São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Atrás da linha da bola

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Sempre que a seleção enfrenta uma boa defesa e joga mal, Parreira justifica que o rival tinha oito ou nove jogadores atrás da linha da bola. É realmente difícil ultrapassar essa marcação, mesmo com tantos craques.
A dificuldade ainda é maior se o time que ataca coloca sete atrás da linha da bola, como faz o Brasil, até contra um time que só defende. Eram três armadores muito recuados para proteger quatro defensores contra um único atacante colombiano.
Quando o Brasil perdia a bola no ataque ou finalizava mal, os três armadores recuavam, ficavam próximos dos zagueiros e assistiam aos colombianos tocarem a bola para os lados. Aí, eles entregavam a bola e esperavam o time brasileiro perto da área. O Brasil perdia a bola no ataque, e a chatice recomeçava. Uma das formas de vencer essa retranca é tomar a bola mais à frente, pelo menos no meio. Os armadores brasileiros marcaram de longe, e os zagueiros ficaram muito recuados, encostados à grande área. A "blitz" brasileira, anunciada antes do jogo, durou um minuto.
No segundo tempo, seria uma boa chance para entrar mais um atacante hábil e veloz pela ponta (não há esse jogador no elenco) ou pôr os dois Ronaldinhos, Adriano e mais o Alex, e sair um armador. Mas isso é impossível para o Parreira porque ficariam menos de sete jogadores atrás da linha da bola. Esse é um dos dogmas do técnico.
Juninho Pernambucano e Kaká fizeram falta, mas a principal dificuldade do Brasil foi coletiva. O jogo contra a Venezuela não serve de referência. O Brasil goleou também os fraquíssimos Bolívia e Haiti sem o Kaká, e com ele e Juninho jogou mal várias partidas.
São cinco empates em dez jogos pelas eliminatórias. Mesmo com muito mais craques, o Brasil tem hoje os mesmos 20 pontos que tinha nesse momento nas eliminatórias anteriores. A Argentina tinha 25 pontos e hoje tem 19.
Como o Brasil foi mal nas eliminatórias anteriores e foi campeão na Copa, foi reforçada a enganosa idéia de que o time joga bem e ganha quando quiser, de qualquer adversário. Bastaria treinar 15 dias. Não é sempre assim. É preciso formar um bom conjunto.
Sempre que o Brasil joga mal, falam também que os jogadores estão desmotivados para atuar em amistosos e ou contra seleções inferiores nas eliminatórias. Não é por aí. Os atletas sul-americanos são os que têm mais orgulho de jogar e que mais se dedicam às seleções de seus países.

Marcar e criar
Uma equipe em que o meio-campo marca pouco e de longe e deixa o adversário tocar a bola e pensar no que vai fazer só terá grandes chances de vencer se tiver muito mais craques do que os outros, como acontece com o Brasil.
Isso é uma coisa. Outra é supervalorizar a marcação em detrimento da criatividade e da ousadia, como fazem muitos técnicos brasileiros. Outra razão dessa preferência é a falta de talentos individuais. Sem craques, só dá para marcar e correr.
Todos os armadores de um grande time precisam marcar e criar. Não é uma coisa ou outra. As equipes em que há uma rígida divisão dessas funções se tornam previsíveis, pouco criativas e fáceis de serem anuladas.

Baixinhos e altinhos
O técnico Marco Aurélio, do Cruzeiro, disse que pretende aumentar a média de altura da equipe, que é hoje de 1,80 m, para o próximo ano. Os atletas de hoje são muito maiores do que os do passado. As jogadas pelo alto, que não eram comuns nos anos 60, tornaram-se as mais freqüentes, às vezes as únicas.
A maioria dos grandes armadores e atacantes do passado tinha menos de 1,75 m, como Pelé, Maradona, Romário, Gerson, Zico, Rivellino, Dirceu Lopes e Reinaldo. Os melhores do futebol atual, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo, Zidane, Thierry Henry, Shevchenko, Adriano, Totti e Nistelrooy, medem mais de 1,80 m.
Quando fui convocado pela primeira vez para a seleção, alguns disseram que eu não poderia ser titular porque era baixinho. O apelido Tostão (menor moeda da época) e as minhas pernas curtas e grossas davam a impressão de que eu era menor do que era.
Antes do primeiro treino, foram medidas as alturas dos jogadores sob os olhares dos repórteres. Fiz questão de ficar ao lado do Pelé. Medi 1,71 m, e o Pelé, 1,72 m. Mostrei aos jornalistas, e ninguém nunca mais disse que eu era baixinho para jogar na seleção.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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