São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
Goleiro titular do Grêmio é o jogador há mais tempo em um único time
Danrlei bate o recorde de estabilidade entre atletas

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O goleiro Danrlei Hinterholz, 27, viu passar pelo Grêmio três presidentes, quatro patrocinadores, nove técnicos e dez duplas de zaga. E ele lá, no mesmo lugar.
Na atualidade, é o jogador que está há mais tempo em um mesmo clube e no posto de titular (oito temporadas), algo cada vez mais raro em tempos de passe livre e transações milionárias.
""Tive propostas para sair, mas acabei ficando por vários motivos", afirmou o goleiro.
Ele enumera as razões:
1) o Grêmio não é um time vendedor; 2) o mercado para goleiro é restrito; 3) o passe do jogador dessa posição é menos valorizado; 4) sua fama de briguento causada por expulsões e brigas em campo; e 5) sua identificação com o clube, Porto Alegre e o Estado.
Com contrato até o final de 2003, ele já soma 427 atuações pelo time. E a próxima partida, hoje, contra o São Caetano, é decisiva para o retorno do Grêmio para a Taça Libertadores, torneio sul-americano conquistado em 1995 e almejado novamente agora que o clube tem uma parceria com a empresa suíça ISL.
É justamente essa época que Danrlei classifica como a melhor fase da carreira até o momento. ""Entre 1994 e 1997, ganhei tudo o que imaginei."
Foram dois títulos gaúchos (1995/96), dois da Copa do Brasil (1994/97), o Brasileiro (1997) e a Libertadores (1995). Só faltou o Mundial interclubes, quando os gremistas perderam para o Ajax, da Holanda.
Por outro lado, o pior momento foi em 1999, quando se separou da mulher -o litígio judicial afetou seu rendimento em campo.
Ainda com seus bens em juízo, tenta reerguer sua vida financeira montando uma franquia de relógios suíços em um shopping.
A primeira vez que Danrlei pisou o gramado do estádio Olímpico foi em 1986, quando tinha 13 anos. Seu tio Beto era goleiro reserva do Grêmio e levou o garoto para acompanhar um treino.
Danrlei morava em Crissiumal, cidade próxima à fronteira com a Argentina, mesmo local onde cresceu outro goleiro: Taffarel.
Ele tinha ido à capital gaúcha nas férias de inverno. Como o tio tinha medo de que ele se perdesse, ordenou que ficasse atrás do gol, servindo de gandula. ""Não queria que a bola fosse longe, me atirava para defendê-la. Um diretor de Grêmio viu e me disse para fazer um teste", afirmou o jogador.
Terminado o ano e a oitava série, Danrlei se internou no Grêmio para uma estada que já dura 13 anos. ""Nos dois primeiros anos, eu era muito interiorano e quase não saía do clube."
Com 16 anos, foi vice-campeão em 1991 da Copa São Paulo de juniores, competição com jogadores até 21 anos.
Mas precoce mesmo foi sua ascensão ao time profissional em meados de 1993. Os três goleiros do Grêmio se contundiram, e Danrlei, na época com 19 anos, foi chamado da equipe júnior.
Duas boas atuações convenceram o técnico Luiz Felipe Scolari a confirmá-lo como titular.
Vieram os títulos e as convocações para a seleção brasileira. Sua estréia foi na equipe pré-olímpica, em outubro de 1994, contra o Chile do então novato Marcelo Salas. Vitória do Brasil por 4 a 0.
Como reserva, Danrlei esteve na Olimpíada de Atlanta e, depois, foi convocado para a seleção principal. Sua última convocação foi para a Copa América de 1995, quando o Brasil foi vice-campeão.
Teve uma proposta do La Coruña e outra do Flamengo para sair, mas optou por ficar.
""Em uma transferência, ganharia os 15%, que corresponderiam a US$ 150 mil. Para isso, prefiro ficar em Porto Alegre e lucrar com meus negócios", afirmou.
Ele reclama da imagem de briguento que conseguiu. ""Sou um cara da fronteira, lugar de um passado de lutas. Entro em campo para ganhar e, às vezes, faço muita besteira. Mas estou peleando pelo meu time", declarou. ""Quem me conhece do dia-a-dia sabe como eu sou. Não sou um descontrolado", completou.
Danrlei busca agora uma redenção após ter um começo meteórico de carreira, seguido por temporadas estacionárias.


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