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JUCA KFOURI
Ronaldinho, o extraterrestre
Só há uma explicação para deixar alguém como ele no banco de reservas: avareza, egoísmo. Ou então cegueira
RONALDINHO GAÚCHO não é
mesmo jogador para a seleção brasileira. Nem para a espanhola, a argentina, a italiana ou a
alemã.
Quem sabe seja para a seleção de
Marte. Ou de Vênus, que perdeu os
dedos e ficou com os anéis.
Porque os dedos o planeta deixou
para o responsável pela seleção brasileira explicar as razões de sua ausência no time do Brasil.
E haja dedos, hein, Dunga?
É bem provável que você leia estas
mal traçadas já depois do jogo entre
Barcelona e Inter.
Se Ronaldinho Gaúcho tiver feito
a metade do que fez diante do América, sempre haverá alguém para dizer que ele é mesmo um jogador de
clube.
E para perguntar, com ar perplexo
para disfarçar a pouca imaginação,
ou inteligência, por que ele não joga
assim na seleção.
Se, ao contrário, ele não tiver ido
bem, dirão que, definitivamente,
não é jogador de decisão.
Digam o que disserem, amanhã,
ao que tudo indica, Ronaldinho será
aclamado pela terceira vez seguida
como o melhor jogador do mundo.
E a pergunta sobre os motivos que
o levam ao banco de reservas da seleção brasileira ganhará mais força.
A resposta é simples e não invalida
tudo de bom que Dunga vem fazendo como técnico da CBF.
Porque quem viu Ronaldinho participar do primeiro gol contra os mexicanos com um toque desconcertante de calcanhar, quem o viu marcar o terceiro gol, quem o viu passar
para Deco marcar o quarto e quem o
viu se livrar de três adversários e
mandar por cobertura a bola ao travessão sabe que o problema não é de
quem viu.
É de quem não vê.
Ora, se um técnico de futebol não
é capaz de fazer com que o melhor
jogador do mundo jogue o melhor
futebol do mundo no seu time, o
problema não é do jogador nem do
torcedor. É do técnico, só dele, que,
em nome do esporte que o abriga,
deve reconhecer sua incapacidade,
pedir seu boné e ir embora, não sem
antes marcar hora no oculista.
E não é verdade que o Barcelona
joga para Ronaldinho, algo impossível numa seleção pentacampeã
mundial, embora ela mesma já tenha jogado, quando ganhou o tetra,
para Romário.
O Barça não joga para Ronaldinho. Ronaldinho é que joga para o
Barça, que o digam os embasbacados mexicanos.
O que ele fez na última quinta-feira foi um recital em homenagem à
bola, com requintes coletivos que
lembraram a maravilhosa exibição
da seleção brasileira diante dos argentinos na decisão da Copa das
Confederações.
Mas na Copa da Alemanha...
Pois é. Cada vez fico mais convencido de que a razão de sua apatia foi
mesmo o esgotamento físico e mental que o pegou de jeito na Copa do
Mundo.
A exemplo do que já tinha acontecido tanto com Zidane como com
Verón, na Copa de 2002, então os
dois maiores candidatos ao brilho e
que chegaram à Ásia mortos.
Este domingo me pega dividido.
Entre torcer para que o Inter tenha
descoberto um meio de pará-lo sem
ser a tiros ou bordoadas e a vontade
de vê-lo desfilar seu imenso talento.
Vê-lo sorrir outra vez, como sorriu
na quinta-feira, diferentemente dos
jogos pela Copa do Mundo.
Porque quem gosta de futebol, e
de ganhar, não pode deixar de aplaudir este extraterrestre que está a exigir uma intervenção dura da Branca
de Neve, sob o risco de ela perder o
comando sobre seus anões.
Só há uma explicação aceitável para deixar Ronaldinho Gaúcho no
banco: avareza, egoísmo, preservação de uma jóia tão rara que seu dono teme expor e prefere guardar só
para si. Mesmo que isso lhe custe,
além dos dedos, o pescoço.
blogdojuca@uol.com.br
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