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Até obra prioritária não deve estar pronta no Mundial
Projeção é de que só 25% de linha de trem planejada para desafogar trânsito em Gauteng fique pronta antes de torneio
Sul-africanos têm agora certeza de que vão abrigar o Mundial, mas admitem apelar para improviso nos projetos de infraestrutura
DO ENVIADO À ÁFRICA DO SUL
Guindastes e viadutos em
obras recebem o visitante estrangeiro no aeroporto de Johannesburgo e o acompanham
por todo o trajeto até o centro
financeiro da metrópole sul-
-africana, e de lá para Pretória,
a capital da sede da Copa-2010.
São as obras do mais ambicioso projeto de infraestrutura
para o Mundial, um trem de alta velocidade com 80 km de extensão para tentar amenizar o
crônico problema de transporte do coração econômico e político do país, a Província de Gauteng. Mas que provavelmente
não estará pronto no dia 11 de
junho do ano que vem, quando
o estádio Soccer City, no distrito do Soweto, receberá a primeira partida do Mundial.
"Vamos tentar ter pelo menos um trecho pronto na abertura da Copa", diz diretor técnico do projeto, Errol Braithwaite. Seria um trecho curto, no
entanto, de cerca de 20 km, que
pouco ajudará a resolver o problema do trânsito.
Depois de um período de sufoco, em que uma possível mudança de sede chegou a ser
mencionada pelo próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter,
a África do Sul respira aliviada.
Não há mais dúvidas de que a
Copa será realizada no país (o
próprio Blatter diz que não
existe possibilidade de o Mundial mudar de sede), a primeira
no continente e a primeira no
chamado Terceiro Mundo em
24 anos -a última aconteceu
no México, em 1986.
Mas há no ar um certo clima
de improviso, ou de "dar um
jeitinho", e não apenas nas tentativas de melhorar o trânsito.
Os apagões, que eram comuns há cerca de um ano, a
ponto de algumas lojas chiques
anunciarem nas vitrines que tinham geradores próprios, hoje
são bem mais raros. Porém persiste a dúvida sobre como o sistema se comportará com a carga extra necessária durante o
período da Copa do Mundo.
Como solução, o governo sul--africano fechou um acordo
com 11 países vizinhos (a maioria extremamente pobre) para
pegar "emprestados" 700 MW
de eletricidade, por meio de redes interligadas de transmissão, caso seja necessário.
Os organizadores da Copa asseguram que isso seria suficiente para suprir o aumento
da demanda previsto durante o
Mundial, estimado em 3%.
Outro problema grave do
país, a falta de quartos de hotéis, terá solução parecida. Países vizinhos como Lesoto, Suazilândia, Moçambique e Botsuana devem acomodar parte
da demanda. Os sul-africanos
precisam de 55 mil quartos de
hotel para a Copa, mas até agora têm somente 35 mil.
Até gente do estafe da CBF já
reclamou da oferta de hotéis
para a seleção no próximo ano.
"Existe uma grande lacuna
entre o que existe no país e o
que é necessário, e portanto é
preciso mais receita para
preenchê-la. Em nosso caso, é
algo como 30 bilhões de rands
[US$ 3,5 bilhões]", afirma
Danny Jordaan, o diretor-executivo do comitê organizador
da Copa de 2010.
A crise financeira mundial
trouxe mais um inesperado
ponto de interrogação, e Jordaan admite que o impacto será
sentido, mas de forma restrita.
A sorte da África do Sul é que,
quando a crise estourou, no ano
passado, 90% das obras já estavam contratadas.
Os organizadores preferem
apontar para o aspecto mais
animador da preparação, a
construção e reforma dos estádios. Até dezembro, todas as
obras devem estar prontas,
mesmo as arenas que sofreram
atrasos por causa de greves ou
disputas judiciais, na Cidade do
Cabo e em Nelspruit.
Em muitos aspectos, sente-
-se também uma certa flexibilidade da Fifa quanto aos padrões de um torneio realizado
num país que, apesar do crescimento econômico vigoroso da
última década, em torno de 5%
ao ano, ainda é um dos mais pobres onde o Mundial de futebol
já foi realizado.
"Há um modelo novo sendo
testado. A Fifa percebeu que
não poderia mais ter Copas do
Mundo apenas em países ricos", diz Paul Singh, diretor do
Departamento de Estudos em
Esportes da Universidade de
Johannesburgo.
(FÁBIO ZANINI)
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