São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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Santos conta agora com o grito das Sereias

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de amanhã, a torcida do Santos vai oficialmente gritar mais fino. O jogo contra o Atlético-MG, na Vila Belmiro, marca a estréia das Sereias Santistas, uma organizada só para mulheres.
A idéia surgiu na casa de Lidia Varela, 64, vizinha da Vila Belmiro, tomou corpo e ganhou apoio do presidente Marcelo Teixeira, que lhes reservou uma parte das arquibancadas sob os camarotes.
"Ele chegou a nos oferecer cadeiras cativas, mas nós queríamos ficar mesmo é nos poleiros", disse Ana Lúcia Varela, 46, filha de Lidia e presidente das Sereias, numa reunião com cerca de 20 mulheres, entre diretoras e integrantes.
São amigas numa faixa que vai dos 13 anos da diretora social juvenil, Sthefanie Alves de Andrade, filha da vice Sandra, até os 67 anos de Maria Leticia Plácido, a Leda.
Discutem futebol com propriedade. "O Santos só perde este Brasileiro para ele mesmo. Atlético-PR e Goiás são bons, mas não têm banco", diz Denise, filha de Leda.
"O [goleiro] Tapia é um tapeador", diz Sandra, garganta rouca de tanto torcer nos últimos meses. "Ele nem pula, só fica olhando."
O nome veio de uma brincadeira dos anos 70, segundo Ana Lúcia. "A gente ia à Vila num grupo de muitos jovens, e aí eu criei esse nome para identificar as moças, mas era só brincadeira." Retomada no último dia 8, com apenas dez dias de preparativos, a marca quer ser mais que uma diversão.
Além de dar apoio ao Santos, na Vila ou em qualquer lugar, têm para si um compromisso social que envolve até um curso com a Defesa Civil, já alinhavado, segundo elas, com o 6º Batalhão.
"Nossa idéia é promover a paz e a união nos estádios", diz a vice Sandra, para Tânia Scarpini, a Tulipa, 39, completar: "É uma parceria pelo Santos, pelo clube, criando um lugar onde as mães possam levar os seus filhos ao estádio com mais tranqüilidade". Além disso, garante às mais fanáticas um espaço para torcer sem a censura de maridos "comportados".
Segundo elas, a adesão tem sido maciça: mais de 150 pré-inscrições foram requisitadas. Elas acreditam que a iniciativa pode levar à criação de outras torcidas femininas. "Mas vai depender da inveja delas", diz Sandra, cujo irmão é diretor da Força Jovem.
Apesar de terem o apoio do clube, elas afirmam que a idéia não foi bem-vista por outras facções, que disputariam ingressos gratuitos e espaço no estádio. "Não queremos peitar ninguém. Queremos ingressos gratuitos só no começo, depois nos manteremos com recursos próprios", diz Ana Lúcia.
Algumas coisas ainda não estão decididas. Dona Leda é a favor de aplaudir o time adversário na Vila. Sthefanie é contra. "Aplaudir o Corinthians? Eu não faço."
Não há consenso também sobre o jogador mais bonito da história do Santos. Para Sthefanie, é Léo. Já Ana Lúcia escolhe o zagueiro Emerson Marçal. Há votos para Clodoaldo, Preto Casagrande, Elano e até Gallo e Serginho Chulapa, agora auxiliares técnicos.
"O jogador mais bonito que eu vi foi Ramiro", lembra-se Leda, sobre um zagueiro colega de Pelé. "Mas o Robinho parece desenhado a bico de pena", suspira.


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