São Paulo, Terça-feira, 17 de Agosto de 1999
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OLIMPÍADA
Atletas não vêem verba que Comitê Brasileiro pediu, e Comitê Internacional enviou, em nome deles
Sem saber, olímpicos ganham bolsa; sem saber, não ganham o dinheiro

ROBERTO DIAS
da Reportagem Local

Num país marcado pela dificuldade para obter verbas para o esporte, a burocracia do Comitê Olímpico Brasileiro e de três confederações nacionais está atrasando por quase três meses a chegada de um dinheiro já garantido aos atletas brasileiros.
Cadastrados desde junho como bolsistas do Solidariedade Olímpica, órgão vinculado ao Comitê Olímpico Internacional, 27 atletas do país ainda não puderam usufruir do apoio -o dinheiro está parado no COB.
Os esportes que deveriam se beneficiar são a canoagem, o boxe e a ginástica (rítmica e artística).
As bolsas são parte de dois programas desenvolvidos pelo Solidariedade. Um tem como objetivo ajudar o desenvolvimento técnico de atletas com chances de competir na próxima Olimpíada. O outro visa a ajudar esportistas que possam se destacar no futuro.
O Brasil tem nove bolsas do Solidariedade, no valor de US$ 1.200 mensais cada uma, que são repartidas entre os 27 atletas (dando, assim, US$ 400 por atleta).
Entre esses 27 esportistas, estão 17 medalhistas brasileiros no último Pan-Americano.
As bolsas, como mostra documento do Solidariedade reproduzido ao lado, valem desde junho.
Segundo Pamela Vipond, gerente dos dois projetos, a verba, que é dada trimestralmente, está disponível aos países beneficiados desde então.
Mas nenhum dos atletas ou das confederações brasileiras envolvidas teve acesso ao dinheiro.
O Comitê Olímpico Brasileiro, que tem o papel de receber a verba do Solidariedade e repassá-la às confederações, diz que só teve condições de receber o dinheiro durante os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, encerrados no domingo retrasado.
O motivo para o atraso, diz o COB, é a burocracia.
"Não chegou em junho pela burocracia que tem de fazer, tem de pegar assinatura do atleta. As próprias confederações às vezes atrasam isso", afirma José Roberto Perillier, superintendente de projetos especiais do COB, acrescentando que a entidade vai iniciar já o repasse da verba.
Tal atraso, no entanto, pode comprometer a preparação do esporte brasileiro para a Olimpíada de Sydney, no ano que vem.
No momento, por exemplo, o Solidariedade Olímpica aguarda relatório do COB sobre os resultados do primeiro trimestre para definir a continuidade do projeto.
Ou seja: as confederações terão de relatar a aplicação de um dinheiro que ainda não receberam.
E, se o relatório não for aprovado pelo Solidariedade, as bolsas podem até ser canceladas.
O COB diz que não haverá problema para continuar o projeto, já que as confederações estariam tocando com seu dinheiro o programa previsto. "Elas sabem que vão receber lá na frente, então antecipam esse dinheiro", diz Perillier.
Tal prática, no entanto, não encontra respaldo entre os demais dirigentes. "Eles sabem que a gente precisa do dinheiro", diz Luiz Claudio Boselli, presidente da Confederação Brasileira de Boxe.
Sobre o fato de a bolsa estar em vigor desde junho e o atletas não terem visto o dinheiro, diz ele: "Fica estranho. Parece que ou o COB não me passou e eu não passei para os atletas, ou então que o COB não passou mesmo".


Colaborou Marcelo Damato, da Reportagem Local

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