram comuns há cerca de um ano, a ponto de algumas lojas chiques anunciarem nas vitrines que tinham geradores próprios, hoje são bem mais raros. Porém persiste a dúvida sobre como o sistema se comportará com a carga extra necessária durante o período da Copa do Mundo.
Como solução, o governo sul--africano fechou um acordo com 11 países vizinhos (a maioria extremamente pobre) para pegar "emprestados" 700 MW de eletricidade, por meio de redes interligadas de transmissão, caso seja necessário.
Os organizadores da Copa asseguram que isso seria suficiente para suprir o aumento da demanda previsto durante o Mundial, estimado em 3%.
Outro problema grave do país, a falta de quartos de hotéis, terá solução parecida. Países vizinhos como Lesoto, Suazilândia, Moçambique e Botsuana devem acomodar parte da demanda. Os sul-africanos precisam de 55 mil quartos de hotel para a Copa, mas até agora têm somente 35 mil.
Até gente do estafe da CBF já reclamou da oferta de hotéis para a seleção no próximo ano.
"Existe uma grande lacuna entre o que existe no país e o que é necessário, e portanto é preciso mais receita para preenchê-la. Em nosso caso, é algo como 30 bilhões de rands [US$ 3,5 bilhões]", afirma Danny Jordaan, o diretor-executivo do comitê organizador da Copa de 2010.
A crise financeira mundial trouxe mais um inesperado ponto de interrogação, e Jordaan admite que o impacto será sentido, mas de forma restrita.
A sorte da África do Sul é que, quando a crise estourou, no ano passado, 90% das obras já estavam contratadas.
Os organizadores preferem apontar para o aspecto mais animador da preparação, a construção e reforma dos estádios. Até dezembro, todas as obras devem estar prontas, mesmo as arenas que sofreram atrasos por causa de greves ou disputas judiciais, na Cidade do Cabo e em Nelspruit.
Em muitos aspectos, sente- -se também uma certa flexibilidade da Fifa quanto aos padrões de um torneio realizado num país que, apesar do crescimento econômico vigoroso da última década, em torno de 5% ao ano, ainda é um dos mais pobres onde o Mundial de futebol já foi realizado.
"Há um modelo novo sendo testado. A Fifa percebeu que não poderia mais ter Copas do Mundo apenas em países ricos", diz Paul Singh, diretor do Departamento de Estudos em Esportes da Universidade de Johannesburgo. (FÁBIO ZANINI)


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