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Rio-16 propõe assumir abismo social
Prefeitura elabora relatório sugerindo candidatura para agradar aos votantes do COI e até admitir a miséria da cidade
Documento de 12 páginas foi preparado por técnicos do município e ainda exalta as belezas naturais, o "povo acolhedor" e o Pan-2007
FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL
Aproveitar as belezas naturais, o sucesso do Pan e o povo
acolhedor. Esses são três pontos sugeridos por um relatório
do Prefeitura do Rio para a candidatura carioca à Olimpíada-16. A cidade tenta receber pela
terceira vez os Jogos após fracassar para 2004 e 2012 -nem
chegou às finalistas.
Além das obviedades, o documento traz um aspecto que
sempre foi posto à margem pelos organizadores das postulações. "Assumir as desigualdades sociais da cidade e do país,
através do plano de candidatura, demonstrando as ações
reais de mitigação dessa realidade", diz um trecho.
"A candidatura deve também
apontar para a inclusão social
não apenas através do esporte,
mas também da renovação urbana e da vertente da educação
e da cultura em torno e a partir
dos Jogos", prossegue.
Com 12 páginas, a "Avaliação
da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos de 2012
e sugestões para a candidatura
aos Jogos Olímpicos de 2016"
planeja um dossiê técnico, até
assumindo a miséria na cidade.
Dá dicas de como adequar o
relatório de postulação do Rio
aos anseios dos votantes do
COI (Comitê Olímpico Internacional). E analisa o que deu
errado no caminho até 2012,
vencido por Londres.
A pesquisa foi feita por dois
técnicos: Roberto Ainbinder, ligado ao Instituto de Urbanismo Pereira Passos, e Gustavo
Miranda Rodrigues, vinculado
à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Está publicada
no site da prefeitura carioca.
O mote é não deixar dúvidas
para o COI. Na disputa por
2012, o comitê avaliou que o
Rio não teria condições de
cumprir o que tinha prometido
no dossiê. A cidade acabou eliminada, com nota média dos 11
quesitos avaliados abaixo de 6,
o que reprova a postulante.
Para 2016, ainda não há dossiê. O COB (Comitê Olímpico
Brasileiro) informou que só se
pronunciará a respeito quando
o documento final a ser apresentado ao COI estiver pronto,
mas não precisou o tempo.
As sugestões são classificadas no relatório da Prefeitura
do Rio como "abordagens estratégicas". Além de frisar a "cidade solar e naturalmente esportiva" e a possibilidade de
abrigar "os Jogos mais alegres
de toda a história olímpica", o
calhamaço adota o tom social.
Um ponto diz que as "centralidades das instalações olímpicas propostas devem dinamizar
áreas urbanas que necessitem
aportes de infra-estrutura".
"As Vilas olímpica e da mídia
devem ter sua engenharia financeira sobre bases sociais,
objetivando o seu legado como
habitação para população de
baixa renda", continua.
As sugestões incluem meio
ambiente e rede hoteleira, responsáveis por duas das piores
notas do Rio para 2012.
A prefeitura fala em despoluição da baía de Guanabara -a
cargo do Estado- e a adoção de
transportes não-poluentes, como os veículos sobre trilhos.
Cita isso como tentativa de brecar o aquecimento global.
A limpeza da baía e os veículos sobre trilhos constavam do
dossiê de 2012. A despoluição
está com 56% feitos, segundo o
site da Cedae, a companhia de
águas e abastecimento do Estado do Rio. O transporte sugerido nem saiu do papel.
Sobre hotéis, em que o Rio foi
tido pelo COI como incapaz de
prover a capacidade necessária
na Olimpíada, os técnicos da
prefeitura carioca afirmam que
é preciso investir num sistema
integrado de hospedagem.
"Atenção especial deve ser
dada a este item pelo alto peso
na avaliação do COI, e por termos sido reprovados com as
menores notas em 2012", alerta
o documento preparado pelos
subordinados ao município.
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