São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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TÊNIS

Brasileiro é eliminado ainda na primeira rodada, mas já sonha com Pequim-2008

Derrotado, Guga troca a "tristeza" da Austrália pela "felicidade" da Grécia

DO ENVIADO A ATENAS

O Guga, que se definiu "um pouco triste" após perder nas quartas-de-final em Sydney-2000, afirmou ontem depois de ser eliminado já no primeiro jogo em Atenas-2004 que sai "feliz".
É o próprio tenista que dá algumas pistas para a mudança radical em seus parâmetros de avaliação nesses últimos quatro anos.
"Acho que tem de encarar as coisas com menos coração e ver as coisas mais a frio", filosofou.
A tradução, por ele mesmo: "Para mim estão claras as condições que eu tinha aqui. Chegar para uma medalha era bastante difícil. Claro que eu não vou chegar para meus adversários e sair falando isso, desacreditando".
Como pano de fundo dessa baixa expectativa, seu problema físico no quadril, que o fez pedir atendimento médico ontem.
Para lidar com isso, recorre a uma equação que montou para trabalhar seu lado psicológico.
"Taí um teorema que eu tenho que lidar: buscar essa motivação mesmo sabendo das restrições que eu tenho e tentar lidar da melhor forma possível na quadra. O torneio já exige tanto e tem um fator a mais para gastar energia e se preocupar. Para mim isso só torna as coisas mais complicadas."
Pior ainda, explica. Só consegue buscar tal motivação em eventos como a Olimpíada e Roland Garros, seu torneio preferido. "Mesmo em Masters Series, às vezes, é difícil eu conseguir me superar, buscar um terceiro [set], sabendo que as chances são pequenas."
É certo que Guga ainda é estrela. Ontem, por exemplo, atraiu à quadra os dois brasileiros membros do Comitê Olímpico Internacional (João Havelange e Carlos Arthur Nuzman) e o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.
E ainda é um dos melhores tenistas do mundo. Não mais o terceiro, como nos Jogos de Sydney, mas ainda em boa colocação (20º, no ranking divulgado ontem).
As diferenças afloram mesmo nas pequenezas de seu discurso.
Quando perdeu para Ievguêni Kafelnikov, em 2000, disse que, nos Jogos, "a vitória parece que é maior, e a derrota, mais sofrida". Após cair ontem, seu foco era outro que não o resultado em si. "Acho que eu sou um cara vencedor por estar aqui na Olimpíada, mesmo perdendo esse primeiro jogo. Vejo como algo positivo."
Declara que ficar sem a medalha olímpica não lhe custará nenhuma frustração. "Desde o primeiro Roland Garros que ganhei, nunca vou pedir mais nada na minha carreira. Sou um cara que saiu lá de Floripa, tênis não existia no Brasil, e de repente me tornei o campeão de Roland Garros, número um do mundo."
Apesar de todas as dificuldades, acha que, aos 27 anos, ainda não é chegada a hora de parar. Tem medo de se arrepender depois.
Se imprimiram grandes diferenças no tenista, os quatro anos entre Sydney e Atenas não apagaram uma característica de Guga: o de renovar o discurso olímpico.
Quando caiu na Austrália, já queria jogar na Grécia. Ontem, falou em Pequim-2008. "Eu vejo possibilidade de participar da próxima Olimpíada. A partir do momento em que estou fora dessa, eu começo a pensar com esperança de voltar. Quero pensar que na China eu vou fazer a minha terceira Olimpíada, seria mais um sonho a se realizar", afirmou. (ROBERTO DIAS)


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