São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

Texto Anterior | Índice

FUTEBOL

O poeta da derrota

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje, os narradores e os comentaristas terão de trabalhar com uma calculadora.
Para conseguir a classificação, oito equipes disputarão três vagas. Além do Gama, três entre seis times serão rebaixados. Dos 13 jogos, apenas o entre Flamengo e Guarani não vale nada. Nos outros, há pelo menos um time lutando para se classificar, para não ser rebaixado ou para tentar ficar entre os quatro primeiros.
Como não tenho nenhuma novidade para escrever sobre a rodada emocionante e decisiva de hoje -a imprensa esportiva já disse e repetiu tudo 1 milhão de vezes-, transcrevo parte de um poema maravilhoso, escrito pelo poeta maior Carlos Drummond de Andrade, após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966.
Espero que essas palavras sirvam de consolo e incentivo para os atletas e os clubes que vão cair. Acho que desta vez não haverá virada de mesa.
"...eu, poeta da derrota, me [levanto sem revolta e sem pranto
para saldar os atletas vencidos.
... depois da hora radiosa a hora °[dura do esporte,
sem a qual não há prêmio °°[que conforte,
pois perder é tocar alguma coisa
mais além da vitória,
[é encontrar-se
naquele ponto
°°°°[onde começa tudo
a nascer do perdido,
[lentamente."

Reunião de amigos
Após ser eleito, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na abertura do conselho consultivo do novo governo: "Esta não é uma reunião de amigos".
A reunião de dirigentes que comandam o futebol brasileiro não pode ser também uma reunião de amigos. Esse é o problema básico do esporte e do país.
Os "amigos" se reúnem, trocam favores de acordo com interesses pessoais, locais, financeiros e políticos e decidem o destino do futebol, da sociedade e o regulamento da pelada de domingo.
Lentamente, isso está mudando. As pessoas estão mais conscientes dos seus direitos e deveres e estão sendo eleitos governantes e dirigentes de clubes com novas idéias e atitudes, como Bebeto de Freitas, no Botafogo.
Os dirigentes dos clubes, das federações e da CBF, em vez de tramarem nova virada de mesa, terão de agir para que a segunda divisão seja um campeonato organizado, valorizado e rentável.
Se isso acontecer, os torcedores das equipes rebaixadas ficarão ainda mais apaixonados pelos seus clubes.
Alguém já disse que a única paixão (não confundir com amor) que não acaba é a pelo time do coração.

A dupla da seleção
Está praticamente certo que Carlos Alberto Parreira será o coordenador da seleção brasileira, e Oswaldo de Oliveira, o treinador. O técnico atual do Corinthians vai coordenar todas as divisões de futebol da Confederação Brasileira de Futebol. Não sei se a equipe olímpica deverá ter outro treinador.
Muitos poderiam argumentar que o Parreira não seria o mais indicado para técnico da seleção, mas poucos vão discordar de sua escolha para coordenador.
Além da experiência e do conhecimento técnico de futebol e de áreas afins, Parreira é o mais equilibrado e preparado emocionalmente para a função. É respeitado por todos, sem ser conivente e fazedor de média.
Parreira teria indicado Oswaldo de Oliveira. Os dois são afinados e se admiram. Oliveira começou a carreira por causa do incentivo do professor. Não é uma escolha apenas por amizade, mas também por competência.
Parreira não vai desejar o cargo de técnico nem Oswaldo vai querer ter mais poderes. As funções do treinador são as de escalar, substituir e comandar o time nos treinos e jogos. Não é de dirigir o departamento de futebol. Isso é função do coordenador.
Se não fosse a presença do Parreira, haveria muitas dúvidas sobre quem seria o treinador mais indicado.
Como estrategista, prefiro o Mário Sérgio ou Wanderley Luxemburgo. Porém um técnico, principalmente o da seleção brasileira, não deve ser escolhido apenas pelos seus conhecimentos técnicos e táticos.
Oswaldo de Oliveira, além de ser um bom treinador de campo, é educado, equilibrado e respeitado pelos jogadores e pela imprensa.
Ele não será também um super-héroi, como o Felipão.
Isso é bom para o futuro do futebol brasileiro.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Automobilismo: Indy encerra o ano e dá início a debandada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.