São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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FUTEBOL
Com ascendência brasileira, o meia Coelho é um dos destaques do Uruguai na decisão de amanhã
Seleção pega "quase brasileiro" na final

Associated Press
O meia Walter Fabian Coelho, que foi criado na fronteira com o Brasil, prepara churrasco na concentração do Uruguai, em Luque


RODRIGO BERTOLOTTO
enviado especial a Assunção


O selecionado de Wanderley Luxemburgo vai enfrentar na decisão da Copa América um "quase brasileiro" vestido com o uniforme azul celeste. É Walter Fabián Coelho, 22.
Bisneto de gaúchos e nascido na cidade fronteiriça Artigas, o meia é um dos destaques da jovem seleção do Uruguai, pelos passes precisos e arrancadas para o ataque.
Antes de virar profissional, voltando apenas três anos no tempo, o atleta cruzava a ponte internacional da Concórdia todos os dias para ir à vizinha Quaraí (RS).
Sua missão era ajudar seu pai, o padeiro José Pedro, comprando farinha ou açúcar ou abastecendo a camionete da família com gasolina brasileira, mais barata do que a uruguaia.
"Entendo perfeitamente o português, falo um pouco e até misturo alguns termos quando falo espanhol", afirma Coelho, na concentração de sua seleção, formada em sua maioria por atletas nascidos em Montevidéu.
O município de Artigas, que possui 25 mil habitantes, é um dos mais distantes da capital uruguaia (601 km ao norte), e seus habitantes são conhecidos nacionalmente por falarem uma espécie de portunhol.
Até pouco tempo, dos quatro canais de televisão que se viam na cidade, três eram brasileiros.
"Acompanhei pela TV o São Paulo ser bicampeão mundial de clubes e aquele Palmeiras do técnico Luxemburgo", diz Coelho.
Mas, na final da Copa América de 1995, em que Uruguai de Francescoli bateu o Brasil nos pênaltis, Coelho assistiu por um canal local. "Depois da vitória, saí com o carro e atravessei a fronteira para comemorar. Os brasileiros fazem o mesmo quando ganham."
Por isso, falar de sua proximidade com o país vizinho não é seu principal assunto agora, quando tem de superá-lo em campo.
"Adoro o futebol brasileiro, mas neste momento o que vale é a rivalidade. Vou me entregar por inteiro a minha seleção", afirma Coelho, nome que é pronunciado "Coelo" por seus compatriotas.
Essa mesma rivalidade fez seu pai apostar com seus amigos brasileiros em uma vitória uruguaia, amanhã, e com gol de seu "guri".
"Não sei se vou poder com meus nervos. Se o Uruguai ganhar, meus amigos vão até gostar, porque admiram meu guri", afirma em português "don" Coelho.
Esse mesmo nervosismo o acompanhou quando seu filho único esteve na Malásia disputando o Mundial sub-20 de 1997.
Neste ano, o Uruguai ficou com o vice-campeonato.
Já, na edição de 1999, os uruguaios terminaram em quarto lugar, eliminando o Brasil, de Ronaldinho, e também o Paraguai, de Roque Santa Cruz.
O selecionado de 1997 é a base do Uruguai na Copa América de 1999. Entre eles, além de Coelho, estão o goleiro Carini, o zagueiro Lembo e o atacante Zalayeta.
Coelho foi eleito o melhor jogador do Campeonato Uruguaio deste ano, no qual defendeu o Nacional de Montevidéu, equipe dirigida pelo ex-zagueiro da seleção Hugo de León.
Apelidado de "El Negro", o meio-campista ganha um salário mensal que não ultrapassa os US$ 10 mil e mora em uma casa alugada com sua mulher e seu filho único, Diego.
Seu sonho, portanto, é uma transferência para o exterior, como já fizeram seus companheiros de seleção Pablo García (Atlético de Madrid), Zalayeta (Empoli) e Magallanes (Santander). "Sem dúvida, a Copa América é uma grande vitrine, e nossa campanha nos fez mais visíveis ainda", diz.


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