São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O Libertador da América!

O melhor time da América do Sul é síntese de hormônio e neurônio, de ginga e suor, de drible sutil e bicuda explícita

QUE JOGO! E que campeão! Eis aí um time que mereceu levar a taça Libertadores de América para sua sala de troféus. Raras vezes viu-se uma equipe misturar raça e habilidade como ontem. O melhor time da América do Sul é uma bela síntese de hormônio e neurônio, de ginga e suor, de dribles sutis e bicudas explícitas. E, pensando bem, os grandes times do Brasil têm mesmo esta mistura. É só lembrar que o superlativo São Paulo de Müller e Raí era também o São Paulo de Ronaldão, aquele zagueiro imponente e sério, um gigante que impunha respeito (e medo) a quem se aproximasse da grande área tricolor. E que o inesquecível Internacional de Falcão e Figueroa era também o Internacional de Caçapava, um cão de guarda fantástico, daqueles que passam o jogo inteiro fungando no cangote dos atacantes, um volante mais incômodo e insistente que uma mosca em noite de verão. Em todas as partes do campo, o campeão está bem servido. O goleiro é experiente como poucos. Não é de fazer firulas nem pontes monumentais, mas ultimamente vem até defendendo pênaltis. O miolo da defesa é muito competente: firme, sem frescuras, dando chutões quando é necessário. Os alas cumprem bem o seu papel e formam um dos pontos altos da equipe, pois são praticamente meio-campistas. Já o meio-de-campo propriamente dito destaca-se por seus eficientes volantes. E aquele negro incansável (você sabe de quem eu estou falando) trata-se, para mim, do destaque do time, pois é raro um jogador que defenda tão bem quanto ele e ainda vá para a frente participar de lances decisivos com tanta eficiência. Quanto ao ataque, está entre os melhores do Brasil, com uma boa mescla de habilidade e força. Sobre o técnico, só o que posso dizer é que ele está sempre disputando títulos, o que é uma prova incontestável de sua capacidade. É claro que muito da grandiosidade desta conquista deve-se ao inimigo. Como disse o sábio Sócrates (não lembro se o filósofo ou o jogador): "Só é grande a conquista se é grande o vencido". E o novo vice-campeão sul-americano realmente é um grande time: organizado, com muitos talentos e atuando junto há um bom tempo, o que é raro hoje em dia. Agora ele tem que se recuperar da derrota e partir para a conquista do Campeonato Brasileiro, onde é um dos favoritos explícitos. Além disso, sem contar com o dinheiro que entraria em caixa com o campeonato, a diretoria terá que se esforçar para não perder seus jogadores. Manter seu plantel (ou, quem sabe, até melhorá-lo) é também a missão do maioral do continente até o final do ano. Se não perder peças importantes e, principalmente, se jogar como ontem, não há porque temer o milionário Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. Mesmo porque dinheiro não entra em campo, como bem vimos nesta Copa. Rumo a Tóquio! Banzai!

EM CIMA DO MURO
Se o leitor é um tanto observador, já percebeu que escrevi esta coluna antes de saber o resultado da final da Taça Libertadores da América. A idéia era fazer um texto dúbio, desonestamente enrolador. E a possibilidade de fazer um texto assim mostra como o time do São Paulo, de Mineiro, e o do Internacional, de Tinga, são realmente parecidos, equivalentes.

SUOR
Agora, segundos depois do apito final no Beira-Rio, quando tenho somente tempo de escrever esta nota antes de mandar o texto para a Folha (ah, o maldito horário de fechamento!), posso dizer que foi uma partida sensacional, elétrica, com dois times extremamente competitivos. E parabéns ao Internacional, que chegou à maior conquista de sua história.

torero@uol.com.br


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