|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Contra o abuso
Maior potência da natação e sede do principal torneio da temporada, o Pan Pacífico, EUA encaram avalanche de denúncias de pedofilia
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A IRVINE (EUA)
Deena Schmidt demorou
muitos anos para criar coragem e quebrar o silêncio.
Campeã olímpica em 1972,
apenas agora ela reuniu forças para revelar ter sido molestada sexualmente por seu
treinador quando era nadadora, na década de 60.
Um desabafo que atraiu
ainda mais holofotes para
um escândalo que atinge
desde o início do ano os EUA,
maior potência da natação e
palco do Pan Pacífico, principal competição desta temporada, que começa amanhã.
Deena é um exemplo na
elite do esporte. Mas em todos os níveis, dos mais simples aos mais badalados clubes do país, os EUA encaram
uma avalanche de denúncias
de abuso sexual de crianças e
adolescentes nas piscinas.
Pelo menos 46 técnicos
norte-americanos já foram
banidos do esporte. Segundo
a agência de notícias Associated Press, a federação que
rege a natação dos EUA tem
uma segunda lista com nomes "marcados", suspeitos
de mau comportamento.
A federação já anunciou
que fará mudanças em seu
Código de Conduta e votará
no mês que vem novas regras
para guiar a relação entre técnicos e atletas e para definir
como tratar as denúncias.
A entidade é acusada por
nadadores de fazer vistas
grossas a suspeitas envolvendo seus treinadores. Pressionada, viu-se obrigada a
tornar pública uma discussão que antes não saía das
salas dos cartolas do esporte.
Deena Schmidt, por exemplo, afirmou ter contado aos
dirigentes sobre o abuso. Segundo ela, seus apelos foram
ignorados, e o treinador,
mais tarde, foi para o Hall da
Fama da natação dos EUA.
A instituição está sendo
processada por pelo menos
três nadadores por negligência em casos semelhantes.
Em resposta a denúncias
como a de Deena e a processos judiciais que enfrenta por
causa de supostos abusos cometidos por treinadores que
integram seus quadros, a federação afirmou planejar tomar medidas drásticas.
A entidade vai reportar às
autoridades qualquer denúncia de suposto abuso sexual de menores. Também
deve banir, após ouvir as partes envolvidas, aqueles treinadores que forem suspeitos
de mau comportamento com
atletas. E planeja criar um
número de telefone para facilitar as denúncias anônimas.
A federação de natação
dos EUA possui mais de 300
mil membros e tem visto esse
número crescer vertiginosamente desde que Michael
Phelps conquistou oito ouros
nos Jogos de Pequim-2008.
Os casos de abuso sexual
denunciados têm surgido
nos mais diferentes tipos de
cenário. Desde atletas em pequenos clubes de natação até
nomes consagrados como
Margaret Hoelzer, dona de
três medalhas em Pequim.
"Há problemas na USA
Swimming [federação dos
EUA], mas não estão limitados só à natação. O problema
é da sociedade", afirma ela.
A federação dos EUA não
havia respondido as perguntas da Folha sobre o caso até
o fechamento desta edição.
Com as agências de notícias
Texto Anterior: Argentina: Técnico interino quer o retorno de Riquelme à seleção Próximo Texto: Atleta do Brasil revelou ter sido vítima em 2008 Índice
|