São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011
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JOSÉ ROBERTO TORERO No buraco
Qual não foi minha surpresa quando entrei no Bar da Preta e vi os quatro craques na mesa do canto. Eles usavam chinelos e jogavam buraco animadamente. Obviamente, por uma questão de privacidade, não citarei seus nomes. Direi apenas que um era gigantesco, outro tinha um pescoço longo como um cisne, o terceiro falava com um estranho sotaque e o último usava uma camisa de três cores. Em busca de um furo de reportagem, ou pelo menos de uma boa fofoca, sentei na mesa ao lado e fiquei escutando a conversa. "Pô, ficar machucado é fogo", dizia o pescoçudo. "Este ano passei mais tempo no departamento médico que no campo." "Nem me fale. Estou parado desde abril", falou o grandão. "Até meu presidente anda fazendo piada comigo." "Chegaram a decir que yo tinha uma contusión psicológica. Mas o que posso fazer se até chutando o ar yo me machuco?" "Fui contratado em março e ainda não joguei nem um minuto. Os torcedores dos outros times estão dizendo que meu apelido é Fabuloso porque eu custei uma fábula e a minha estreia é um conto de fadas." "Nem me fable de apelidos! Escreveram que sou um Mago que só sabe fazer o truque do desaparecimento." "Me chamam de Canela de Vidro..." "Chinelinho de Ouro..." "Quanta maldade..." "Pelo menos a gente continua recebendo." "Isso é. Ganhamos uma boa grana sem ter que viajar, ficar em concentração, levar botinada..." "O clube é que não gosta muito." "Será que não é o INSS que paga o nosso salário? Depois de 15 dias a gente tem direito ao auxílio-doença." "Se a gente não se recuperar, dá para pedir aposentadoria por invalidez e ficar recebendo o mesmo salário o resto da vida?" "Olha que é uma ideia..." "O saco é quando os torcedores encontram a gente e dizem: 'Pô, pode sair na naite e não pode jogar?'" "Pior é que meu passe desvalorizou. Ninguém quis me comprar nessa janela." "Teve um árabe que queria me levar, mas yo não ia deixar o nosso joguinho de buraco." "Assim é que se fala!", "Esse é firmeza", "Boa!", disseram os outros três. Depois disso, o jogo continuou em silêncio até que um deles gritou: "Ah, bati!". "A coxa?", "O calcanhar?", "O joelho?", perguntam os outros, preocupados. "Não, bati no jogo. E com canastra, he, he." Texto Anterior: Santos: Muricy relembra arrancada com o São Paulo e vê clássico como final Índice | Comunicar Erros |
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