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ELES TAMBÉM FAZEM A OLIMPÍADA
Viajar torcendo, torcer viajando
Torcedor-turista padrão não perde Copa ou Olimpíada e organiza finanças e tempo seguindo calendário esportivo
RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY
O paulistano José Carlos Zanini
não se incomoda em ser chamado
de ""turista esportivo", afinal, ele
não faltou a nenhum grande
evento mundial desde que se aposentou em 1992.
Foram duas Copas do Mundo
(1994 e 1998) e duas Olimpíadas
(1996 e 2000). ""É espetacular viajar assim: você faz parte de um
acontecimento importante e ainda conhece o mundo inteiro."
Só com o pacote para Sydney,
Zanini gastou US$ 11 mil (R$ 20,2
mil), pagos em seis parcelas, como é seu costume.
Em 1994, ele comemorou o tetracampeonato mundial em um
restaurante de Los Angeles. Em
1996, revendeu ingressos do
Dream Team em Atlanta. Já em
1998, lamentou a derrota brasileira, pelas ruas de Saint-Denis.
Na Austrália, ele espera seguir a
campanha de Gustavo Kuerten e
torcer por uma medalha de ouro.
Tanto é assim que comprou cinco
entradas de tênis.
Discreto, ele não trouxe nenhuma bandeira ou camiseta brasileira. No mesmo hotel, há dezenas
de seus conterrâneos desfilando
de verde e amarelo. A maioria é
formada por torcedores corporativos, ou seja, que foram levados
por alguma empresa.
Um exemplo disso é o marceneiro baiano Antônio Oliveira,
que foi premiado, assim como
outros 22 clientes, em sorteio de
uma companhia telefônica.
Ele nunca havia viajado de
avião. ""Acho que morri com tanta
turbulência a bordo e estou agora
no paraíso", diz Oliveira, que mora em Goiânia e só havia acompanhado partidas no estádio Serra
Dourada.
Além da companhia telefônica,
um provedor de Internet, uma escola de inglês, uma fábrica alimentícia e um plano odontológico fizeram promoções similares.
Os contemplados são fáceis de
identificar, afinal, todos recebem
camisetas, bonés e mochilas com
os logotipos das marcas.
Todos, incluindo Zanini e as
empresas, compraram pacotes
turísticos da Tamoyo, única agência oficial do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) desde 1997.
Ao todo, foram vendidos 220
pacotes por preços que variaram
de US$ 7.000 (R$ 12,8 mil) a US$
22 mil (R$ 40,4 mil), com entradas
já incluídas.
A Tamoyo, que tem contrato
com o COB até 2005, recebeu uma
cota de 4.132 ingressos. Desses,
sobraram 1.050 que a agência está
tentando trocar ou vender em
Sydney mesmo.
O perfil do torcedor-turista é o
homem de meia-idade e classe
média alta. Seria um gerente de
banco, um diretor de concessionária de carro ou, então, um microempresário -todos com tempo e dinheiro para realizar o sonho de juventude.
Funcionário público aposentado, Zanini se encaixa no protótipo. Ele, porém, aproveita as viagens para fazer turismo convencional. Na Copa de 1994, por
exemplo, ficou embevecido com
o tour macabro em Dallas que
mostra o roteiro do último dia de
vida de John Kennedy, presidente
dos EUA assassinado ali.
Após a Olimpíada de 1996, em
Atlanta, deu uma esticada a Nova
York. No Mundial de 1998, revezava-se entre uma visita ao museu
do Louvre e um jogo do Brasil.
Desta vez, colocou em sua rota
visitas a Melbourne, a Brisbane e à
Grande Barreira de Recifes
(maior atração do país). Ele vai
também passar alguns dias na vizinha Nova Zelândia.
Parte desse roteiro, Zanini vai
passar de olho na televisão, afinal,
ele vai sair de Sydney seis dias antes do final. ""Nos últimos dias, a
Olimpíada acaba ficando caótica.
Eu acho a cerimônia de encerramento muito deprimente", diz,
após a experiência de Atlanta.
Ele afirmou que, na Olimpíada
passada, sentiu um clima desanimado de fim de festa na cerimônia de encerramento, que achou
desorganizada e com a participação de poucos atletas.
Ao contrário das Copas do
Mundo, o turista acaba comprando às cegas os ingressos na Olimpíada. As competições nos Jogos
são mais complexas e há muitas
provas classificatórias.
Zanini, por exemplo, comprou
ingressos para tênis, natação e
basquete, mas pode ficar sem ver
um brasileiro competindo.
Em 1996, apesar de ter 30 ingressos, cobrindo todas as manhãs e tardes do período, ele só
conseguiu seguir Fernando Meligeni no tênis, o revezamento 4 x
100 m do atletismo, uma partida
de vôlei e outra de basquete.
Entre suas entradas, em Atlanta,
havia muitas para o ""Dream
Team", como é chamado o time
de basquete masculino norte-americano. "Não tinha graça: eles
venciam todas. Decidi vender,
mas tinha muito cambista por lá e
faltavam compradores. Vendi pela metade do valor de face", afirma Zanini.
Na Copa da França, porém, não
estava no grupo de 700 torcedores
brasileiros que ficaram sem ingressos. ""Para mim, deu tudo certo, só faltou o Brasil ganhar", diz.
Em 1998, seis agências acabaram multadas ou punidas pela
Embratur (Empresa Brasileira de
Turismo) por venderem pacotes
que prometiam entradas para os
jogos da seleção, mas acabaram
deixando torcedores de fora dos
estádios. Sem ingressos, os brasileiros tiveram de apelar aos cambistas, que vendiam com até
1.600% de ágio.
Agora, os cambistas também
rondam o hotel da maioria da torcida brasileira. ""Eu não vou comprar nenhuma entrada com eles.
Já trouxe as minhas do Brasil", diz
Zanini, que pagou para a agência
Tamoyo até 10% de ágio.
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