São Paulo, Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Técnico quer provar que pode fazer do Corinthians campeão com um estilo alternativo de comando
Oliveira joga por fim de "ditadura"

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Torcedores do Corinthians se espremem na bilheteria do Pacaembu no primeiro dia de venda de ingressos para a final de domingo


MAÉRCIO SANTAMARINA
da Reportagem Local

O título do Campeonato Brasileiro-99 é, para o técnico corintiano, Oswaldo Oliveira, um desafio para provar que o futebol não precisa de ""ditadores".
Perto de um desequilíbrio, como ele próprio reconheceu, após reportagens da Folha mostrando que o comando do clube estava pulverizado entre os jogadores, Oliveira resolveu transformar a irritação, que poderia ameaçar a sua primeira conquista nacional, no desafio lançado em Atibaia, onde o time está concentrado.
""É a parte que me cabe deste latifúndio", disse o treinador, citando verso de ""Morte e Vida Severina", a obra mais conhecida do poeta pernambucano João Cabral de Mello Neto, morto no dia 9 de outubro deste ano.
Ele faz questão de mostrar que a poesia, assim como o jazz e a música clássica, fazem parte de sua rotina, diferenciando-o da maioria dos técnicos. Seu antecessor, Wanderley Luxemburgo, atual técnico da seleção brasileira, por exemplo, preferia livros de auto-ajuda e pagode.
Oliveira acha que já provou para si, conquistando o Campeonato Paulista no primeiro semestre e mantendo o Corinthians na liderança do Brasileiro desde o início, a eficácia de seu estilo alternativo de dirigir o time, mas disse ainda sentir uma oposição forte a seu sistema, que poderia mudar com o segundo título do ano.
""Parece haver uma resistência em relação aos técnicos com um perfil diferente, que não precisam recorrer à linha dura para se impor. Se ganharmos o Brasileiro, isso acalma. Pelo menos até o Mundial de Clubes da Fifa, em janeiro. Daí, se houver algum tropeço, começa tudo de novo."
O problema, de acordo com o treinador, está no próprio futebol brasileiro, motivado pela paixão e pelo resultado imediato.
O supervisor técnico do Corinthians, Valdir Joaquim de Moraes, que trabalhou com alguns dos técnicos que mais conquistaram títulos no Brasil, como Telê Santana e Luxemburgo, defendeu o estilo de Oliveira.
""Nunca precisei erguer a voz nem dar um tapa para educar meus dois filhos. Conheci técnicos, como o Ênio Andrade, por exemplo, que foram vitoriosos usando um estilo semelhante ao do Oswaldo (Oliveira). Chegou a hora de mudar a mentalidade em relação a essa posição linha dura", disse Moraes.
Menos estressado após o primeiro dia de refúgio em Atibaia, Oliveira aproveitou o dia de ontem para desabafar: ""Tem momentos em que olho para trás e me pergunto se tudo isso está valendo a pena. Estou contente com o que realizei, mas não sei se ganhei mais jogos ou mais críticas como técnico do Corinthians".
Chegar às finais do Brasileiro, segundo ele, foi um fato inesperado para quem, há um ano, nem pensava em ser treinador.
""É claro que estou comandando uma grande equipe, e por isso seria possível chegar às finais. Mas confesso que para mim foi até inesperado. Eu não tinha história como treinador. Quando surge uma pessoa desconhecida que começa a ir além do que esperavam, surgem os antagonismos."
Segundo ele, o próprio técnico Humberto Ramos, do Atlético-MG, foge do estereótipo do treinador tradicional.
Ele comparou sua rotina de treinador a um caleidoscópio. ""É só dar uma girada que surge uma nova faceta. Se ficasse 300 anos no futebol, acho que não conseguiria saber tudo o que se passa à volta", disse o técnico corintiano.
""O Oswaldo tem duas características fundamentais para um líder, que são senso de visão e ética. A diferença é que ele não mostrar autoridade para provar coragem em suas decisões", disse a psicóloga Suzy Fleury, chamada ontem às pressas em Atibaia para ajudar o time a se recuperar do abalo demonstrado nos últimos dias.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.