São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Campeão!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Querido leitor, querida leitora, eu lhes pergunto: "Agora que é campeão, o que tem que fazer o santista?".
E eu lhes respondo: "Deve botar a faixa no peito e sair andando por aí feliz da vida, sem dar bola para nada nem ninguém. Deve botar a faixa no peito ao tomar seu pingado na padaria, deve botar a faixa no peito para trabalhar no escritório, deve botar a faixa no peito em dia de casamento ou velório".
Nesse imenso país, nesse Brasil que é campeão do mundo, o campeão é o Santos. Não há um time melhor que ele. Nenhum.
Pelos próximos 363 dias, quando o santista acordar, deve se olhar no espelho e dizer para si mesmo: "Bom dia, campeão. Como vai?". E deve se responder: "Vou muito bem, campeão, vou muito bem".
E que campeão?! Quantos lances trágicos e magníficos não aconteceram nesta guerra? Para vencê-la, o Santos derrotou os seus principais inimigos.
Logo no primeiro jogo venceu o Botafogo, seu algoz de 95, e assim, no final das contas, ajudou a rebaixá-lo para a segunda divisão.
Na primeira partida do mata-mata, matou o São Paulo, tido então como o melhor time do país. Mas o melhor time de país já era o Santos, que venceu o tricolor não uma, mas duas vezes.
Depois foi a vez do Grêmio, equipe forte e que tinha um dos artilheiros do campeonato.
E, na final, venceu o Corinthians, seu principal inimigo. O mesmo do primeiro e do último título santista, o mesmo que há pouco tempo o havia vencido com um doloroso gol aos 47min48s. E o Santos venceu o rival duas vezes. A primeira, com o cérebro, a segunda, com o coração. As duas com gols nos últimos minutos, para dar ainda mais emoção.
E o campeão teve atletas inesquecíveis. No gol teve Fábio Costa, um goleiro que matou nossa saudade de Rodolfo Rodrigues, e teve Júlio Sérgio, que foi seguro e eficiente durante todo o torneio.
Na zaga, teve Maurinho, que parece meio corcunda, mas, na verdade, é aerodinâmico. Teve Michel, que superou uma suspensão injusta e deu a volta por cima. Teve André Luís, que estava marcado pela derrota para o Corinthians nas semifinais do Campeonato Paulista do ano passado e agora está marcado pela vitória. Teve Preto, um Gamarra de ébano. Teve o firme Pereira. Teve Alex, o melhor zagueiro do campeonato. E teve Léo, que fez gols nas horas em que o time mais precisava.
No meio-de-campo, teve Paulo Almeida, o onipresente volante que está em todas as partes do campo. Teve Renato, o homem de veludo, aquele que marca sem deixar marcas. Teve Alexandre, que joga sorrindo. Teve Elano, um espartano. Teve Diego, um pequeno gênio que ainda será grande.
No ataque, teve Alberto, o melhor grosso do mundo. E teve Robinho, o saci de duas pernas.
Esses garotos maduros foram liderados por Leão, técnico que parecia estar se especializando em montar times bons-mas-não-muito, mas que agora criou um esquema voltado para o ataque, para a alegria. Leão perdeu o ar sisudo, militar, e ficou mais leve.
Mas o Santos ainda teve ao seu lado a torcida, uma torcida que soube ter paciência com um time de garotos, uma torcida que agora vai poder virar suas faixas e seu queixo para cima, uma torcida que agora pode olhar no espelho e dizer: "Sou campeão!".

Corinthians
O Corinthians jogou muito bem. Perdeu, mas Gil, Kléber e cia. mostraram um futebol inteligente e aplicado. Desta vez, percebendo que por baixo não teria grandes resultados, o time usou e abusou do jogo aéreo. Disso resultaram as muitas defesas de Fábio Costa e os gols de Deivid e Anderson.

Brasileiro-2003
E a proposta da Globo para o torneio do próximo ano me parece pouco inteligente. Ele pretende ter turno e returno e depois um mata-mata com os quatro finalistas. Acho que vai unir o pior dos dois modelos. Na primeira parte, não terá tanta audiência, pois os jogos não valem tanto. E a segunda, onde se recuperaria, será curta. Creio que o melhor, até para a audiência, é fazer turno e returno que valham mesmo algo, para que o público assista aos jogos, ou manter tudo como está.

E-mail torero@uol.com.br


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