São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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GINÁSTICA

Na competição que marca a estréia do código de pontuação e o fim da nota 10, atletas do país lutam para se situar

Brasil vai à Copa em busca de novo limite

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de hoje, em Lyon, a ginástica artística assiste a uma nova era. Tudo porque a etapa da Copa do Mundo na França estréia o código de pontuação em torneios da federação internacional.
Agora, em vez da tão sonhada nota 10, adotada desde a Olimpíada na Antuérpia, em 1920, o público terá que se acostumar a ver os ginastas receberem 14,925, 15,075, 16,03 e 16,5. A avaliação máxima e praticamente inalcansável estima-se que seja 20.
Os primeiros do país a testarem o novo sistema na Europa serão Laís Souza, Diego Hypólito e Luiz Augusto dos Anjos. Sem Daiane do Santos, que contundiu o cotovelo em treino na última semana, e Daniele Hypólito, recém-recuperada de uma lesão no ombro, os brasileiros buscam novos limites.
"Ficou mais rigoroso. Mas foi mantida a máxima de que não podemos errar. Irá separar atletas bons dos excelentes. Não há mais limite, o 10. O problema é que ninguém tem idéia de qual pode ser a nota mais alta", diz Laís, a única brasileira que atuou no novo código, nos EUA -ficou em quarto.
Mudança mais significativa, a nota final de cada ginasta será a soma de dois quesitos: 1) dificuldade dos exercícios e 2) execução.
O primeiro qualifica cada movimento de A (0,1 ponto) a G (0,7 ponto) e soma os dez de maior grau de dificuldade. Por isso, hoje, na prática, é impossível alcançar um 10 no quesito. "Simulei uma série de solo com tudo o que de mais difícil existe. Obtive no máximo 7,5 nesse ponto", diz Eliane Martins, supervisora da Confederação Brasileira de Ginástica.
No segundo critério, o atleta abre a série com dez pontos e vai sofrendo desconto a cada falha. Para manter o 10, é preciso que seja impecável, o que é improvável.
Para exemplificar, caso tire um 5,8 de dificuldade e 9,6 de execução, o atleta terá nota final 15,4.
A Federação Internacional de Ginástica diz que a mudança ajudará os atletas. "É uma evolução. O antigo código estava obsoleto", afirma Nellie Kim, presidente do Comitê Técnico da FIG e dona de nota 10 na Olimpíada de 76.
Mas a evolução divide opiniões. A China, por exemplo, festeja o código, que nasceu após os torcedores vaiarem muito algumas notas nos Jogos de Atenas-2004.
"É um novo começo. Quem tinha desvantagem, apesar de fazer movimentos difíceis, será favorito. A Daiane, por exemplo, será beneficiada", diz o técnico Chen Xiong, que via alguns de seus atletas executarem acrobacias que, segundo ele, não eram avaliadas por não constarem no código.
Na contramão, países de pouca tradição, como Taiwan, avaliam que será ampliado o fosso que os separa das potências da ginástica.
E o temor deve-se ao rigor das punições. Antes, por exemplo, exceder o limite da área de solo tirava 0,1 ponto. Agora, é 0,5. A queda, que valia -0,5, irá subtrair 0,8.
"Não temos o parâmetro da nota mais alta. No solo, posso tirar 16,40, sem erros. Mas não sei até onde será possível ir", diz Diego.
Em dois pontos, atletas e dirigentes fazem coro: os árbitros, que poderão usar o vídeo, dobrarão suas tarefas e o público penará até compreender as notas.
"É tanta coisa que ficou difícil dar a nota em 40s. E aumentou a subjetividade. Antes, uma banca de europeus julgando atletas daquele continente contra asiáticos ou latinos, na dúvida entre descontar 0,1 ou 0,2, era previsível o que prevalecia. Só que esse desconto tende a virar 0,5, 0,8", diz Alice Tanabe, presidente do Comitê Técnico da CBG. "E o público, que tinha ciência se a nota era boa, só saberá no final da prova."
Outro temor é o de que a busca por elementos mais ousados faça com que os atletas se arrisquem mais. "A mudança quer que seja feito pouco e bem-feito, não que se tente malabarismo de circo e se machuque", diz Philippe Silacci, diretor de comunicação da FIG.
Em Lyon, além dos brasileiros, outros 140 atletas de 41 países estarão testando as regras na etapa da Copa, que acaba amanhã, quando serão realizadas as finais.


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