São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2001

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FUTEBOL

Foi como...

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Foi como um cego, que, depois de operar a vista, abre os olhos lentamente e se depara com os luxuriantes tons avermelhados de um pôr do sol... Não, muito poético.
Foi como, depois de andar por todos os andares de um shopping center, finalmente encontrar um banheiro, abaixar o zíper e soltar um poderoso jato de urina... Não, muito vulgar.
Foi como, depois passar horas conversando com aquela bela moça, finalmente inclinar a cabeça em direção a ela e tocar-lhe os lábios suavemente... Não, muito romântico.
Foi como emergir à superfície depois de passar longos segundos de aflição preso embaixo d'água, não sabendo se seus pulmões iriam aguentar... Não, muito dramático.
Desisto! Deixemos para lá as imagens metafóricas. Digamos que a vitória sobre o Peru de Muchotrigo foi um alívio e pronto.
Talvez ela não tenha sido excepcional, certamente não mostrou um futebol brilhante, mas serviu para que recuperássemos um pouco da auto-estima.
Não vencíamos havia seis partidas e não fazíamos um mísero gol havia cinco horas e 40 minutos, de modo que estes 2 a 0 tiveram um sabor especial: um arroz com feijão com jeito de camarão.
Creio que um dos segredos da vitória foi o reconhecimento de que a seleção não é mais um esquadrão invencível, de que ela não estava perdendo apenas por azar, acaso ou bruxaria.
Luiz Felipe Scolari viu que a seleção tinha as qualidades de um time mediano e tratou-a desse modo. Tanto que a escalou com três zagueiros e dois volantes de destruição.
Conhece-te a ti mesmo é uma máxima que vale também para o futebol, e parece que a comissão técnica, e mesmo nós, torcedores, começamos a entendê-la. O que não é fácil.
É como se não conseguíssemos tirar da cabeça as exibições da seleção de 1970, a lendária equipe de 1958 e 1962 ou o balé das seleções de Telê.
O torcedor brasileiro, até bem pouco tempo, sentia que sua equipe era algo superior, uma equipe que, mesmo que estivesse perdendo, até o final do jogo certamente iria virar o placar.
Mas esse complexo de superioridade pouco a pouco vem se modificando. Já começamos a admitir que não temos o melhor futebol do mundo.
Talvez a seleção deva fazer como Rubens Barrichello, que parou de resmungar, assumiu sua condição de segundo piloto e agora luta para chegar onde realmente pode chegar.
Mais calmo, ele não quer mais mostrar que é melhor do que Schumacher. Passou a correr de forma mais cerebral e vem somando pontos. Se continuar assim, pode ser vice-campeão mundial, o que, convenhamos, é hoje o seu limite.
Voltando ao futebol, e para não parecer muito pessimista, reconheço que depois da entrada dos Juninhos, de Denílson e, principalmente, depois da expulsão de Salazar, o Brasil chegou a jogar bem. Houve alguns bons dribles, jogadas criativas e lampejos de inteligência. Pode parecer pouco, mas essa é a nossa realidade atualmente.
Amanhã, uma vitória contra os reservas do Paraguai terá o mesmo sabor de uma vitória contra a Alemanha. Torcendo as palavras de Machado de Assis, estamos numa fase em que é melhor cair do terceiro andar do que das nuvens.

Bis
Para os santistas que achavam que o gol do corintiano Ricardinho tinha sido a tragédia máxima e que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, o gol diante do América do México, aos 46min do segundo tempo, foi um triste déja-vu. Para piorar, o Santos perdeu nos pênaltis.

Selefolha
Leandro Torres Mattera manda uma Selefolha, somente com os colunistas do jornal. A saber: Sérgio "Dávila" (Palmeiras); Rodrigo "Bueno" (ex-Corinthians), Carlinhos "Heitor Cony" (ex-Santos), Álvaro "Pereira Jr" (ex-São Paulo) e Zé Roberto "Torero" (ex-Lusa); Simão "Macaco" (ex-Lusa), Valdo "Cruz" (Atlético-MG), Fernando "Rodrigues" (Juventude) e Marcelinho "Coelho" (Corinthians); Clóvis "Rossi" (ex-Corinthians) e Luizão "Nassif" (Corinthians). Seria um time bem articulado.

E-mail: torero@uol.com.br


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