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Tetras trocam burocracia do campo pela do gabinete
Dez anos após título, campeões seguem no futebol, mas deixam gramados para empresariar atletas, comandar clubes, montar CT e ajudar governo
EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles ganharam uma Copa e tiraram o Brasil de uma fila de 24
anos com o rótulo de burocratas,
mas foi quando a bola parou de
rolar para eles que essa fama passou a se justificar de verdade.
Os tetracampeões, que hoje
completam dez anos da conquista
do Mundial dos EUA, preferiram,
na maior parte dos casos, seguir
no futebol como cartolas, empresários, donos de centro de treinamento, comentaristas e membros
de órgãos governamentais.
Dos 14 oficialmente aposentados, dez se enquadram em uma
dessas categorias, e só quatro optaram por funções de campo, como, por exemplo, treinador.
Entre os oito na ativa, alguns já
ensaiam seguir o mesmo caminho, como Zinho, que chegou a
controlar clube no Rio, e Romário, que queria ser o "dono" das
categorias de base do Vasco.
Nenhuma outra seleção brasileira campeã mundial viu um número tão grande de jogadores seguirem no futebol, mas de terno e
gravata. Nem 40% dos 22 atletas
do tri voltaram ao esporte como
"burocratas" -e sem a variedade
de funções da turma de 1994.
O ex-lateral Branco e o ex-zagueiro Ronaldão quebraram uma
barreira ao virarem cartolas, posto raro para ex-jogadores no país.
O primeiro é coordenador das
categorias de base da CBF, e o segundo, gerente da Ponte Preta,
seu último clube como jogador.
"Eu conversava muito com os
dirigentes da Ponte. Me falavam
sobre cotas, orçamentos, transferências, e descobri que gostava
disso", disse Ronaldão, que pretende fazer estágios no Japão e no
Milan, onde um outro tetra foi
ainda mais longe na cartolagem.
Leonardo, que ficou marcado
na Copa-94 pela cotovelada que
deu em um jogador americano, é
um dos principais dirigentes do
clube italiano. Com Raí, comentarista de TV, Leonardo tem uma
ONG de apoio a crianças carentes.
Mas é a função de empresário
que tomou conta do posto de treinador ou comentarista, o antigo
caminho dos ex-campeões.
Nada menos do que quatro tetras seguem essa trilha -o lateral
Jorginho, o atacante Bebeto, o volante Mazinho e o goleiro Gilmar.
"A maioria dos jogadores de
1994 terminou a carreira em uma
situação muito boa. Se assumisse
como treinador, ganharia dinheiro mais rápido, mas não teria
tempo para a minha família. Hoje,
como empresário, faço minha
própria agenda", justifica Jorginho, que tem uma empresa em
parceria com Bebeto que cuida
dos interesses de 12 atletas.
"Eu gosto de trabalhar como
empresário. Parei de jogar só dentro de campo. Eu continuo com
uma rotina parecida hoje. Me encontro com dirigentes, atletas, visito clubes o tempo todo", afirma
Gilmar, que atualmente cuida da
carreira de 13 jogadores.
Nos casos de Dunga e de Paulo
Sérgio, uma só função fora dos
gramados é pouco.
O capitão divide seu tempo como comentarista, consultor de
um clube japonês e membro da
Comissão Nacional de Atletas, órgão do Ministério do Esporte.
Paulo Sérgio também é versátil.
Ele é o homem do poderoso Bayern de Munique na América do
Sul -qualquer negócio do clube
na região passa por ele.
O ex-atacante acumula a função
de representante do Bayern com a
de assessor de futebol da marca
Wilson no Brasil. Foi ele quem intermediou o contrato da empresa
de material esportivo com o São
Caetano. O ex-jogador ainda tem
um moderno hotel-fazenda no
interior de São Paulo, no qual costuma hospedar clubes de futebol.
"Nós vemos hoje que muitos ex-jogadores têm capacidade para
dirigir, administrar, mas isso ainda não é bem visto no Brasil."
Entre os tetras que preferiram
seguir no futebol em funções de
campo, só Zetti, que treina o Guarani, já está em um patamar avançado. Ricardo Rocha espera proposta para treinar um time. Müller teve uma experiência no Ipatinga, e Taffarel trocou o plano de
abrir um restaurante para ser preparador de goleiros na Turquia.
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