São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Armstrong faz de sua volta jogo de xadrez


Ciclista diz aceitar ser coadjuvante, mas exalta sua melhor forma física

Sete vezes campeão da Volta da França, americano põe corpo e mente à prova para, aos 37 anos, voltar a vencer e provar estar livre de doping

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Lance Armstrong, 37, encara uma corrida como um jogo de xadrez. Gasta energia de forma precisa e controlada e ataca só quando sabe que vai ganhar. Na maior parte das provas, come poeira do pelotão da frente, administra vantagens, é frio.
Foi assim que o americano construiu sua vitoriosa história sobre o selim da bicicleta. Biografia recheada de incríveis superações e muitas dúvidas.
Como ele pôde, após enfrentar um câncer agressivo, vencer sete vezes a Volta da França? Doping, dizem críticos. Dedicação, cravam admiradores.
Seja qual for a explicação, as duas teorias ganham novos argumentos a partir de hoje. Após três anos parado, o norte-americano volta a competir e, talvez como nunca antes, testa sua capacidade de comer poeira.
Armstrong escolheu retornar aos pedais ao lado de seu antigo treinador, Johan Bruyneel. Diz ser tão leal a ele que jamais poderia ser seu rival.
Para evitar o confronto, no entanto, ganhou um adversário na própria equipe. Alberto Contador, vencedor da Volta de 2007, é o astro da Astana.
Armstrong já declarou que "sem dúvida" poderia correr para ajudar Contador a vencer. Mas o discurso resignado não combina com seu perfil.
Quando o ex-rival Floyd Landis, punido por doping, decidiu correr de mountain bike, no ano seguinte o americano disputava a mesma prova. Durante a aposentadoria, Armstrong se dedicou à maratona, mesma paixão de sua ex-mulher, que corre e escreve sobre corridas.
Para muitos, o egocentrismo é um dos mais gritantes defeitos do ciclista americano.
"Os testes que eu fiz na bicicleta, na estrada ou no laboratório indicam que meu físico é muito melhor do que eu já ostentei nos anos em que estava ganhando o Tour [da França]", disse ele na semana passada.
Se voltar a pedalar como antes, o ciclista deve encarar dúvidas ainda mais vorazes sobre o uso de doping. Existe a suspeita de que ele foi flagrado com EPO (que melhora a oxigenação do sangue) em 1999, ano de sua primeira vitória na Volta.
Armstrong nega e afirma ter sido testado um sem-número de vezes desde então.
O doping seria a explicação para desempenhos tão surpreendentes de quem enfrentou um câncer três anos antes de subir ao pódio francês.
Segundo o fisiologista que começou a trabalhar com ele em 1992, porém, o segredo de Armstrong é muito treino e um corpo capaz de se transformar. Edward Coyle, da Universidade do Texas, diz que o americano conseguiu alterar suas células musculares e, com isso, pôde se transformar de velocista em atleta de resistência.
Armstrong larga hoje em Adelaide (AUS) para o prólogo do Tour Down Under, batizado de Cancer Council Classic.
A luta contra a doença, diz ele, é o motivo de sua volta. Sua fundação já espalhou milhões de pulseiras amarelas pelo mundo e juntou mais de US$ 250 milhões para o combate ao câncer. "Para mim, não é mais um desafio esportivo ou financeiro, nem qualquer outra coisa. Voltei como voluntário e estou aqui por amor à bicicleta e por paixão a uma causa", diz.
Desde que anunciou seu retorno, Armstrong atraiu holofotes e mostrou que seu status de popstar continua intocado. Resta mostrar que continua o mesmo em cima da bicicleta.


Com agências internacionais


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