São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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BASQUETE

Terra de cego

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Quatro, no máximo cinco equipes costumam jogar pelo título do Paulista masculino. Um pelotão intermediário luta apenas para se classificar ao Nacional e, assim, preservar o projeto basquete ao longo de todo o "ano fiscal". Completam a primeira divisão os chamados "times de três meses", geralmente montados às pressas, com objetivos tão despretensiosos quanto seus borderôs.
Neste ano, as circunstâncias esvaziaram o grupo de elite. Limitaram, pelo menos na teoria, a luta pela taça a duas equipes.
A fuga do patrocinador implodiu o campeão brasileiro, Bauru. Forças de tradição, como Franca e Mogi, com (alguns meses, sem) o dinheiro contado, persistem na árdua e longa marcha da reconstrução -o último remontou o time quase inteiro neste semestre.
Restaram dois clubes, ambos respaldados por instituições de ensino privado (o motor que menos quebra nos boxes do basquete nacional nos anos 2000): Ribeirão Preto e Araraquara.
Uma série de contusões e um certo deslumbramento, natural após o inesperado e contagiante sucesso nos torneios anteriores, minaram a campanha desta.
Nada minou a daquela.
Com o projeto mais antigo e um sólido parceiro (COC), Ribeirão Preto mostrou entrosamento, preparo físico, força política e tranquilidade emocional e literalmente sobrou no Estadual.
A equipe ostenta o melhor ataque. É a mais prolífica, 98,8 pontos por partida. E é a mais precisa entre os 17 participantes, tanto nos tiros de dois pontos (58,9%) como nos de três (38,6%).
O investimento na capacidade atlética, que norteou a formação do elenco, rendeu dividendos. O time atropela nos contra-ataques. Chuta quase sempre na segurança -até os armadores, posição fadada a arremessos de desespero, exibem 57% de pontaria. E cava muitas faltas -só dois classificados, Franca e Casa Branca, atiram mais lances livres.
Ao fazer prevalecer sua velocidade, força física e aplicação tática, garante fluidez ofensiva. Por isso lidera o ranking de assistências, passes perfeitos que redundam em cestas (20,6). Os cinco titulares pontuam na casa de dois dígitos, embora nenhum atue mais de 30 minutos por jogo.
Pelos mesmos motivos, Ribeirão Preto exibe, também, a melhor defesa. É a menos vazada, média de 77,3 pontos. E é a que mais faz suar os rivais, como comprovam os seguintes números, todos sem paralelo no torneio: 12,7 assistências permitidas, 19,7 "turnovers" forçados e 12,2 bolas roubadas.
Acossados, os adversários não conseguem acertar mais de 33% dos arremessos de quadra, outro recorde deste campeonato.
A disciplina e o equilíbrio repetem-se na quadra defensiva. Embora seja a 12ª equipe mais faltosa (23,4), nenhum de seus atletas registra mais de três infrações por partida, o que a distingue das outras sete classificadas.
O time excele, ainda, no jogo vertical. Encabeça tanto o ranking de tocos (4,6) como o de diferencial de rebotes (+ 8,1).
Assim, tamanha a superioridade, varou invicto a fase de classificação. Ainda que seja levado em conta o baixo nível do Estadual, trata-se de uma proeza (inédita?). Ter mantido a chama acesa durante 30 rodadas, num ritmo frenético de três confrontos por semana, foi o principal mérito do técnico Lula e de sua comissão.

Ribeirão 1
O ala Renato é o jogador talentoso e lúcido do time. Mas Alex sobressai no Paulista: 18,1 pontos (60% de precisão nos arremessos), 4,7 rebotes, 4,1 assistências, 2,9 desarmes e 1 toco. Fosse mais alto -e tivesse uma pitada de visão de jogo-, o explosivo ala-armador de 1,89 m e 22 anos não faria estrago só em território nacional.

Ribeirão 2
Que fique claro, os playoffs de janeiro podem ser um campeonato distinto. Os adversários virão reforçados. Franca, por exemplo, enfim reestreará Helinho. E a interrupção para as festas de fim de ano constitui ameaça para quem se acostumou a jogar no embalo.

Torneira
"Hoje sei que o presidente da CBB, embora bem intencionado, toma posições e decisões políticas, visando seu interesse pessoal na permanência no cargo. Lamentável." Palavras de Hélio Rubens.

E-mail melk@uol.com.br


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