São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Viva o inimigo!


Na reta final do Brasileiro, os torcedores terão de rever seus conceitos para ver o time do coração se dar bem


"DÁ-LHE, GRÊMIO!" , gritam os colorados; "Cruzeeeeeeero!", berram os coxas; "Fogão, fogão!", bradam os palmeirenses; "Verdão, verdão!", vibram os são-paulinos.
O campeonato está num momento em que não basta torcer para o próprio time. Agora temos que olhar a tabela e cruzar os dedos por alguns adversários, sempre com segundas intenções, é claro.
O inimigo de ontem virou o amigo de hoje. Muitos torcedores terão que tirar férias de seu ódio eterno e fazer figas para tradicionais rivais.
Os colorados são um bom exemplo deste paradoxo. Amanhã vão rezar pelo Grêmio contra o Palmeiras. Afinal, o time ainda tem uma pequena chance de ser campeão brasileiro, mas para que isso aconteça é fundamental que o time paulista perca do tricolor gaúcho. Se bem que talvez apenas os colorados mais frios, mais racionais e maquiavélicos consigam torcer pelo arqui-inimigo. É um exercício de pragmatismo.
Já os torcedores do Fluminense terão que jogar suas energias noutro tricolor, o paulista. É que se o Botafogo perder ou empatar com o São Paulo e o Fluminense vencer o Sport, o que não parece impossível, o time das Laranjeiras sai da zona do rebaixamento (isso sim parecia impossível há algumas rodadas).
Por outro lado, os palmeirenses querem que o Botafogo confirme sua fama de imprevisível e vença o São Paulo. Só assim terão chance de recuperar a liderança que escorreu por entre seus dedos na semana passada.
Ironicamente os são-paulinos hão de gritar "Verdão, verdão!". Não pelo Palmeiras, é claro, mas pelo Goiás, que encara o Flamengo, no Rio. O rubro-negro me parece, hoje, o único time capaz de estragar a festa do tetra. E o Goiás, que é o pior time do segundo turno mas vem de uma boa vitória, pode causar um tropeço fatal ao time carioca.
Os atleticanos mineiros talvez sofram menos, pois torcerão pelo Atlético. Mas pelo do Paraná. E muito. Afinal, o Furacão enfrenta a Raposa, que, além de ser o maior inimigo do Galo, também está apenas um ponto atrás na disputa por uma vaga para a Libertadores. Por sua vez, os atleticanos paranaenses torcerão pelo Santos, que, na Vila, pode vencer o Coritiba, deixando o arquirrival do Furacão em maus lençóis quanto ao rebaixamento.
Os botafoguenses, que terão a solidariedade de flamenguistas e palmeirenses, estarão ocupados enviando energias positivas para o Sport, que mesmo rebaixado pode complicar a ascensão do Fluminense. O time pernambucano conseguiu empatar com o Palmeiras no Parque Antarctica e pode, por que não, ganhar do time carioca em Recife.
Nestas três últimas rodadas, os torcedores terão que se desdobrar.
O olho direito verá a partida do clube do coração pela tevê, o esquerdo acompanhará pela internet o adversário que está à nossa frente e os ouvidos estarão grudados num radinho, torcendo pelo tropeço da equipe que está em nosso encalço.
Enfim, este é o momento em que a ideologia escoa pelo ralo. O que vale é ficar por cima, mesmo que tenhamos que nos unir a velhos inimigos.
O Brasileiro está no seu momento PMDB. Ou PT. Ou PSDB. Ou DEM.
Pode escolher.

torero@uol.com.br


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