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FUTEBOL
Ode a Carlitos Tevez
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
O Palmeiras dominava o
jogo no primeiro tempo
quando, aos 20min, num contra-ataque, Hugo lançou Carlitos Tevez, que deixou os zagueiros Daniel e Gamarra na saudade para
fazer 1 a 0. Era o fim do jejum do
argentino em clássicos estaduais.
A justiça no placar veio em seguida, na cobrança de pênalti
bem marcado pelo árbitro e bem
cobrado por Juninho, o melhor
em campo, tamanha sua movimentação e lucidez.
Com dez jogadores depois que
Fabrício abusou de fazer faltas
desleais (Antônio Lopes tinha razão ao preferir Bruno Octávio, o
colunista precisa admitir), o Corinthians tratou de se defender e o
Palmeiras pouco se aproveitou da
importante vantagem.
Juninho herói, Fabrício vilão,
Carlitos Tevez, personagem.
Ele talvez nem venha a ser
apontado como o melhor jogador
deste Brasileirão.
E ninguém tem certeza de que
estará por aqui no ano que vem,
dadas as péssimas relações entre
a problemática MSI e a desqualificada direção corintiana.
Já se disse que poucos jogadores
se identificaram tanto com a torcida corintiana como ele. De fato.
Trata-se de um exemplo eloqüente do "maloqueiro e sofredor, graças a Deus", venerado pela Fiel.
Mais que isso, Carlitos Tevez
tem sido uma interessante surpresa a cada vez que fala.
Econômico nas palavras, dono
de um espanhol mais para o Forte
Apache, favelão de onde veio na
periferia miserável de Buenos Aires, do que para Madri ou para a
própria Buenos Aires, Tevez tem
sido certeiro. Desde que chegou
ao Parque São Jorge.
Assim aconteceu quando ficou
solidário com companheiros perseguidos pela massa ou com os
técnicos que caíram, a seu ver,
sem motivos.
Atleta que mais apanha dentro
do gramado, só reclama durante
os jogos, às vezes de maneira perigosa, destemperada.
Mas, fora, como se reconhecesse
que, além da complacência criminosa das arbitragens e do ciúmes
que desperta por ser estrangeiro
tão bem pago e acarinhado por
sua torcida, paga o preço de um
estilo de jogar bola, que busca o
contato, que dá o corpo para levar
a pancada e admite candidamente que "são coisas do futebol".
Nem por isso deixou de pontuar
com rara felicidade o que pensa
sobre os últimos acontecimentos
que mancharam o campeonato:
preferia que os jogos perdidos pelo Corinthians não fossem disputados novamente e criticou a atitude pouco profissional dos jogadores santistas nos episódios da
Vila Belmiro.
Sofrido, inculto, tímido, pedra
bruta, Carlitos Tevez tem se comportado como se um sábio fosse,
oásis de sensatez em meio à polêmica que desandou o Brasileiro.
E foi ele que isolado na frente,
com o inestimável auxílio de Fábio Costa atrás, levou o Corinthians a um empate com evidente
gosto de vitória.
Porque Carlitos Tevez encarna
como poucos um sentimento cada
vez mais distante dos campos de
futebol: o de morrer pela camisa
que veste.
Não ao Sim
Tomara que me engane, mas o
Não deve ganhar do Sim no referendo. Muito porque não são
poucos os que identificam no
Sim um voto a favor do governo. Votarei no Sim, pela utopia
da sociedade desarmada. Mas o
que parece claro nestes tempos
de desencanto, de esperanças
frustradas, é que cada vez mais,
nós, brasileiros, dizemos não
ao que vem de cima e nem sempre da melhor maneira. O grau
de intolerância aumenta à medida que escândalos se sucedem e decisões são enfiadas
goela abaixo. O que tem acontecido nos estádios faz parte do
fenômeno. Do clima de vale-tudo, como se viu na Vila Belmiro
na quinta-feira. Se há tantos
motivos para desconfiar da Justiça comum hoje em dia no
Brasil, o que dizer da dita Justiça esportiva, de um homem só?
E-mail: blogdojuca@uol.com.br
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