São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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Rio-16 propõe assumir abismo social

Prefeitura elabora relatório sugerindo candidatura para agradar aos votantes do COI e até admitir a miséria da cidade

Documento de 12 páginas foi preparado por técnicos do município e ainda exalta as belezas naturais, o "povo acolhedor" e o Pan-2007

FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Aproveitar as belezas naturais, o sucesso do Pan e o povo acolhedor. Esses são três pontos sugeridos por um relatório do Prefeitura do Rio para a candidatura carioca à Olimpíada-16. A cidade tenta receber pela terceira vez os Jogos após fracassar para 2004 e 2012 -nem chegou às finalistas.
Além das obviedades, o documento traz um aspecto que sempre foi posto à margem pelos organizadores das postulações. "Assumir as desigualdades sociais da cidade e do país, através do plano de candidatura, demonstrando as ações reais de mitigação dessa realidade", diz um trecho.
"A candidatura deve também apontar para a inclusão social não apenas através do esporte, mas também da renovação urbana e da vertente da educação e da cultura em torno e a partir dos Jogos", prossegue.
Com 12 páginas, a "Avaliação da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos de 2012 e sugestões para a candidatura aos Jogos Olímpicos de 2016" planeja um dossiê técnico, até assumindo a miséria na cidade.
Dá dicas de como adequar o relatório de postulação do Rio aos anseios dos votantes do COI (Comitê Olímpico Internacional). E analisa o que deu errado no caminho até 2012, vencido por Londres.
A pesquisa foi feita por dois técnicos: Roberto Ainbinder, ligado ao Instituto de Urbanismo Pereira Passos, e Gustavo Miranda Rodrigues, vinculado à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Está publicada no site da prefeitura carioca.
O mote é não deixar dúvidas para o COI. Na disputa por 2012, o comitê avaliou que o Rio não teria condições de cumprir o que tinha prometido no dossiê. A cidade acabou eliminada, com nota média dos 11 quesitos avaliados abaixo de 6, o que reprova a postulante.
Para 2016, ainda não há dossiê. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) informou que só se pronunciará a respeito quando o documento final a ser apresentado ao COI estiver pronto, mas não precisou o tempo.
As sugestões são classificadas no relatório da Prefeitura do Rio como "abordagens estratégicas". Além de frisar a "cidade solar e naturalmente esportiva" e a possibilidade de abrigar "os Jogos mais alegres de toda a história olímpica", o calhamaço adota o tom social.
Um ponto diz que as "centralidades das instalações olímpicas propostas devem dinamizar áreas urbanas que necessitem aportes de infra-estrutura".
"As Vilas olímpica e da mídia devem ter sua engenharia financeira sobre bases sociais, objetivando o seu legado como habitação para população de baixa renda", continua.
As sugestões incluem meio ambiente e rede hoteleira, responsáveis por duas das piores notas do Rio para 2012.
A prefeitura fala em despoluição da baía de Guanabara -a cargo do Estado- e a adoção de transportes não-poluentes, como os veículos sobre trilhos. Cita isso como tentativa de brecar o aquecimento global.
A limpeza da baía e os veículos sobre trilhos constavam do dossiê de 2012. A despoluição está com 56% feitos, segundo o site da Cedae, a companhia de águas e abastecimento do Estado do Rio. O transporte sugerido nem saiu do papel.
Sobre hotéis, em que o Rio foi tido pelo COI como incapaz de prover a capacidade necessária na Olimpíada, os técnicos da prefeitura carioca afirmam que é preciso investir num sistema integrado de hospedagem.
"Atenção especial deve ser dada a este item pelo alto peso na avaliação do COI, e por termos sido reprovados com as menores notas em 2012", alerta o documento preparado pelos subordinados ao município.

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