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FUTEBOL
Campeão!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Querido leitor, querida leitora, eu lhes pergunto: "Agora que é campeão, o que tem que
fazer o santista?".
E eu lhes respondo: "Deve botar
a faixa no peito e sair andando
por aí feliz da vida, sem dar bola
para nada nem ninguém. Deve
botar a faixa no peito ao tomar
seu pingado na padaria, deve botar a faixa no peito para trabalhar no escritório, deve botar a
faixa no peito em dia de casamento ou velório".
Nesse imenso país, nesse Brasil
que é campeão do mundo, o campeão é o Santos. Não há um time
melhor que ele. Nenhum.
Pelos próximos 363 dias, quando o santista acordar, deve se
olhar no espelho e dizer para si
mesmo: "Bom dia, campeão. Como vai?". E deve se responder:
"Vou muito bem, campeão, vou
muito bem".
E que campeão?! Quantos lances trágicos e magníficos não
aconteceram nesta guerra? Para
vencê-la, o Santos derrotou os
seus principais inimigos.
Logo no primeiro jogo venceu o
Botafogo, seu algoz de 95, e assim,
no final das contas, ajudou a rebaixá-lo para a segunda divisão.
Na primeira partida do mata-mata, matou o São Paulo, tido
então como o melhor time do
país. Mas o melhor time de país já
era o Santos, que venceu o tricolor
não uma, mas duas vezes.
Depois foi a vez do Grêmio,
equipe forte e que tinha um dos
artilheiros do campeonato.
E, na final, venceu o Corinthians, seu principal inimigo. O
mesmo do primeiro e do último
título santista, o mesmo que há
pouco tempo o havia vencido com
um doloroso gol aos 47min48s. E
o Santos venceu o rival duas vezes. A primeira, com o cérebro, a
segunda, com o coração. As duas
com gols nos últimos minutos, para dar ainda mais emoção.
E o campeão teve atletas inesquecíveis. No gol teve Fábio Costa, um goleiro que matou nossa
saudade de Rodolfo Rodrigues, e
teve Júlio Sérgio, que foi seguro e
eficiente durante todo o torneio.
Na zaga, teve Maurinho, que
parece meio corcunda, mas, na
verdade, é aerodinâmico. Teve
Michel, que superou uma suspensão injusta e deu a volta por cima.
Teve André Luís, que estava marcado pela derrota para o Corinthians nas semifinais do Campeonato Paulista do ano passado e
agora está marcado pela vitória.
Teve Preto, um Gamarra de ébano. Teve o firme Pereira. Teve
Alex, o melhor zagueiro do campeonato. E teve Léo, que fez gols
nas horas em que o time mais precisava.
No meio-de-campo, teve Paulo
Almeida, o onipresente volante
que está em todas as partes do
campo. Teve Renato, o homem de
veludo, aquele que marca sem
deixar marcas. Teve Alexandre,
que joga sorrindo. Teve Elano,
um espartano. Teve Diego, um
pequeno gênio que ainda será
grande.
No ataque, teve Alberto, o melhor grosso do mundo. E teve Robinho, o saci de duas pernas.
Esses garotos maduros foram liderados por Leão, técnico que parecia estar se especializando em
montar times bons-mas-não-muito, mas que agora criou um
esquema voltado para o ataque,
para a alegria. Leão perdeu o ar
sisudo, militar, e ficou mais leve.
Mas o Santos ainda teve ao seu
lado a torcida, uma torcida que
soube ter paciência com um time
de garotos, uma torcida que agora vai poder virar suas faixas e
seu queixo para cima, uma torcida que agora pode olhar no espelho e dizer: "Sou campeão!".
Corinthians
O Corinthians jogou muito
bem. Perdeu, mas Gil, Kléber
e cia. mostraram um futebol
inteligente e aplicado. Desta
vez, percebendo que por baixo não teria grandes resultados, o time usou e abusou do
jogo aéreo. Disso resultaram
as muitas defesas de Fábio
Costa e os gols de Deivid e
Anderson.
Brasileiro-2003
E a proposta da Globo para o
torneio do próximo ano me
parece pouco inteligente. Ele
pretende ter turno e returno e
depois um mata-mata com
os quatro finalistas. Acho que
vai unir o pior dos dois modelos. Na primeira parte, não
terá tanta audiência, pois os
jogos não valem tanto. E a segunda, onde se recuperaria,
será curta. Creio que o melhor, até para a audiência, é
fazer turno e returno que valham mesmo algo, para que o
público assista aos jogos, ou
manter tudo como está.
E-mail torero@uol.com.br
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