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GINÁSTICA
Na competição que marca a estréia do código de pontuação e o fim da nota 10, atletas do país lutam para se situar
Brasil vai à Copa em busca de novo limite
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de hoje, em Lyon, a ginástica artística assiste a uma nova era. Tudo porque a etapa da
Copa do Mundo na França estréia
o código de pontuação em torneios da federação internacional.
Agora, em vez da tão sonhada
nota 10, adotada desde a Olimpíada na Antuérpia, em 1920, o público terá que se acostumar a ver
os ginastas receberem 14,925,
15,075, 16,03 e 16,5. A avaliação
máxima e praticamente inalcansável estima-se que seja 20.
Os primeiros do país a testarem
o novo sistema na Europa serão
Laís Souza, Diego Hypólito e Luiz
Augusto dos Anjos. Sem Daiane
do Santos, que contundiu o cotovelo em treino na última semana,
e Daniele Hypólito, recém-recuperada de uma lesão no ombro, os
brasileiros buscam novos limites.
"Ficou mais rigoroso. Mas foi
mantida a máxima de que não podemos errar. Irá separar atletas
bons dos excelentes. Não há mais
limite, o 10. O problema é que ninguém tem idéia de qual pode ser a
nota mais alta", diz Laís, a única
brasileira que atuou no novo código, nos EUA -ficou em quarto.
Mudança mais significativa, a
nota final de cada ginasta será a
soma de dois quesitos: 1) dificuldade dos exercícios e 2) execução.
O primeiro qualifica cada movimento de A (0,1 ponto) a G (0,7
ponto) e soma os dez de maior
grau de dificuldade. Por isso, hoje,
na prática, é impossível alcançar
um 10 no quesito. "Simulei uma
série de solo com tudo o que de
mais difícil existe. Obtive no máximo 7,5 nesse ponto", diz Eliane
Martins, supervisora da Confederação Brasileira de Ginástica.
No segundo critério, o atleta
abre a série com dez pontos e vai
sofrendo desconto a cada falha.
Para manter o 10, é preciso que seja impecável, o que é improvável.
Para exemplificar, caso tire um
5,8 de dificuldade e 9,6 de execução, o atleta terá nota final 15,4.
A Federação Internacional de
Ginástica diz que a mudança ajudará os atletas. "É uma evolução.
O antigo código estava obsoleto",
afirma Nellie Kim, presidente do
Comitê Técnico da FIG e dona de
nota 10 na Olimpíada de 76.
Mas a evolução divide opiniões.
A China, por exemplo, festeja o
código, que nasceu após os torcedores vaiarem muito algumas notas nos Jogos de Atenas-2004.
"É um novo começo. Quem tinha desvantagem, apesar de fazer
movimentos difíceis, será favorito. A Daiane, por exemplo, será
beneficiada", diz o técnico Chen
Xiong, que via alguns de seus atletas executarem acrobacias que,
segundo ele, não eram avaliadas
por não constarem no código.
Na contramão, países de pouca
tradição, como Taiwan, avaliam
que será ampliado o fosso que os
separa das potências da ginástica.
E o temor deve-se ao rigor das
punições. Antes, por exemplo, exceder o limite da área de solo tirava 0,1 ponto. Agora, é 0,5. A queda, que valia -0,5, irá subtrair 0,8.
"Não temos o parâmetro da nota mais alta. No solo, posso tirar
16,40, sem erros. Mas não sei até
onde será possível ir", diz Diego.
Em dois pontos, atletas e dirigentes fazem coro: os árbitros,
que poderão usar o vídeo, dobrarão suas tarefas e o público penará
até compreender as notas.
"É tanta coisa que ficou difícil
dar a nota em 40s. E aumentou a
subjetividade. Antes, uma banca
de europeus julgando atletas daquele continente contra asiáticos
ou latinos, na dúvida entre descontar 0,1 ou 0,2, era previsível o
que prevalecia. Só que esse desconto tende a virar 0,5, 0,8", diz
Alice Tanabe, presidente do Comitê Técnico da CBG. "E o público, que tinha ciência se a nota era
boa, só saberá no final da prova."
Outro temor é o de que a busca
por elementos mais ousados faça
com que os atletas se arrisquem
mais. "A mudança quer que seja
feito pouco e bem-feito, não que
se tente malabarismo de circo e se
machuque", diz Philippe Silacci,
diretor de comunicação da FIG.
Em Lyon, além dos brasileiros,
outros 140 atletas de 41 países estarão testando as regras na etapa
da Copa, que acaba amanhã,
quando serão realizadas as finais.
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