|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Foi como...
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Foi como um cego, que, depois de operar a vista, abre os
olhos lentamente e se depara com
os luxuriantes tons avermelhados
de um pôr do sol... Não, muito
poético.
Foi como, depois de andar por
todos os andares de um shopping
center, finalmente encontrar um
banheiro, abaixar o zíper e soltar
um poderoso jato de urina... Não,
muito vulgar.
Foi como, depois passar horas
conversando com aquela bela
moça, finalmente inclinar a cabeça em direção a ela e tocar-lhe os
lábios suavemente... Não, muito
romântico.
Foi como emergir à superfície
depois de passar longos segundos
de aflição preso embaixo d'água,
não sabendo se seus pulmões
iriam aguentar... Não, muito dramático.
Desisto! Deixemos para lá as
imagens metafóricas. Digamos
que a vitória sobre o Peru de Muchotrigo foi um alívio e pronto.
Talvez ela não tenha sido excepcional, certamente não mostrou um futebol brilhante, mas
serviu para que recuperássemos
um pouco da auto-estima.
Não vencíamos havia seis partidas e não fazíamos um mísero gol
havia cinco horas e 40 minutos,
de modo que estes 2 a 0 tiveram
um sabor especial: um arroz com
feijão com jeito de camarão.
Creio que um dos segredos da
vitória foi o reconhecimento de
que a seleção não é mais um esquadrão invencível, de que ela
não estava perdendo apenas por
azar, acaso ou bruxaria.
Luiz Felipe Scolari viu que a seleção tinha as qualidades de um
time mediano e tratou-a desse
modo. Tanto que a escalou com
três zagueiros e dois volantes de
destruição.
Conhece-te a ti mesmo é uma
máxima que vale também para o
futebol, e parece que a comissão
técnica, e mesmo nós, torcedores,
começamos a entendê-la. O que
não é fácil.
É como se não conseguíssemos
tirar da cabeça as exibições da seleção de 1970, a lendária equipe
de 1958 e 1962 ou o balé das seleções de Telê.
O torcedor brasileiro, até bem
pouco tempo, sentia que sua equipe era algo superior, uma equipe
que, mesmo que estivesse perdendo, até o final do jogo certamente
iria virar o placar.
Mas esse complexo de superioridade pouco a pouco vem se modificando. Já começamos a admitir
que não temos o melhor futebol
do mundo.
Talvez a seleção deva fazer como Rubens Barrichello, que parou de resmungar, assumiu sua
condição de segundo piloto e agora luta para chegar onde realmente pode chegar.
Mais calmo, ele não quer mais
mostrar que é melhor do que
Schumacher. Passou a correr de
forma mais cerebral e vem somando pontos. Se continuar assim, pode ser vice-campeão mundial, o que, convenhamos, é hoje o
seu limite.
Voltando ao futebol, e para não
parecer muito pessimista, reconheço que depois da entrada dos
Juninhos, de Denílson e, principalmente, depois da expulsão de
Salazar, o Brasil chegou a jogar
bem. Houve alguns bons dribles,
jogadas criativas e lampejos de
inteligência. Pode parecer pouco,
mas essa é a nossa realidade
atualmente.
Amanhã, uma vitória contra os
reservas do Paraguai terá o mesmo sabor de uma vitória contra a
Alemanha. Torcendo as palavras
de Machado de Assis, estamos numa fase em que é melhor cair do
terceiro andar do que das nuvens.
Bis
Para os santistas que achavam que o gol do corintiano
Ricardinho tinha sido a tragédia máxima e que um raio
não cai duas vezes no mesmo
lugar, o gol diante do América do México, aos 46min do
segundo tempo, foi um triste
déja-vu. Para piorar, o Santos
perdeu nos pênaltis.
Selefolha
Leandro Torres Mattera
manda uma Selefolha, somente com os colunistas do
jornal. A saber: Sérgio "Dávila" (Palmeiras); Rodrigo
"Bueno" (ex-Corinthians),
Carlinhos "Heitor Cony" (ex-Santos), Álvaro "Pereira Jr"
(ex-São Paulo) e Zé Roberto
"Torero" (ex-Lusa); Simão
"Macaco" (ex-Lusa), Valdo
"Cruz" (Atlético-MG), Fernando "Rodrigues" (Juventude) e Marcelinho "Coelho"
(Corinthians); Clóvis "Rossi"
(ex-Corinthians) e Luizão
"Nassif" (Corinthians). Seria
um time bem articulado.
E-mail: torero@uol.com.br
Texto Anterior: Adversário é carrasco de várias estrelas Próximo Texto: Automobilismo: Barrichello acha que seis últimos GPs serão cruciais para seu futuro Índice
|