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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Dispensado em 1986, com o fim do movimento liderado por Sócrates, técnico deixa atletas participarem de decisões

Juninho reativa "democracia corintiana"

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-integrante da "democracia corintiana", Juninho trouxe de volta ao clube uma pitada do movimento liderado por Sócrates no início da década de 80.
Promovido do time júnior para o profissional, o técnico ouve os atletas antes de tomar decisões. Ele deu liberdade para os jogadores opinarem sobre como o Corinthians deve atuar e qual a melhor maneira de corrigir os erros.
No passado, Sócrates e seus companheiros participavam de todas as decisões do futebol.
Segundo o atacante Gil, uma das primeiras atitudes de Juninho, que assumiu o time na terça, foi pedir aos atletas que falassem como preferem atuar.
"Não são todos os treinadores que dão essa liberdade para os jogadores, por isso precisamos aproveitar e render bem para que isso continue", declarou Gil.
De cara, os atletas deram palpites sobre a maneira de o time se posicionar nas cobranças de falta contra e a favor. No último domingo, os corintianos levaram um gol logo após cobrança do goleiro são-paulino Rogério. Livre, o atacante Diego pegou o rebote e fez o primeiro gol da vitória do São Paulo por 3 a 0.
O toque de democracia de Juninho no Parque São Jorge torna ainda mais emblemática a escolha dele para ser o técnico-tampão, provavelmente até o final do ano.
O presidente Alberto Dualib, que deu a última palavra sobre a sua promoção, dispensou Juninho quando ele era zagueiro.
Em 1986, Dualib era vice de futebol e afastou Juninho junto com remanescentes da "democracia corintiana", como o ex-lateral Vladimir. Juninho estava na equipe desde 1982. As dispensas impediram qualquer tentativa de o movimento ser retomado.
Para substituir Júnior, Juninho sofreu a resistência de conselheiros que até hoje não enxergam com bons olhos os que participaram daquele grupo.
Hoje, o diretor técnico Rivellino diz aprovar o estilo adotado por Juninho. "Quem sente a dificuldade em campo é o jogador, então ele precisa ter liberdade até para mudar algumas coisas", afirmou.
Na época em que jogava, Juninho conviveu com situações opostas no Corinthians e na seleção brasileira. Enquanto desfrutava de liberdade no clube, no time nacional era dirigido por Telê Santana, que fazia seus jogadores seguirem uma disciplina rígida.
"Aprendi um pouco com cada situação, com cada treinador. O que posso dizer é que gosto do diálogo com os jogadores", disse o técnico em sua apresentação.
Quem trabalhou com ele no time amador assegura que Juninho não herdou a linha-dura de Telê -o ex-treinador chegou a proibir seus comandados de usarem penteados extravagantes.
"Em seis meses de trabalho com o Juninho, nunca ouvi ele dar uma bronca num jogador", disse o lateral-esquerdo Vinícius.
Nos primeiros treinos, Juninho gritou pouco e várias vezes parou o trabalho para se reunir com os atletas no gramado.

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