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ANÁLISE
Eis o preço: quem não tem infância não amadurece
ROSELY SAYÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Uma garota de 11 anos assistia com o pai a uma partida de futebol em que o jovem
Neymar atuava.
O pai, que acompanha o
meu trabalho, após observar
uma atitude do atleta disse à
garota: "Acho que só a Rosely Sayão pode dar um jeito
nesse menino". A filha concordou. O que foi que pai e filha interpretaram para emitir
tal comentário? Arrisco minha hipótese: eles identificaram Neymar como uma
criança que precisa ser educada e talvez estejam certos.
Hoje as crianças não vivem como tal. Desde pequenas assumem o mundo adulto e vivem como se fossem
gente grande. Em tudo: do
vestuário às atitudes e preocupações. Temos roubado a
infância de nossas crianças.
Isso tem um preço: quem
não tem infância não amadurece e hoje já temos uma geração de jovens adultos imaturos. O comportamento de
Neymar é evidência disso.
Esse jogador tem vida de
gente grande: profissão, reconhecimento, salário. O
problema é que enfrenta isso
tudo com a insolência e a inconsequência tão próprias
do adolescente e da criança.
A questão é que a imaturidade dele não permite que
reconheça suas responsabilidades. E elas são tantas, não
é verdade?
Responsabilidade, por
exemplo, de saber que se tornou uma figura pública
maior do que a do jogador
que ele é. Na sociedade do espetáculo em que vivemos,
quem oferece padrões de
identificação aos mais novos
não são mais apenas a família e a escola. São, principalmente, pessoas famosas que
estão na mídia.
Neymar não se dá conta de
que é um exemplo para
crianças e adolescentes. Esses, fascinados pelo poder,
pela fama e pelo dinheiro,
podem acreditar que agir como o jogador age é uma das
chaves de seu sucesso.
Culpa do Neymar? Ah! Como seria bom chegar a essa
conclusão. A responsabilidade é toda nossa, caro leitor,
adultos que habitam este
mundo e que pactuam com o
sequestro da infância, com a
cultura da fama, com o valor
do consumo acima de quase
tudo e com o fato de colocarmos jovens, como o Neymar,
no lugar em que colocamos.
Mas desconfio que quem
vai pagar essa nossa conta
são eles. A começar pelo próprio Neymar, por exemplo.
Em vez de termos compaixão e colaborar com os mais
novos em suas trapalhadas,
nós os colocamos no tribunal. E que venham as acusações já que é quase só para isso que tem sido usada a autoridade do mundo adulto.
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