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MOTOR
Vai, Piquet!
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Nelson Piquet afirmou à Folha que fará qualquer coisa
para colocar seu filho na F-1, desde que não seja "imoral, ilegal ou
engorde". Pois tenho uma sugestão bem mais interessante que a
tal de GP2: volte à F-1, Piquet!
Não é imoral, não é ilegal e,
muito provavelmente, emagrece,
já que o tricampeão provavelmente teria que perder uns quilos
para caber em um desses monopostos modernos. Aos 51, ele não
agüentaria o tranco? Vou jogar
baixo: Mansell disse ao colega Fábio Seixas em Londres que agüentaria e que só não teria paciência
para ficar fazendo testes.
Então, que tal encarar aquela
infinidade de botões coloridos?
Sim, junto com eles viriam os homens de marketing, os assessores
de imprensa, os eventos de patrocinadores, a TV e toda aquela papagaiada que Piquet sempre evitou com má vontade olímpica.
(Exemplo dessa ojeriza era o
modo como tratava os jornalistas
brasileiros, mesmo na época de
declínio. Após horas de sumiço,
saía do motorhome, com cara de
sono, coçando a barriga, pronto
para encerrar a entrevista que
mal começava: "E aí, quantas linhas cês têm pr'amanhã?".)
Isso sim seria um problema. Piquet sempre foi de falar pouco e
falar grosso, ao contrário de Senna, o padrão de herói nacional.
Mas até isso, no momento atual
da F-1, ajudaria. Se falta talento,
o que não falta é pasmaceira.
Piquet, tenho certeza, teria coragem de falar que seu carro é
uma porcaria -ou coisa pior- e
que muito provavelmente passearia pelo resto do campeonato porque seu time não teria competência para reverter a situação. Piquet também seria capaz de jogar
o carro em cima por uma ultrapassagem ou de mandar o chefe
às favas -ou coisa pior- ao receber uma ordem pelo rádio. E Piquet, finalmente, nunca permitiria um companheiro de time que
largou em último, muito atrás dele, chegar à sua frente.
A verdade é que um piloto como
Piquet, de uma era completamente diferente da atual, não se
encaixa nesta F-1 de contratos
que censuram, disputada nos boxes, decidida em voltas rápidas.
Correu em uma época onde os
feitos eram perceptíveis a olho nu,
de maneira analógica. Por acaso
não está registrada até hoje em
nossas retinas aquela histórica ultrapassagem sobre Senna, na primeira curva da Hungria, onde jamais se ultrapassou?
É covardia, mas compare com a
última corrida, outro show de estratégia de Schumacher e da Ferrari. Não vimos, tivemos que
acreditar ou quase não acreditar
nos cronômetros. Não uma imagem, um número mostrou o feito
do alemão. Um feito digital.
Seria bom ter alguém na pista
que quebrasse tudo isso, que
traísse a lógica, que mostrasse algo novo, uma saída. Seria bom
pelo menos ter alguém que fora
da pista não se limitasse a justificativas, que falasse algo que preste, mesmo que por pura maldade.
Piquet evidentemente não será
esse alguém. Muito menos seu filho, moldado já nessa forma idealizada em escritórios e lobbies de
hotel, não em garagens.
Sim, há coisas que não mudam.
Um filho sempre negará o pai.
Pizzonia
Mais consistente que o rival espanhol em Jerez, o brasileiro levou o
segundo Williams em Hockenheim. Mas, parafraseando Didi, teste é
teste, corrida é corrida. Para o mercado, o importante da história é o
seguinte: por ano, cada time só pode inscrever quatro pilotos. Pizzonia é o quarto. Villeneuve e Webber? No ano que vem e olhe lá.
Mosley
E não é que a manobra do advogado inglês deu certo? Vai ficar até o
final do mandato e, pior para os times, em condições de impor suas
mudanças para 2005 -um motor para cada dois GPs, restrições aerodinâmicas e dois jogos de pneus por piloto, um para treinos, outro
para classificação e corrida. Pits para troca de pneus serão permitidos, mas separados dos de reabastecimento. Adianta alguma coisa?
E-mail mariante@uol.com.br
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